Entenda por que mulheres dominam candidaturas a vice-prefeita em Fortaleza
Das nove, sete chapas possuem essa conjuntura. Apenas o prefeito José Sarto (PDT) e Chico Malta (PCB) contam com companheiros de chapa homens
14:01 | Ago. 05, 2024
Pelos próximos quatro anos, Fortaleza seguirá sendo governada por um gestor do sexo masculino. Das nove chapas de postulantes à Prefeitura de Fortaleza, todas são encabeçadas por um homem.
A presença de mulheres está, em suma, nas candidaturas a vice. Das nove, sete chapas possuem essa conjuntura. Apenas o prefeito José Sarto (PDT) e Chico Malta (PCB) contam com companheiros de chapa homens.
Ao longo da pré-campanha, foram lançadas algumas pré-candidaturas de mulheres ao cargo de prefeita. Luizianne Lins e Larissa Gaspar concorriam pela vaga do PT, que acabou ficando com Evandro Leitão, após votação em encontro do partido.
Negociação também se deu no Psol, que decidiu, em deliberação da executiva municipal, lançar o produtor cultural, Técio Nunes. Na ocasião, a mestra em Educação, Maya Eliz, também postulava a vaga.
A Rede Sustentabilidade chegou a lançar a pré-candidatura da ambientalista Cindy Carvalho, que acabou virando vice de Técio Nunes, já que, por serem federadas, as duas siglas (Psol e Rede) só poderiam disputar com uma única candidatura.
Na convenção que oficializou a chapa dos dois, Cindy chegou a comentar o cenário masculino para a Prefeitura. "Não esperem que eu seja coadjuvante de nada", afirmou.
Ela disse que questionou a direção nacional pelo fato de todas as candidaturas a prefeito em Fortaleza serem homens. "Eu entendo e respeito totalmente a federação. Eu questiono a federação também. Porque eu disse: 'Vamos eleger uma mulher. Porque só tem homem", afirmou a candidata vice.
Para a cientista política Paula Vieira, há nuances dentro desta configuração de mulheres “dominando” candidaturas a vice. Ao mesmo tempo que se promove uma maior visibilidade feminina, ainda assim persiste a ideia do homem como “líder político”.
O cenário é paradoxal. Por dominarem o jogo político historicamente, homens tendem a ficar com as cabeças de chapa, no entanto, isto implica na visibilidade feminina, promovendo uma manutenção deste problema.
“A ideia de competitividade vinculada a esses nomes, que são homens, que estão à frente, por conta desse capital político já encaminhado, de ter esta experiência na vida pública, de disputa”, explica Paula.
A posição de “vice”, para Paula, apesar de importante e efetiva, também representa muito simbolicamente. “Para dizer: tem uma mulher do meu lado, ao mesmo tempo que cumpre a possibilidade de cotas, de financiamento de campanha e daí por diante”, diz a cientista política, doutora em Sociologia pela Universidade Federal do Ceará (UFC).
Apesar disso, ainda assim é uma representação. Paula cita vices “protagonistas” nas últimas gestões, como Izolda Cela, que chegou a assumir o Governo do Estado em 2022, e a atual vice-governadora Jade Romero.
A professora também cita uma expansão da pauta feminina em espectros políticos que não o da esquerda, que iniciou o debate. Hoje, políticas de centro-direita e até de extrema-direita reivindicam espaço no meio público. “É uma forma de abrir o espaço para as mulheres, dar mais visibilidade para as mulheres. E há também um público feminino a ser conquistado”, diz Paula.
Nas candidaturas a vice em Fortaleza isto é visível, com vice mulheres em chapas desde Técio Nunes (Psol) - com Cindy Carvalho (Rede) - e Evandro Leitão (PT) - com Gabriella Aguiar (PSD) até nas de Eduardo Girão (Novo) - com Silvana Bezerra (Novo) -, e André Fernandes (PL) - com Alcyvania Pinheiro (PL).
A perspectiva de uma vice mulher, para Paula Vieira, pode promover uma visibilidade em temas mais atrelados às mulheres, com pautas de cuidados, como discussões sobre capacitismo, atendimento e educação. “São tarefas que normalmente estariam dentro da divisão do ‘trabalho político feminino’. São pautas importantes, que ganham maior projeção quando temos mulheres na cena política”, disse.
Além disso, a perspectiva de mulheres nestes espaços do executivo pode ajudar em uma mudança de paradigma no futuro. Apesar de citar meios de participação feminina, como sistemas de listas fechadas de outros países, Paula Vieira ainda vê o voto como principal instrumento de incentivo ao ingresso das mulheres em espaços de poder.
“Contamos mais com a transformação do voto do eleitor, para dar mais visibilidade às mulheres, a partir disso, há mais chance delas entrarem nas cabeças de chapa do executivo. Aí o argumento da competitividade ficará igual”, afirmou a professora.
Conheça abaixo, todas as postulantes a vice em Fortaleza, em ordem alfabética
Alcyvania Pinheiro (PL)
Candidata a vice-prefeita, em chapa pura do PL, com André Fernandes. Pinheiro é membro consagrada da Comunidade Católica Shalom desde 1989. Além disso, foi secretária Executiva de Juventude e Esporte de Caucaia e secretaria de Ação Social de Granjeiro. Ela é irmã do vereador Jorge Pinheiro (PSDB). A vice de Fernandes também já apresentou o programa Semeando, da TV Ceará, e programas na rádio Assunção e Shalom AM. Alcyvania conduziu, ainda, a apresentação de eventos religiosos como o Halleluya.
Cindy Carvalho (Rede)
No início de março, a Rede Sustentabilidade anunciou a ambientalista Cindy Carvalho como pré-candidata à Prefeitura de Fortaleza. Pré-candidatura foi integrada a chapa de Técio Nunes (Psol). Cindy preside a Rede Ceará, é ambientalista e foi empossada Conselheira Estadual de Juventude (SEJUV) do Governo do Estado do Ceará, em 2022. É membro do Comitê Consultivo do Juventudes do Agora (Atlas das Juventudes).
Edilene Pessoa (União Brasil)
Candidata a vice de Capitão Wagner (União Brasil). Seu núcleo familiar conta com o pastor Osires Pessoa Júnior, da Assembleia de Deus Montese. Ela é conselheira tutelar da Capital, nutricionista e defende a bandeira da infância e da juventude. É lotada no Conselho Tutelar VII e pediu afastamento da função para "concorrer a cargo eletivo". Foii eleita para o cargo em 2023, com 1656 votos e tomou posse em 2024.
Gabriella Aguiar (PSD)
Candidata a vice de Evandro Leitão (PT). Médica geriatra e deputada estadual no seu primeiro mandato, foi eleita para uma vaga na Assembleia Legislativa do Ceará (Alece) em 2022, com 83,1 mil votos. Só em Tauá, berço político da sua família, foram 15,1 mil votos. É filha do ex-vice-governador do Ceará, Domingos Filho (PSD), e da prefeita de Tauá, Patrícia Aguiar (PSD). Além de ser irmã do deputado federal Domingos Neto (PSD), que está no seu quarto mandato em Brasília. Fez Residência de Clínica Médica no Hospital Geral de Fortaleza e de Geriatria no Hospital das Clínicas da Universidade de São Paulo
Malu Costa (PSTU)
Candidata a vice de Zé Batista (PSTU). Maria de Lourdes Gonçalves da Costa, conhecida como Malu Costa, foi confirmada pré-candidata a vice na chapa do PSTU. É a primeira vez que ela concorre a um cargo nas eleições. Malu é presidente licenciada do Sindicato dos Servidores de Proteção e Defesa Civil e da Diretoria Executiva da Central Sindical e Popular (CSP) - Conlutas.
Rachel Lima (Solidariedade)
Candidata a vice de George Lima (Solidariedade). É advogada e integra a executiva do Solidariedade Ceará, estando cadastrada como Secretária da Mulher da Estadual. Anúncio da chapa veio no último dia de convenções partidárias.
Silvana Bezerra (Novo)
Candidata a vice pela chapa de Eduardo Girão (Novo). Silvana é dentista e empresária, tendo sido descrita por Girão como "ativista de causas em defesa da Vida, da família, ética e liberdade". Ela é viúva do banqueiro e ex-governador do Ceará, Adauto Bezerra, que esteve no poder entre 1975 e 1978. Ele morreu em 2021 aos 94 anos.