Ambiente e experiências de vida influenciam desenvolvimento do olfato
19:42 | Mai. 01, 2017
Pesquisadores demonstraram que o ambiente em que uma pessoa vive e se desenvolve contribui para modular o número de células que identificam cada cheiro, além da constituição genética do indivíduo. O funcionamento e a constituição do nariz de pessoas expostas a diferentes cheiros acabam por se desenvolver também de formas diferentes.
A descoberta veio do estudo de 17 pesquisadores dos Estados Unidos, da Inglaterra e do Brasil. Entre eles, está o grupo coordenado pelo professor Fábio Papes, do Instituto de Biologia (IB) da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), onde foi realizado o estudo histológico e molecular detalhado do tecido olfativo de camundongos, com o objetivo de verificar como os genes envolvidos no funcionamento da percepção de cheiros estão expressos na cavidade nasal.
“Não se trata do efeito que a experiência do indivíduo exerce sobre como o cérebro interpreta as informações sensoriais, o que poderia ser considerado como memória olfativa, mas na construção de fato do tecido olfativo”, disse o professor Fábio Papes. Segundo ele, “a construção celular e molecular do tecido olfativo, em um determinado momento, é preparada não só pelos genes do organismo, mas também pela sua história de vida”.
Os neurônios olfativos são formados durante a vida, e o estudo mostrou que a modulação da olfação imposta pelo ambiente resulta no surgimento de mais células com a capacidade de detectar cheiros a que houve maior exposição ao longo do tempo. A consequência é que diferentes indivíduos, ainda que geneticamente semelhantes, podem ter capacidades olfativas diferentes, contribuindo para a individualidade do sentido do olfato, o que se aplica também para seres humanos.
O papel da genética é muito importante na construção do tecido nasal, de acordo com Papes, mas houve uma contribuição muito notável do ambiente, o que não havia sido ainda registrado.
Esses resultados podem ter implicações para o entendimento de todos os sistemas sensoriais, segundo o professor. “A grande contribuição do estudo é perceber como os órgãos do sentido não são iguais em todos os indivíduos. Isso é algo com enormes implicações médicas, por exemplo, pois diferentes indivíduos podem responder ao ambiente de diferentes maneiras, inclusive em condições patológicas. Não porque suas fisiologias são adaptadas de formas diferentes, mas porque seus órgãos dos sentidos são construídos de formas diferentes, dependendo de sua história de vida”, disse.
Em relação à medicina personalizada, o professor destacou que não se pode considerar que todos têm a mesma capacidade de percepção sensorial e, por consequência, serem tratados da mesma forma.