Câncer de pele: cuidados com sol precisam fazer parte da rotina e começar ainda na infância
No Brasil, o Instituto do Câncer estima 85.170 casos novos de câncer de pele não melanoma entre homens e 80.410 nas mulheres para cada ano entre 2018 e 2019
14:57 | Dez. 04, 2020
Uma manchinha que surge e vai mudando de cor. Uma feridinha que nunca cicatriza e até sangra. Algo que aparece na pele, mas mesmo depois de passar uma pomada -sem consulta médica- não melhora. O caso pode ser câncer de pele, o tipo mais frequente da multiplicação de células sem controle. O Dezembro Laranja reacende a conscientização sobre a doença, que diferente da campanha, pode acontecer o ano todo, principalmente em locais com muita iluminação solar. Segundo especialistas, o cuidado deve fazer parte da rotina e começar ainda na infância.
O câncer de pele responde por 33% de todos os diagnósticos de câncer no Brasil, registrando, a cada ano, cerca de 185 mil novos casos, segundo o Instituto Nacional do Câncer (INCA). Desse total, a maioria é do tipo não melanoma, que tem letalidade baixa, mas uma frequência bem alta, com 177 mil novos casos da doença por ano. Seu surgimento é mais comum em regiões expostas ao sol, como face, orelhas, pescoço, couro cabeludo, ombros e costas. Mais raro e letal, o melanoma é o tipo mais agressivo de câncer da pele e registra 8,4 mil casos anualmente.
Em ambos os casos, os sintomas são pintas ou manchas na pele, que podem mudar de coloração. Além disso, feridas que nunca saram ou casquinhas. O alerta é que o câncer pode surgir de locais não tão visíveis ou mesmo de forma intracutânea, o que pode prejudicar que o paciente sequer note alguma alteração. Cânceres do tipo melanoma podem se desenvolver no olho, no intestino ou até na vagina, ou onde haja qualquer "célula produtora de melanina", como explica o oncologista clínico Rafael Cruz. O alerta fica também para pessoas carecas, porque sem a proteção que os fios de cabelo proporcionam, a região fica mais exposta.
O oncologista lembra que a pele é o maior órgão do corpo e, pela extensão, tem contato com outros sistemas do organismo. Então, além de não visível, em alguns casos mais raros, ele pode se espalhar silenciosamente. “Como todo os outros cânceres, ele se desenvolve no local e vai começando a ser invasivo. Ele vai invadido aqueles tecidos e estruturas próximas. Uma célula cancerosa, alguma micrometástase cai na corrente sanguínea ou entra nos dutos linfáticos e se multiplica. O tipo melanoma tem um altíssimo poder de disseminação”, ressalta ele.
De forma geral, entretanto, segundo a Sociedade Brasileira de Dermatologia, os sinais podem ser:
-Uma lesão na pele de aparência elevada e brilhante, translúcida, avermelhada, castanha, rósea ou multicolorida, com crosta central e que sangra facilmente;
-Uma pinta preta ou castanha que muda sua cor, textura, torna-se irregular nas bordas e cresce de tamanho;
-Uma mancha ou ferida que não cicatriza, que continua a crescer apresentando coceira, crostas, erosões ou sangramento.
O médico explica que o ideal é que seja feita uma consulta ao dermatologista, pelo menos uma vez ao ano, para que haja uma avaliação profissional, bem como um possível diagnóstico, em casos da doença. Postergar essa ida pode prejudicar o tratamento, alerta ele, porque chegar em um estágio mais avançado dificulta o tratamento. Para ele, homens, na maioria dos casos, demoram mais a procurar ajuda e, geralmente, vão a pedido de familiares, não no desejo de procurar atendimento.
Além disso, com experiência no cenário público e privado, entre casos e casos, Cruz avalia que, pelo Sistema Único de Saúde (SUS), os pacientes tendem a chegar com a doença mais avançada pela demora na marcação de especialistas. Entretanto, ele aponta que, mesmo com o acesso mais rápido na rede particular, alguns pacientes acabam sendo relapsos com a própria saúde. “Ficam esperando que a lesão se cure, fica passando uma pomadinha, que até pode dar um certo controle da doença, mas em outros pontos do organismo a doença está se disseminando”, ressalta.
O sol não é só vilão
No centro das cartilhas sobre câncer de pele, a exposição prolongada e repetida ao sol, raios ultravioletas, ou chamados UV, principalmente desde a infância e adolescência, está entre os fatores de risco. Mas não só ele merece destaque. A exposição a câmaras de bronzeamento artificial, que são proibidas no Brasil, histórico familiar ou pessoal de câncer de pele, além do fato de a pessoa ter a pele e olhos claros, podem aumentar o risco do aparecimento da doença.
Nesse sentido, surge a pergunta: se o risco é maior em pessoas brancas ou albinas, pessoas negras então não são afetadas pela doença? A resposta é não. O oncologista clínico Rafael Cruz explica que qualquer pessoa pode ter a doença, a diferença é a frequência com que acontece. As recomendação de proteção são para todos. "A coloração da pele negra fornece um certo benefício nessa questão do desenvolvimento do câncer de pele, ela tem uma certa proteção. A gente vê até que o câncer de pele em pessoas negras, geralmente, aparece em regiões menos pigmentadas como palmas das mãos e dos pés”, comenta ele.
Em uma região com muita iluminação solar, o ano quase todo, e que muitas atividades de diversão são feitas ao ar livre, as pessoas não precisam se esquivar do sol, o problema é o excesso. “O sol melhora a autoestima, ele traz luz para vida do ser o humano, então o sol é importante, é uma fonte de energia para nós. Mas com o devido cuidado”, explica a Hercilia Queiroz, médica dermatologista.
A recomendação, segundo ela, é a aplicação do protetor solar, pelo menos duas vezes ao dia, uma aplicação pela manhã e outras próximo do horário do almoço, bem como o uso de chapéus, camisetas e óculos escuros. O indicado é evitar a exposição solar e permanecer na sombra, no Ceará, pela inclinação geográfica, entre às 9 horas às 15 horas.
Hábito regular
E esse cuidado não precisa ser tratado como sacrifício, pode ser inserido na rotina, principalmente desde a infância, porque é mais fácil ir colocando no dia a dia. A dermatologista comenta sobre como essa proteção contra o sol foi se adaptando e, hoje, há no mercado roupas específicas para bloquear os raios UV, além de uma variedade de protetores solares, com benefícios até estéticos.
"Ache um filtro solar para chamar de seu. Se o paciente não se adaptou, a gente testa outro. Tá incomodando? A gente troca. O importante é não desistir", diz Hercilia Queiroz. Além dos hábitos pessoais de cuidado com a pele, a médica aponta que é preciso repensar o lado social e lembrar que existem outras formas de diversão e de como aproveitar o clima cearense, sem tanta exposição ao sol. "Lazer é só ir à praia? Por que não ir dar um passeio no final da tarde? Ir em um local aberto no finalzinho da tarde", acrescenta ela.
Dossiê do câncer de pele
Fatores de risco
Exposição prolongada e repetida ao sol (raios ultravioletas - UV), principalmente na infância e adolescência;
Exposição a câmaras de bronzeamento artificial;
Ter pele e olhos claros ou ser albino. Entretanto, todos as colorações de pele estão sujeitas ao desenvolvimento da doença;
Ter história familiar ou pessoal de câncer de pele;
Sintomas e sinais
O melanoma pode surgir na pele normal ou a partir de uma lesão pigmentada. A manifestação da doença na pele normal se dá após o aparecimento de uma pinta escura de bordas irregulares acompanhada de coceira e descamação.
Em casos de uma lesão pigmentada pré-existente ocorre aumento no tamanho, alteração na coloração e na forma da lesão, que passa a apresentar bordas irregulares.
Como é feito o diagnóstico
O diagnóstico normalmente é feito pelo dermatologista, por meio de um exame clínico.
Em algumas situações, é necessário que o especialista utilize a dermatoscopia, exame no qual se usa um aparelho que permite visualizar algumas camadas da pele não vistas a olho nu. Alguns casos exigem um exame invasivo, que é a biópsia.
Tratamento
A cirurgia é o tratamento mais indicado. A radioterapia e a quimioterapia também podem ser utilizadas, geralmente, quando estágio do câncer é mais avançado. Quando há metástase (o câncer já se espalhou para outros órgãos), o melanoma são aplicadas estratégia de tratamento para a doença avançada como quimioterapia e radioterapia.
Fonte: Instituto Brasileiro do Câncer