Dia Nacional da Diabetes: um alerta que deve ser constante para uma vida saudável e um diagnóstico precoce
Manter um estilo de vida saudável, com uma boa alimentação e a prática regular de atividades físicas auxiliam não só quem já tem a doença, mas também quem deseja evitar desenvolver
13:41 | Jun. 26, 2020
Dona Mery sentia um cansaço enorme sem explicação. Com exames, descobriu ter diabetes. O diagnóstico mudou sua vida: tirou açúcar do dia a dia, diminuiu o consumo de massas, passou a comer mais verduras. Como ela, de acordo com a Sociedade Brasileira de Diabetes, no Brasil, existem mais de 13 milhões de pessoas vivendo com diabetes. O número pode ser ainda maior, porque, diferente da artesã, muitos não têm sintomas e convivem com a doença sem saber. Marcado no calendário do Ministério da Saúde, como o Dia Nacional da Diabetes, esta sexta-feira, 26, deve ser um alerta para uma vida saudável, tanto para os portadores quanto para quem não tem a condição.
Vivendo há 12 anos com o diagnóstico, a artesã Mery Severo Costa, 52, conta que precisa tomar sete comprimidos por dia para fazer o controle da glicemia e precisou fazer sacrifícios."Mudou algumas coisas na minha vida, mas o principal foi alimentação. Tive que diminuir massas, que é o mais gosto de comer", relata ela, que, até hoje, tem dificuldade também de praticar exercícios físicos, outra indicação médica. Com o tempo, Mery aprendeu a conviver com o diagnóstico e conta que raramente pede aos familiares que evitem alguma comida que gosta muito de consumir.
LEIA MAIS| Saiba como cuidar de rotina de exercícios físicos durante a quarentena
Ter descoberto a doença em idade adulta é uma característica do tipo 2, forma mais comum da doença, como explica a médica endocrinologista Ana Flávia Torquato, do Hospital das Clínicas. O tipo 2 aparece quando o organismo não consegue utilizar corretamente a insulina que produz ou não produz em quantidade suficiente para controlar a taxa de glicemia, a concentração de glicose no sangue, e gera um quadro hiperglicêmico. A glicose é um carboidrato considerado uma das principais fontes de energia para o metabolismo. A doença, nesses casos, está associada a maus hábitos de vida, ao envelhecimento, ao acúmulo de gordura intra-abdominal e à genética.
Em casos menores, existe o tipo 1, em que o o sistema imunológico ataca as próprias células beta e, assim, pouca ou nenhuma insulina é liberada para o corpo. Além desses casos, há a diabetes gestacional, e diabetes causada por descontrole de hormônios, uso de alguns remédios ou ingestão excessiva de álcool.
De toda forma, como ressalta a endocrinologista, o quadro hiperglicêmico existe. " Qualquer deficiência ou redução nos níveis de insulina ou se ela não estiver funcionando apropriadamente ocorre diabetes", afirma. Ela alerta que a doença é silenciosa e o paciente poder ter há anos e nunca saber ou sentir nada. E é aí, segundo ela, que problema se torna uma bola de neve. Segundo levantamento da Organização Mundial da Saúde (OMS), em parceria com a Organização Pan-Americana de Saúde (Paho), diabetes foi a 7º causa de mortes no mundo. Isso porque, ao longo do tempo, as consequências do não controle da diabetes vão aparecendo.
LEIA MAIS| No Ceará, 38% dos óbitos por Covid-19 tem comorbidade; idosos são as principais vítimas
Como a neuropatia diabética, que são danos nos nervos ao longo do corpo, que pode levar a amputação de membros, a retinopatia, ligada a perda perda visual, e nefropatia, perca da função dos rins. Daí a importância de um diagnóstico precoce e o tratamento constante. "O grande problema é que as pessoas demoram a começar a cuidar da diabetes, tanto porque demora o diagnóstico, como tem gente que ignora, que nega e continua vivendo normal, faz algum teste de glicemia dá alterado e depois abandona o tratamento", ressalta a médica.
Com a pandemia do Covid-19, o risco de se ter diabetes ficou ainda mais escarado. Tem sido visto por profissionais e pesquisas que existe uma relação bidirecional entre Covid-19 e diabetes. Tanto pacientes com diabetes apresentaram casos mais graves da doença como pacientes infectados com o novo coronavírus também apresentam níveis altos de glicemia. Nesse período de isolamento social, em que alimentação pode ficar mais desregulada pode haver o comprometimento de organismos saudáveis.
Uma vida de equilíbrio
Se engana quem pensa que o grande vilão a ser combatido na diabetes é apenas o doce. Gordura trans, presente em alimentos como biscoitos, produtos assados, margarinas e congelados.Carboidratos de determinadas famílias. Todos podem contribuir para o aumento da glicemia.
O tratamento deve ser pautado na mudança do estilo de vida, com práticas de atividade física, controle de peso e adoção de um padrão alimentar saudável, além do tratamento medicamentoso. Tudo é na base do equilíbrio. "Ter diabetes não é sinônimo de restrição, mas sim, de disciplina quanto as escolhas alimentares, em que é possível ingerir todos os alimentos de acordo com seus limites Uma refeição saudável significa, geralmente, a mesma coisa para uma pessoa com diabetes e uma pessoa sem diabetes", a explica nutricionista clínica e esportiva, Thaís Lima.
Segundo ela, é importante ficar atento aos rótulos, preferindo carboidratos simples: cereais integrais como arroz integral, macarrão integral, além de incluir fibras na alimentação como aveia, chia, linhaça. As fibras contribuem para o funcionamento intestinal adequado e ajudam no controle da glicemia, dos níveis de colesterol e podem ser aliadas da dieta.
Balancear a alimentação pode até ajudar nas contas no final do mês. Comida ‘dietética’ quase sempre não oferece benefícios extras, comenta a nutricionista. "Alguns desses produtos ainda contribuem para aumentar os níveis de glicose, geralmente são mais caros e podem até ter efeito laxante", acrescenta.
Nunca é tarde para mudar seus hábitos
Pacientes com diagnósticos recentes e com obesidade que tem perda de mais 15% do peso, associada ou não com cirurgias bariátricas, em muitos casos, entram em processo de remissão da doença, ou seja, há um quadro de diminuição ou atenuação temporária dos sintomas de uma doença. A endocrinologista Ana Flávia Torquato explica é uma esperança para os pacientes porque, mesmo se a doença voltar, será com sintomas mais brandos.
Pessoas com pré-diabetes também com a mudança de hábitos, com a alimentação saudável e a prática de atividades físicas, podem ter a regressão da doença, afirma a médica.
Pais devem ficar atentos ao comportamentos dos filhos. O sedentarismo, de muitas horas na frente da TV, jogando videogame ou na internet acompanhado da ingestão de salgadinhos, batatas fritas, bolachas e biscoitos pode ter como consequência problemas para a vida. "O principal fator é o ganho de peso, a obesidade infantil está relacionada a diversas doenças, inclusive o diabetes tipo 2", acrescenta a nutricionista Thaís Lima.
Ainda que não haja uma estratégia alimentar universal para prevenir o diabetes ou retardar o seu início, já que o metabolismo de cada pessoa é diferente, como explica ela, é possível manter sempre a ingestão em maior quantidade grupos de alimentos geralmente recomendados para a promoção da saúde, particularmente aqueles a base de plantas. Em contrapartida, deve ser consumido em menor escala carne vermelha. Pode ser seguido também, como sugere a nutricionista, um padrão alimentar mediterrânico rico em azeite, frutas e legumes, incluindo cereais integrais, leguminosas e frutas in natura, produtos lácteos com baixo teor de gordura e consumo moderado de álcool.