Vereador busca reeleição em Fortaleza usando folhas de árvores como santinhos

Gabriel Biologia promete distribuir para eleitores folhas caídas das árvores com mensagens.

Candidato à reeleição em outubro, o vereador de Fortaleza Gabriel Aguiar (Psol) promete inovar e realizar toda a campanha eleitoral totalmente sem papel. Sem panfleto, adesivos ou os famosos "santinhos", Gabriel distribui nas ruas folhas caídas de árvores com mensagens, além do número dele a ser digitado na urna.

"Usamos a bandeira e a nossa voz. A gente quer mostrar para a população, e para os outros políticos, que é possível fazer uma campanha sem gerar muito lixo, muito resíduo. É um material totalmente biodegradável, pode jogar no chão sem problema nenhum, é custo-zero e ainda é personalizado. A gente faz de um por um, com muito carinho, então a gente desenha, pinta e muita gente que vem fazer a campanha está também fazendo essas folhinhas com a gente, disse Gabriel ao O POVO.

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O vereador, que é chamado de 'Gabriel Biologia", por ser biólogo e também mestre em Ecologia e Recursos Naturais pela Universidade Federal do Ceará, afirma que, a cada eleição, são derrubadas em média 603 mil árvores para a produção de material eleitoral. "O lixo que todo esse material gera poderia produzir o equivalente a 40 milhões de livros de 50 páginas. Esse material suja as cidades e acaba indo para rios e o mar, colocando em risco a vida marinha", pontua Gabriel em suas redes sociais.

Pensando nisso, Gabriel afirma que decidiu fazer uma campanha sem nenhum papel e com muito mais diálogo com pessoas, nas ruas e também nas redes sociais. "Agora as pessoas já estão, por elas mesmas, fazendo as próprias folhinhas e distribuindo entre as pessoas. É algo que tem dado muito certo também", completa.

Do anonimato à Câmara

Em 2020, Gabriel surpreendeu fazendo uma campanha de rua, com cartazes feitos a mão, saindo do quase anonimato para um dos vereadores mais votados de Fortaleza. A preocupação com resíduos sólidos já era grande naquela época, explica o parlamentar.

"Essa questão do resíduo durante as campanhas é algo que, desde a minha adolescência, me incomodou. Inclusive eu tinha como prática, toda eleição, eu pegava um saco plástico, ia votar e pegava os panfletos e 'santinhos' da rua toda, passava o dia limpando a rua, de forma simbólica. Aí quando foi o nosso caso, eu não poderia fazer a mesma coisa. Primeiramente, ficamos muito ansiosos e preocupados, pois a gente sabe que é uma forma de comunicação muito central nas campanhas, então quebramos a cabeça para buscar um jeito criativo que levasse a mensagem. Desenvolvemos os 'conversaços', o megafone no sinal, a nossa forma de fazer campanha, com menos papel e muito mais diálogo", relembra Gabriel.

O vereador tem consciência de que, para isso dar certo, é necessário contar com muita ajuda das pessoas. "Pedimos para as pessoas que acreditam no nosso projeto, não apenas votarem, mas também serem parte da campanha. E isso deu certo, a gente conseguiu ter uma das maiores votações da cidade (em 2020), quase 10 mil votos, sem usar nenhum panfleto e nenhum santinho. Eu fiquei muito feliz, pois para além da eleição, a gente deu um exemplo que pode ser seguido por outros candidatos", comemora.

Ousadia e preocupação medidas

Com o sucesso da campanha em 2020, o desafio foi ousar ainda mais em 2024. "Dessa vez, a gente quis manter a ousadia e fazer algo ainda além. Então a gente não usa nem cartaz, nem panfleto, nem adesivo e nem santinho, é uma campanha totalmente sem papel", comenta.

Não se utilizar de ferramentas tão presentes nas campanhas de outros postulantes às cadeiras da Câmara Municipal de Fortaleza é uma decisão ousada e Gabriel tem noção que isso pode ser um fator dificultador, em termos de elegibilidade. "Com certeza a gente se preocupa, pois não temos ferramentas que outros políticos têm, mas isso é algo que a gente decidiu enfrentar e conseguir transformar a forma de ver esse momento, que gera tantos resíduos de dois em dois anos", completa.

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