"Aiatolá" Malafaia e a estrutura político-teocrática da extrema-direita brasileira

Críticas de Malafaia a Bolsonaro e a Pablo Marçal, são lembrete de sua posição de influência na extrema-direita

Não é exagero pensar na relação do pastor Silas Malafaia com o movimento político da extrema direita brasileira, como algo parecido com a aliança do regime dos aiatolás iranianos e seus subordinados políticos. Após o primeiro turno da eleição, as duras críticas do líder religioso evangélico parecem mostrar uma preocupação com a coesão do voto evangélico a líderes que têm a sua benção.

Em entrevista à jornalista Mônica Bergamo, do jornal Folha de S.Paulo, Malafaia atacou o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), a quem chamou de covarde e omisso. Fato a se pensar é qual o interesse do líder ao fazer tais afirmações.

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"A atitude dele, omisso, se baseia em redes sociais, não quer se comprometer, em cima do muro pra ficar bem sabe com o que? Com os seguidores. Por isso que eu elogio o Tarcísio (de Freitas), essa é a posição de um líder", disse Malafaia se referindo ao ex-presidente.

Os elogios ao governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) se devem ao empenho dele em apoiar Ricardo Nunes (MDB), candidato não identificado com o viés ideológico de extrema direita. Por isso as críticas da omissão e da ambiguidade em relação a Pablo Marçal (PRTB), candidato sem a benção de Malafaia ou de Bolsonaro, mas que, de fato, defendeu as ideias do bolsonarismo.

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O provável medo de Malafaia é a divisão ou pulverização do voto de direita, o que pode, por consequência, diluir também sua própria influência entre os eleitores evangélicos e entre os próprios líderes políticos de direita. Manter a unidade em torno da liderança de Bolsonaro é também a manutenção da sua própria liderança, visto o ex-presidente não ser evangélico e, portanto, não ser subordinado a nenhum outro líder religioso.

O surgimento de novos líderes políticos de direita que podem ter a tutela de outros lideres religiosos, é algo plenamente possível visto justamente a pluralidade do movimento evangélico, e o desenvolvimento e evolução natural dentro de qualquer espectro político. Novas lideranças vão surgir.

Pablo Marçal, Nikolas Ferreira (PL), André Fernandes (PL), todos estes despontam como possíveis lideres de direita, algo que vai além do circulo do clã Bolsonaro, embora qualquer um que tente voos solos seja chamado de traidor.

Malafaia foi um dos primeiros nomes da direita a criticar Marçal, e a fazer isso de forma mais eloquente. Na entrevista à Folha, o pastor usou adjetivos como farsante e psicopata para se referir ao ex-coach e ex-candidato à prefeitura de São Paulo.

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“Psicopata, manipulador, mentiroso, usa técnicas de manipulação que ele ensina, ele tem uma inteligência por ser psicopata que é fora da curva, então ele tem uma inteligência, um carisma que é marca de psicopatas”, disse o Pastor na entrevista.

Críticas feitas por Marçal durante o Governo Bolsonaro, denunciando a junção da religião e do Estado, pesam na exposição que Malafaia faz do novo outsider da direita. Mas a “usurpação” de Marçal de alguns elementos da religião evangélica, é algo que expõe a pluralidade e a divisão do eleitorado evangélico.

O pastor foi uma das primeiras personalidades a aglutinar forças ao redor de Bolsonaro, ainda em 2016, quando o ex-presidente ainda estava no antigo PSC. As considerações de Malafaia são de que Bolsonaro deu cara e voz à direita brasileira, antes considerada envergonhada.

Entretanto, sempre que faz críticas ao ex-presidente, Malafaia lembra de suas fraquezas, de seus medos, expondo momentos íntimos, que podem ser considerados de fraqueza, como por exemplo o medo da prisão, quando o pastor organizou manifestações em de Bolsonaro.

Nesses momentos, Malafaia parece como o líder espiritual, com Bolsonaro sendo uma liderança política que representa os ideais evangélicos, mas que não tem vida política sem a sua anuência espiritual. Por tudo isso não é exagero dizer que o bolsonarismo, não a direita, precisa da chancela de Malafaia para escolher seu candidato. Mas qualquer semelhança com o modelo iraniano é mera coincidência!

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