Técio admite divisões internas no Psol: "Tem pessoas que poderiam estar aparecendo mais"
Candidato do Psol à Prefeitura de Fortaleza foi o sabatinado desta quarta-feira no OP News 1ª edição
12:15 | Out. 02, 2024
Sabatinado na 1ª edição do OP News desta quarta-feira, 2, o candidato do Psol a prefeito de Fortaleza, Técio Nunes, falou de divergências internas dentro do partido, explicou propostas e destacou diferenças de sua candidatura para outras do campo da esquerda. Ele foi entrevistado pelo apresentado Ítalo Coriolano, ao lado do colunista de O POVO, Guálter George.
Questionado sobre a pequena adesão de nomes fortes do partido à campanha, Nunes não negou que haja divergências internas, mas rejeitou que não haja união externa em prol de sua candidatura.
"É um debate complexo. O Psol é um partido muito vivo internamente, tem muito debate. É um partido sem coronel, sem dono. A gente aposta muito num debate político, democrático, como parte da construção do nosso partido. É natural que todo mundo tenha as suas posições, mas não é verdade que o Psol não está unido em torno da nossa candidatura, está todo mundo fazendo campanha. Cada candidatura tem a sua estratégia de como se cacifar, mas a gente está junto neste momento, apesar das divisões internas, para fora nós estamos posicionados de forma unitária e unificada em torno da coligação, que envolve o Psol, a Rede e a UP", explicou.
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Sem citar nomes, porém, admitiu que há, sim, pessoas que poderiam estar mais empenhadas na campanha. "Tem pessoas que poderiam estar aparecendo mais, mas cada um tem o seu limite pessoal, individual, de como se dedicar à campanha. Estamos aqui para afirmar um projeto popular para a nossa Fortaleza, uma ideia de uma candidatura que afirma um espaço, nesse momento onde todas as candidaturas se utilizam da periferia de dois em dois anos, mas não têm nenhum projeto real, factível, para poder construir e modificar de verdade a nossa Fortaleza", acrescentou.
Segurança pública em campanha municipal
O candidato afirmou que propostas de adversários, com helicópteros, caveirões e armamento ostensivo, foram pautadas apenas por pesquisas eleitorais e orientação de "marketeiros de milhões para poder enganar o nosso povo em um debate tão sério". "Eu acho que o nosso povo, e eu particularmente, sei bem da realidade de um jovem que não tem acesso a um Cuca porque vive em uma região diferente da facção presente no local. Não podemos aproveitar esse espaço eleitoral para fazer um debate tão despolitizado, tão inconsequente, que alguns candidatos estão fazendo, inclusive orientados por uma linha mais de direita ou extrema-direita, ao bolsonarismo", disse.
Para Técio, o combate à violência parte de um tripé. "O primeiro ponto é inteligência, nós vamos criar na SSPDS um setor de inteligência, para auxiliar a Prefeitura, monitorar e mapear esses territórios, entender quais são as áreas mais vulneráveis da cidade, para que a Prefeitura - apontando o segundo tripé - possa ocupar esses territórios com política pública efetiva e assertiva. O maior PIB do Nordeste tem que disputar o futuro das nossas crianças, ocupando esses territórios com política pública, apostando em profissionalização, apostando na cultura, apostando no acesso à tecnologia. O terceiro ponto é que não tem como o prefeito fugir da responsabilidade. O prefeito tem que assumir o papel de liderança, e nós temos que ter um prefeito que tenha capacidade política de chamar o Governo do Estado, chamar o Governo Federal, para discutir de forma cooperada uma estratégia política de ocupação desses territórios e de mudança desses dados de Fortaleza. Não vamos combater os problemas com bravata, não é questão de coragem, é necessário ter uma política de estado", explicou.
Demora a colocar o "bloco na rua"
Questionado sobre os motivos para sua campanha demorar a sair nas ruas, tendo inclusive inaugurado o comitê oficial apenas 22 dias após o início oficial do período eleitoral, Nunes alegou as diferenças financeiras da campanha do Psol para outras - segundo o TSE, a campanha de Técio arrecadou R$ 850 mil.
"Nós temos uma realidade em Fortaleza que aponta uma das campanhas mais caras do Brasil, somente o Sarto recebeu mais de R$ 17 milhões. São campanhas multimilionárias, que não deixam espaço nenhum para uma lógica de campanha que está cada vez mais despolitizada, mas que jogam as campanhas pequenas, mas que têm boas ideias, que têm boa militância, têm boa história, na margem, a gente não consegue ocupar os espaços. E no Psol a gente tem uma história de não pagar militância, nossa militância é voluntária. É uma campanha feita por jovens, é cheia de juventude, uma nova geração que está se formando na política e que tem esperança na nossa campanha, porque sabe que ela é pautada por ideias e não por essa lógica multimilionária das campanhas", explicou.
Para ele, não há menos mobilização na atual campanha do que houve em outras candidaturas pessolistas anteriormente.
Mudança de rota no partido
Técio destacou que ao lançar uma candidatura de um homem negro e da periferia, o próprio Psol mostra uma mudança de rota, que pode causar estranhamento interno e externo.
"É um reajuste de rota do partido? É, e não é a toa que muitas vezes, para alguns, é difícil apostar nesse caminho. O Psol passou anos apostando em um perfil de candidatura, de repente tem um outro perfil, uma candidatura que aponta um programa popular, um candidato tem um outro tipo de história, isso nem sempre internamente vai repercutir positivamente. Tem diferenças, e que bom que tenha. Em nenhum outro lugar a gente teria condições de viabilizar uma candidatura como a nossa, o Psol é um partido que merece muito respeito, porque é um partido que permite essas mudanças. Estamos apostando em um novo eleitorado, em um novo perfil de candidato e às vezes gera estranhamento interno, mas eu tenho visto uma boa repercussão externa", acrescentou.
Contra o voto útil
O candidato destacou que o primeiro turno é o momento para os eleitores votarem em quem mais se identificam, deixando para o segundo turno para votar em quem menos rejeitam.
"Eu tenho visto muita gente dizendo que gostaria de votar em mim, pois acredita nas nossas ideias, mas está pressionado por essa lógica do voto útil. Vai haver segundo turno em Fortaleza, o momento agora é de apostar naquelas candidaturas em que você acredita, nas ideias que você acredita. Eu estou muito orgulhoso dessa campanha, sei que a maioria do Psol está orgulhosa. Estamos aqui fazendo nossa campanha, debatendo nossas ideias, debatidas com todo o Psol", argumentou.
Diferença entre a candidatura do Psol e do PT
Diante de uma grande mobilização, inclusive financeira, em torno da candidatura de Evandro Leitão (PT), que integra também um partido do campo da esquerda, Técio foi instigado a explicitar porque sua candidatura difere-se da do petista.
"Estamos apostando em um governo com participação popular e governança popular. No nosso programa de governo, a gente vai criar conselhos comunitários regionais, para fiscalizar o trabalho da Regional. Por isso, nós vamos criar um aplicativo para poder as pessoas terem a capacidade e o poder de criar leis e de vetar leis. Para além disso, estamos criando também o Orçamento Popular Impositivo, que vai garantir em torno de 7%, dentro de cada área da administração pública que vai ser determinado pela população como vai ser gasto. Nós estamos propondo nessa campanha a transparência das filas do acesso à saúde. Se você quer uma cidade que tem capacidade de fazer esse debate, nós estamos apostando em um debate sobre segurança que seja mais consequente, com política cooperada, ocupação de território", citou.
Taxa do lixo
Questionado sobre o que faria com a Taxa do Lixo, Técio foi mais um a prometer a acabar com a cobrança.
"Nosso compromisso é acabar com a Taxa do Lixo, por ser uma taxa absurda, abusiva e desnecessária. Além do debate fácil que os candidatos estão prometendo, nós perdemos a oportunidade de fazer um debate para revolucionar o tratamento dos resíduos orgânicos de Fortaleza. Esse é debate que estamos pautando. Veja, o Sarto está arrecadando quase R$ 200 milhões, mas a população vê a cidade suja. A gente perdeu uma oportunidade de fazer um debate mais sério, além de acabar com a taxa do lixo, devemos aproveitar para discutir como aproveitar nossos resíduos sólidos e orgânicos, inclusive como gerar receita para o município", explicou.
Paridade de gênero e racial em eventual governo
Promessa de campanha, Técio falou a paridade em sua gestão, caso eleito.
"Nós hoje em Fortaleza temos mais de 60% de pessoas autodeclaradas negras ou pardas, além de 54% serem do gênero feminino. Só que isso não se reflete na hora de dividir o poder, nós temos uma participação diminuta de mulheres e negros na Câmara Municipal e na gestão. Eu aposto nisso como uma política assertiva, que a gente tem condições de modificar na nossa Fortaleza. Então, na nossa gestão a gente terá protagonismo para mulheres e para a negritude, e acho que isso é o básico que a gente tem que garantir nesse novo tempo histórico", explicou.
Segundo turno
Questionado sobre se, em um eventual segundo turno sem participação do Psol, se haveria alguma candidatura descartada de dar apoio, o candidato não titubeou que seria impossível qualquer aproximação com André Fernandes (PL).
"Óbvio que nós também não teríamos condições de apoiar o Capitão Wagner (União Brasil), mas o André Fernandes é o candidato apoiado pelo Bolsonaro, que expressa as ideias do bolsonarismo orgânico em Fortaleza, um deputado federal que é bem diferente desse André Fernandes candidato", explicou, completando que os cenário ainda está indefinido e não é possível ainda prever nada.