Estudos já acompanhavam variedades de coronavírus no Brasil
As formas mais graves de coronavírus sempre estiveram associadas a animais silvestres, segundo especialistaVariedades de coronavírus humanos menos patogênicas que as vindas diretamente de animais silvestres, como a Covid-19, já circulavam no Brasil. Geralmente causam resfriados comuns, embora às vezes possam provocar doenças respiratórias graves.
Pesquisadores da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (FMRP) da USP identificaram quatro tipos de coronavírus humanos em 11% de um grupo de 236 crianças com 3,5 meses e problemas respiratórios internadas no HC (Hospital das Clínicas) em 2008 e 2009. "Foi uma surpresa; o coronavírus, sozinho ou associado com outra espécie de vírus, o rinovírus C, foi um indício de gravidade do caso e de necessidade de internação na unidade de terapia intensiva", diz o virologista Eurico Arruda, professor da FMRP-USP e coordenador de um estudo publicado em junho de 2019 na revista Plos One com esses resultados.
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Nesse trabalho, o microrganismo respiratório mais comum foi o rinovírus (85% dos casos), seguido pelo vírus sincicial (59%), bocavírus (23%) e adenovírus (17%), com 198 crianças apresentando infecções causadas por mais de um tipo. Foram para a UTI 47 crianças, 25 receberam ventilação mecânica e oito morreram.
"As formas mais graves de coronavírus sempre estiveram associadas a animais silvestres", observa Arruda. Como aquela responsável pela Sars e Mers, a nova variedade - a sétima causadora de doenças em seres humanos já identificada - parece ter vindo de morcegos, os reservatórios naturais desse tipo de organismo, de acordo com análises genéticas de centros de pesquisa da China. Transmitido às pessoas por meio das fezes de morcegos, o vírus liga-se a receptores de membranas de células de mucosas respiratórias, sofre adaptações, multiplica-se e pode infectar outras pessoas.
"O Brasil tem suas próprias variedades de coronavírus silvestres, que poderiam causar problemas se passarem de animais para as pessoas", diz Edison Luiz Durigon, do Instituto de Ciências Biomédicas da Universidade de São Paulo (ICB-USP). Em 2015, o biólogo Luiz Gustavo Góes, atualmente em estágio de pós-doutorado no ICB-USP, examinou 401 amostras de intestinos de 17 espécies de 202 morcegos coletadas de 2010 a 2014 em áreas urbanas (192 animais) e rurais (10) de 14 municípios do noroeste paulista, em busca de coronavírus, em colaboração com pesquisadores da Universidade Estadual Paulista (Unesp) em Araçatuba e Rio Claro. Outras 199 amostras foram coletadas no Parque Nacional do Iguaçu, no Paraná.
Como detalhado em artigo de outubro de 2016 na revista Infection, Genetics and Evolution, Góes identificou 15 variedades silvestres de coronavírus em intestinos de oito espécies de morcegos; um dos animais examinados era um Eumops glaucinus, de pelagem preta e orelhas grandes, que tinha sido capturado por um gato doméstico antes de ser recolhido por um morador de Araçatuba e levado à Unesp.
Não houve registros de infecções causadas por vírus de morcegos em pessoas. Mesmo assim, alerta Durigon, "temos de ficar alertas e intensificar o monitoramento de vírus emergentes em animais silvestres". (Carlos Fioravanti/ Pesquisa Fapesp)