Entre gemidos e comparações, o que os brasileiros gostam e o que não gostam de ouvir durante o sexo?

O som é uma das interações que causam a gostosa excitação sexual. Pesquisa mostra o silêncio como o "barulho" mais temido durante o sexo, enquanto o "não para" é o melhor para chegar até ao orgasmo entre eles e elas

14:36 | Set. 17, 2020

Por: Marília Freitas
Estimulante, o som é referência importante durante o sexo. (foto: Cottonbro/Pexels)

O som é presença cotidiana na nossa vida e no sexo ele também não poderia ficar de fora. A interação com barulhos é comum e causa aquele arrepio gostoso quando pensamos na pessoa especial ou ouvimos algo que nos excita. Pesquisa divulgada pela equipe do blog VivaLocal conversou com mais de 700 pessoas e revelou quais os barulhos que brasileiros e brasileiras mais gostam de ouvir durante o ato - e quais também repudiam.

O gemido é paixão nacional, favorito por 34% das mulheres e 32% dos homens. A sexóloga Zenilce Bruno explica que mais do que ouvir, o som no sexo explicita o que estamos sentindo. Respiração, conversas eróticas, palavrões, gritos, grunhidos e silêncio são, nessa sequência, os preferidos entre eles e elas.

Isso não significa que o parceiro ou a parceira deve fingir o gemido ou outro tipo de som enquanto transa para transmitir a sensação de prazer. A prática, inclusive, pode ser um reflexo negativo para a vida em casal.

A terapeuta exemplifica casos de mulheres heterossexuais ou bissexuais que nunca tiveram um orgasmo enquanto transavam com um parceiro e, 'para não frustrá-lo', fingiam a excitação através de gemidos e sons - prática comum em filmes pornográficos. "Algumas pessoas ficam extremamente estressadas e perdem totalmente o tesão pois não acham que aquilo é normal, que é fingimento", explica a sexóloga.

Mesmo o barulhinho sendo o favorito entre eles e elas, homens ainda trazem consigo a sensação de retração devido a uma pressão social de gênero, em relações heterossexuais. A imposição de ser perfeito e inabalável pode trazer o gemido como uma sensação de fraqueza para alguns deles. Zenilce explica que por muitas vezes, os homens começam a vida sexual sem ao menos estarem interessados em alguém e nutrem ali um relacionamento desinteressante para ambos os envolvidos.

A pesquisa do blog VivaLocal ainda traz o silêncio como barulho (ou ausência dele) mais temido na hora H. "O silêncio faz com que a pessoa imagine que o outro não está presente", explica Zenilce. Para tentar quebrar isso, uma das táticas é o uso daquela música especial que pega tanto e traz um clima gostoso. "Por isso que novela faz tanto sucesso!", brinca a terapeuta ao referir-se às trilhas sonoras com temas melancólicos de casais.

Seguido da ausência do som, estão presentes os gritos, palavrões, grunhidos, gemidos, conversas eróticas e respiração como os menos favoritos pelo público brasileiro. Zenilce avalia uma performance masculina durante o ato sexual.

"O homem é educado para ser um garanhão e tem a noção de que não precisa fazer muita coisa, basta estar presente. Já a mulher é o contrário, ela acha que tem que seduzir, conquistar, para ela ter aquele cara (quando se trata de relacionamentos heterossexuais). Então ela usa diversos artifícios, dentre eles o gemido e a respiração, porque aquela mulher quer estimular o homem a continuar a relação e achar que ele é bom de cama", conta.

Por não existir um diálogo sobre o que o outro gosta na hora H, isso novamente pode influenciar negativamente o casal. "Não é isso que é importante no ato sexual. O que importa é as pessoas se juntarem, se unirem e sentirem o corpo, o cheiro, o som".

Os palavrões não agradam mais para elas do que para eles devido à relação com o filme pornográfico. "O homem acaba usando porque ele vê mais filme pornô e eles usam expressões que desestimulam totalmente a mulher", explica Zenilce. Ao consumir o conteúdo, nasce uma referência sexual que muitas vezes não é real. "Algumas gostam, claro. Mas é uma violência dos dois corpos e não a violência de um só".

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A relação social de gênero também é presente nos medos sexuais do brasileiro, incluindo as piores coisas para ouvir na cama durante a relação sexual. Enquanto os homens temem em ouvir "Já terminou?", mulheres têm receio em ouvir: "Você lembra minha mãe ou meu pai".

"Em geral, os homens foram criados para serem perfeitos, heróis, maravilhosos... e na realidade não é assim", expõe novamente Zenilce sobre a construção de uma performance masculina no sexo. Comparar o parceiro ou a parceira com a mãe também pode não ser excitante devido à soma do recurso visual com o do som. Acontece que, ao ouvir que alguém parece com a mãe ou com o pai de uma pessoa, o outro se dá conta de que o parente não está ali, mas sim o parceiro ou a parceira sexual.

Ela ainda alerta para a possibilidade de um dos integrantes do casal ter sofrido algum tipo de trauma relacionado ao parente com o qual existe a comparação. Casos de violência sexual contra crianças e adolescentes, por exemplo. Por isso a importância do consenso e do diálogo entre eles e elas para saber o que deve e o que não deve ser feito durante o sexo.

Orgasmo

 

Mas enfim chega o momento que ambos esperam: o orgasmo. A excitação máxima causa uma sensação de relaxamento nos corpos e os conecta em um só, sendo o som um fator essencial para incentivar o prazer entre dois ou mais. 

Nos dizeres, pedidos como "não para", "oooh" e "estou quase", além dos palavrões, são os favoritos entre os brasileiros. Para Zenilce, o som emitido pelo casal é para que a outra pessoa possa saber o grau de excitação está sendo sentido. As palavras em tom imperativo e outras dicas que indicam que o casal está gostando do que está sendo feito garantem o clímax.

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Quando a relação não agradou alguma das partes, isso deve ser citado para o parceiro ou parceira. Mas não na hora do sexo e sim durante o momento mais espontâneo possível: no café da manhã, por exemplo, a lembrança pode vir à tona e o comentário também. "É muito desagradável você estar transando e ser avaliado naquele momento. A conversa sempre deve vir depois, com dicas inclusive".

Além disso, não basta elogiar o outro(a) apenas na hora do prazer. As preliminares acontecem diariamente com um abraço, um beijo ou uma pegada mais especial durante a rotina a dois. "Os homens têm a mania de achar que mulheres só gostam de preliminares na hora H. Mas não! Elogia ela de manhã, dá uma fungada no pescoço, diz que ela é gostosa", expressa a sexóloga. "Isso é o que faz com que os casais se reconheçam na hora da cama. O som é muito interessante, mas eu tenho que ter ouvido aquela voz antes".

O som deve estar síncrono com o ato sexual. A sonoridade mais safadinha deve estar em um contexto de envolvimento do casal, onde ambos devem estar conscientes sobre o momento. Não adianta estar sussurrando e olhando o telefone, por exemplo. Ele tem que vir de um conjunto, explica a especialista.

Como o som também envolve o visual, o estilo do quarto também deve ser pensado antes de expressar algum som. Fotos com momentos em família ou objetos de artefatos religiosos podem ficar em outro cômodo. "Às vezes há itens que não são afrodisíacos. Bota eles na sala, no escritório, no corredor... mas o quarto deve ser parecido com o casal", orienta.