O que diferencia as pequenas candidaturas mais à esquerda em Fortaleza
Embora componham um campo com ideologia similar, candidatos de siglas mais à esquerda no espectro político têm particularidades e apresentam projetos com focos distintosEm Fortaleza, três candidaturas de partidos mais à esquerda aparecem no horizonte eleitoral como opção. O Partido Comunista Brasileiro (PCB), com Chico Malta; o Partido Socialismo e Liberdade (Psol), com Técio Nunes; e o Partido Socialista dos Trabalhadores Unificado (PSTU), com Zé Batista, têm candidaturas próprias a prefeito na Capital.
Embora componham um campo com ideologias similares em determinados pontos, as siglas, consideradas menores dentro do sistema político brasileiro, têm particularidades e apresentam projetos distintos. O POVO procurou os candidatos sobre as particularidades e sobre como entendem o posicionamento de seus partidos dentro do espectro político e para o pleito que se avizinha.
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Chico Malta, candidato do PCB a prefeito de Fortaleza, destaca a trajetória da sigla centenária (102 anos de existência). “Somos um partido classista, ideológico e que as propostas são voltadas para a classe trabalhadora, para o povo pobre e para as periferias”. O candidato explica a questão ideológica do partido, que se coloca como uma opção dentro de um sistema político do qual faz parte, mas que acredita necessitar de mudanças.
“O PCB tem uma matriz ideológica revolucionária, que defende uma revolução socialista. Precisamos mudar o modo de produção, de quem produz as riquezas sociais. Essas riquezas cada vez mais são produzidas por uma quantidade imensa de pessoas, mas o resultado desse trabalho é apropriado por um grupo cada vez menor de pessoas”, explica.
Malta defende uma luta, fundamentalmente, pela mudança do modelo social e contra uma sociedade com cada vez menos ricos e cada vez mais pobres. “Não é que sejamos contra a produção da riqueza, não defendemos uma sociedade de miséria, mas a distribuição é completamente desigual, e isso, acreditamos que será possível mudar definitivamente a partir de um processo onde os trabalhadores possam, por meio do poder popular, ter a dimensão da própria força. Para que a produção seja social e a distribuição também”.
Por fim, destacou que tem consciência de que esse modelo só será atingido por um processo revolucionário. “Um processo que sabemos que não será possível por meio das eleições, mas a partir das eleições poderemos dar largos passos nessa direção”.
Malta defendeu ainda que a maioria da classe trabalhadora vive na periferia, mas os empregos estão localizados em áreas distantes dessa zona.
"Aqueles que trabalham na construção civil estão distantes de suas residências; Aqueles que não trabalham sequer tem como pegar um transporte público para ir em busca de emprego. Nesse sentido, uma das questões que colocamos do ponto de vista da mobilidade urbana é o passe livre para desempregados, para estudantes da escola publica e universitários. O Direito da mobilidade urbana é um direito e não uma mercadoria", concluiu.
O Psol, do candidato a prefeito Técio Nunes, é talvez o partido mais consolidado dentre os supracitados, com deputados federais eleitos pelo Brasil. No Ceará, a sigla tem um deputado estadual no Ceará e vereadores na Capital. Apesar de ter candidatura própria em Fortaleza, o PSOL compõe o arco de alianças do governo do Ceará, liderado pelo PT, e ocupa vaga na secretaria da Juventude, com Adelita Monteiro.
Técio defendeu que a chapa Psol/Rede é a "única chapa negra" na eleição deste ano e elencou temas centrais do programa. "Para além disso tem o nosso programa. Qual a candidatura que vai debater centralmente a questão do meio ambiente em Fortaleza? E como isso se relaciona com as comunidades, como as periferias sofrem com esses desastres ambientais e com crise climática?", indagou.
A ideia do candidato é promover uma gestão com participação popular. "Precisamos de um governo com ampla participação popular, que dialogue com movimentos sociais. Que tem questões climáticas como central. E com nossa origem que nos dá autoridade, inclusive política, para governar para os que mais precisam. E isso não é da boca para fora, esse debate é o que nos mobiliza", explicou.
Já o candidato do PSTU a prefeito de Fortaleza, Zé Batista, vem se colocando como um contraponto tanto ao bolsonarismo quanto ao projeto liderado pelo PT. "O PSTU, mais que nunca, tem obrigação de ter uma candidatura própria, que apresente um programa para a classe trabalhadora, alternativo a essa polarização aí, que no fundo governa para os ricos, para os bilionários da nossa cidade e do nosso país", disse ao O POVO durante a convenção que oficializou sua candidatura a prefeito no fim de julho.
Batista ressaltou o PSTU como oposição de esquerda. "Por isso o PSTU está apresentando uma chapa própria, pura. Para apresentar um programa socialista, revolucionário, que se enfrente com a ultradireita representada pelo bolsonarismo, mas também com setores da burguesia que estão ligados hoje à frente ampla, ligada ao governo Lula", destacou.
No plano de governo registrado na Justiça Eleitoral neste ano, a candidatura ressalta defender outra forma de organização da sociedade. “Uma sociedade socialista, sem opressão, sem exploração, onde a riqueza gerada sirva a todos. O objetivo de nossas candidaturas é dialogar com a população e mostrar que, ano após ano, temos visto os partidos tradicionais se revezarem no poder municipal e não resolverem os problemas”.
O documento reforça que governos passados da Capital seguiram uma “lógica capitalista”, visando garantir lucros de empresários em detrimento das políticas públicas.
“Não resolveremos os problemas essenciais, se não mudarmos essa lógica. Faremos uma prefeitura voltada aos trabalhadores e à população carente (...) Teremos um plano de obras públicas voltado para moradias e que não favoreça grandes construtoras. Por fim, a nossa candidatura quer debater um programa socialista que possa mudar a vida do trabalhador”.
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