Aumentam buscas no Google sobre menstruação; conhecer o próprio ciclo é importante para perceber problemas

Registrar e entender o ciclo menstrual e alterações de humor é um caminho para se conhecer e encontrar o ponto de normalidade individual

Menstruar faz parte da rotina da maioria das mulheres todos os meses, mas ainda está longe de ser um tema confortável. Não discutir sobre o assunto com outras mulheres e nem com especialistas pode proporcionar prejuízos na vida social e até familiar. Mas a passos lentos, isso parece estar mudando. E buscar entender sobre o próprio corpo e seus processos é o primeiro passo. De janeiro a outubro deste ano, mais mulheres usaram o Google para saber “quando a menstruação é normal”. A pesquisa subiu 58%, em comparação com o mesmo período.

Em julho deste ano, a busca atingiu seu pico: 100 pontos, enquanto isso, no mesmo mês do ano anterior, foram 40. Mas a procura foi constante, março e agosto quase chegaram nesse índice recorde, com 99 pontos, e os valores nunca chegaram a zero, enquanto em 2019 isso aconteceu. Ou seja, mais mulheres estão querendo saber sobre o próprio ciclo e esclarecer dúvidas. Isso, segundo Laryssa Portela, médica ginecologista e cirurgiã Ginecológica da MEAC, é um ponto extremamente positivo.

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“Com certeza, é importante que as mulheres tenham esse auto conhecimento. Hoje, cada dia mais, os ginecologistas procuram orientar que essas mulheres busquem formas de registrar as características de sintomas, de ciclos, de fluxo. [...] É importante ter esse conhecimento sobre oscilações de humor, de características vaginais e de ciclo menstrual”, afirma ela. A ginecologista dá a dica de fazer isso de forma eletrônica, e bem mais fácil, por meio de aplicativos. (Confira algumas opções no final da matéria)

O objetivo, segundo ela, é além de trazer isso para a conversa de consultório, saber quando há mudanças significativas que podem indicar problemas. Ela explica que o ideal não é criar parâmetros, por exemplo, que todas devem menstruar por determinado tempo, mas entender que cada uma tem seu “normal”, e a partir disso é que se pode perceber alterações. A médica exemplifica: se uma mulher todos os meses sangra por três dias e de repente ela passa a menstruar por sete dias, isso pode ser um alerta, porque não é o habitual dela.

“Em teoria, existe uma quantificação de dias que varia entre três e oito dias de fluxo, que nós consideramos normal, mas a gente não pode generalizar e considerar que uma mulher que sempre teve um fluxo de três dias e passa para sete dias. [...] Mesmo estando dentro dos padrões de “normalidade”, para ela é anormal”, afirma a Portela. O mesmo vale para a quantidade. O fluxo deve estar entre 30 a 100 ml por dia, mas também varia de corpo para corpo, alguns desde a menarca -primeira menstruação- com menor volume, enquanto outras sempre tiveram mais. “ A normalidade para a mulher é o que sempre foi habitual para ela”, ressaltou.

Daí a importância de se conhecer e procurar atendimento médico com alterações bruscas nos parâmetros. Não só físicos, mas também de humor. A exemplo de quem tinha poucos sintomas de Tensão Pré Menstrual (TPM) e passou a sentir as mudanças. Com destaque especial, para casos mais graves, com o surgimento da Síndrome Disfórica, com mudanças que chegam a prejudicar a execução de atividades cotidianas.

Mas sangrar demais não é normal

Mesmo com essa possibilidade de variação, não é normal sangrar tanto. As características, de um fluxo intenso demais associado de dores, podem estar relacionadas ao Sangramento Uterino Anormal (SUA), condição pouco comentada que atinge uma a cada três mulheres em algum momento da vida, de acordo com a Federação Internacional de Ginecologia e Obstetrícia (FIGO).

O diagnóstico é feito com estudo clínico do histórico da paciente, daí a importância de acompanhar o ciclo. Outros fatores como mudança nas características da pele ou alterações na quantidade de pelos. A partir daí começa a investigação da causa dessa condição.

Entre as possibilidades estão problemas relacionados ao útero, por exemplo, miomas, pólipos ou adenomiose ou câncer. Bem como problemas relacionados a hormônios do ciclo menstrual, com desequilíbrio hormonal em mulheres, relacionados a alterações hormonais, como acne, excesso de pelos faciais ou corporais e dificuldades para engravidar.

E conversar sobre tanto para o diagnóstico quanto para o tratamento é o caminho. "Quando a mulher tem Sangramento Uterino Anormal, ela precisa ser bem conversada para que as hipóteses diagnósticas sejam bem construídas e daí surgir a necessidade de exames complementares", explica Portela. Existe uma variedade de tratamentos, que segundo Portela variam de acordo com a causa do problema como o acesso da paciente aos produtos. Entre eles, anti-inflamatórios, pílulas anticoncepcionais, sistema intrauterino, o DIU Hormonal ou cirúrgicas.

Mas perceber e levar isso para o consultório ainda esbarra no preconceito. Segundo um levantamento feito pela farmacêutica Bayer há uma demora de cerca de três anos desde os primeiros sintomas até que a mulher discuta o assunto com um médico. E mais 80% das mulheres se preocupam com possíveis acidentes relacionados à menstruação e 70% evitam atividades, entre elas exercícios físicos, devido ao fluxo intenso — duas em cada três mulheres relataram ter passado por experiências “embaraçosas”.

Segundo Laryssa Portela, não falar sobre e o certo embaraço em comentar sobre o tema é parte de uma cultura machista e patriarcal que podava as mulheres até de falar sobre sua intimidade e sobre seus sentimentos. “Podava a mulher de falar, de se expressar, de sentir prazer. Então a mulher tinha que ser muito recatada, não falar de suas intimidades, não se expor”, comenta ela. Entretanto, a médica ressalta que essa educação vem mudando, junto da mentalidade sobre a posição social da mulher. “A gente conseguindo mostrar que somos força de trabalho, somos força de pensamento e criatividade. Que também temos força e expressão sexual e em todos os âmbitos”, ressaltou.

Dor e isolamento

Para muitas mulheres, sentir dores durante o período pode parecer normal, algo que faz parte do processo, mas é não bem assim. Além das mudanças de humor, outros sintomas inflamatórios (que causam as dores) associados ao ciclo menstrual devem ser levados ao consultório. Elas podem aparecer por: cólica, ao ter relação sexual, ir ao banheiro (urina ou fezes) ou na parte lombar do corpo, com dor pélvica crônica. Apresentar esses sinais pode significar alguns distúrbios ou condições como endometriose.

O ponto que a ginecologista ressalta é que viver com dor, além do desconforto, vai afastando as mulheres do convívio social, o que pode ter prejuízo psicológicos com o sentimento de isolamento.

Confira como acompanhar sua menstruação com aplicativos:

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