Cenário da reprodução assistida evoluiu, mas técnica ainda é inacessível
Os médicos Evangelista Torquato e Tulius de Freitas, pioneiros na reprodução assistida no Ceará, analisam os motivos que dificultam o acesso da população de baixa renda à tecnologia
14:24 | Out. 23, 2019
Em outubro de 1999 nascia o primeiro bebê "de proveta" totalmente gerado no estado do Ceará. O feito, realizado pelos médicos Evangelista Torquato, Tulius de Freitas, Fábio Eugênio e Marcus Bessa, veio a se tornar um marco na medicina reprodutiva. Os médicos, 20 anos depois, admitiram que não tinham consciência do tamanho da realização. "Éramos jovens, movidos por um sonho", lembra Evangelista.
Evangelista e Tulius receberam a reportagem do O POVO Online na tarde desta terça-feira, 8, na sede do Centro de Reprodução Humana que leva o nome de Torquato, que esteve à frente do projeto de 20 anos atrás. Em uma conversa informativa e descontraída, um aspecto foi o mais discutido: o quanto ainda é difícil o acesso de boa parte da população à medicina reprodutiva.
O alto custo é o principal fator que complica o acesso ao procedimento. O tratamento de fertilização custa de R$ 15 mil até R$ 20 mil - variando de acordo com a complexidade do caso. Segundo os médicos, o preço continua alto pelo fato de os meios de cultura serem todos trazidos de fora do País.
"Uma das formas muito razoáveis para a gente conseguir um ponto de equilíbrio para diminuir os custos, seria ter acesso a esses equipamentos de forma mais simples e mais barata", dialoga Evangelista.
São feitos no Brasil, em média, 43 mil ciclos de fertilização por ano, quando deveriam acontecer mais de 200 mil, de acordo com os médicos. "Significa que apenas 20% do mercado faz a reprodução. Deveria ser cinco vezes mais. É claro que, na medida que você populariza o método, você tende a diminuir os custos. Então eu acho que todo esse processo, esse conjunto de fatores, é responsável por ainda manter um patamar alto. A reprodução é cara no mundo todo", esclarece Tulius.
O Ceará tem sido procurado por casais de diversos locais do Brasil e do mundo para realização de tratamento de fertilização. Cabo Verde, Estados Unidos, Portugal são alguns dos exemplos. Alguns casais de cearenses que moram no exterior voltam ao Estado em busca do procedimento. De mil casos que são atendidos anualmente na clínica de Torquato, de 25% a 30% são de fora do Norte/Nordeste. "No Brasil, de uma maneira geral, a renda é mais baixa e acaba tendo um impacto maior (na realização de procedimentos)".
Mesmo com os altos custos e o baixo número de procedimentos especializados, existem cerca de 8 milhões a 9 milhões de crianças fruto de inseminação no mundo. O primeiro bebê gerado pela técnica no mundo completou 41 anos no último dia 25 de julho - apenas 21 anos antes do nascimento de Vitória Sheryda, a criança que marcou a história da medicina reprodutiva cearense.
"Do primeiro caso pra cá, a corrida que a gente tem durante esses anos é de se igualar ao que tem de melhor no Brasil. Qualquer tecnologia do mundo temos aqui", disse Evangelista. Baseando-se nisso, o cenário de reprodução no estado do Ceará é considerado favorável no sentido da tecnologia, mas ainda inacessível ao público de baixa renda.
Embora não haja nenhum projeto governamental para auxiliar casais de baixa renda a ter acesso à inseminação, o próprio Centro Evangelista Torquato oferece programas de acessibilidade econômica. Divididos em categorias, os valores são determinados caso a caso, depois de uma comprovação de renda dos pacientes. Para os interessados, a orientação é procurar a clínica para entender o processo e consultar as condições dos programas acessíveis.
Centro de Reprodução Humana Evangelista Torquato
Endereço: avenida Senador Virgílio Távora, 2225, Dionísio Torres
Telefones: (85) 3031 6060, (85) 99850 2121 e (85) 98180 1965