Venda da pele de tilápia em farmácias depende da escolha de empresa produtora
Odorico Moraes, coordenador do Núcleo de Pesquisa e Desenvolvimento de Medicamentos (NPDM), garante que negociações estão sendo feitas, mas ainda não há prazo
10:25 | Out. 19, 2018
"Estamos dependendo da escolha de uma empresa que possa produzir o medicamento para poder fazer o pedido à Anvisa. Eu como pesquisador não posso fazer esse pedido", pontua Moraes. Apesar dos avanços da pesquisa e da diversificação dos modos de utilização, o pesquisador diz que ainda não há previsão de chegada nas farmácias, mas garante que negociações estão sendo feitas: "estamos com duas empresas interessadas".
[SAIBAMAIS]
Estudo feito pelo NPDM em parceria com o Instituto de Apoio ao Queimado (IAQ) e o Instituto Doutor José Frota (IJF) descobriu o potencial da derme do peixe para o tratamento de queimaduras. O couro é rico em colágeno tipo 1 e tem alto grau de resistência. Inicialmente utilizada apenas no tratamento de queimados, novas possibilidades para a pele vão surgindo.
"Já são 60 tipos de empregos da pele da tilápia na medicina e na cosmetologia também. Hoje no NPDM temos 22 projetos em desenvolvimento para estudar as funções", aponta Odorico Moraes. 150 profissionais do País e ao redor do mundo participam de pesquisas envolvendo a pele animal para fins medicamentosos.
O modo como esse componente do peixe seria encontrado em farmácias ainda não é certo e depende de outros trâmites, mas o coordenador do NPDM avalia que uma possibilidade é extrair o colágeno da pele e utilizar em forma de creme. O núcleo também estuda a produção de cosméticos.
Técnica transformadora
Enquanto não é possível ter produtos a base da pele de tilápia disponíveis como medicamentos, o tratamento de feridas e queimaduras segue beneficiando pacientes. "Há mais de 50 anos vinha sendo usada a mesma técnica no tratamento de queimadura e agora temos esse tratamento revolucionário e que se mostrou potente, diminui a dor, o custo do tratamento e não há perda de liquidos no processo", comenta Odorico Moraes.
Em Fortaleza, na sede do NPDM, funciona o primeiro banco de pele animal do Brasil. O laboratório já enviou material para o tratamento das vítimas do incêndio em uma creche de Janaúba, Minas Gerais, em outubro do ano passado, e também já exportou para os Estados Unidos com o objetivo de ajudar animais que sofreram queimaduras.
A técnica também já serviu em um procedimento inédito de reconstrução vaginal de quatro mulheres no Ceará em fevereiro deste ano.