Convenções no Cariri consolidam união entre Ciro e bolsonaristas contra PT

Lideranças do PDT - com destaque para Ciro Gomes -, do PL, do União Brasil e do PSDB participaram de eventos que confirmaram candidaturas em Juazeiro e Crato

A região do Cariri foi o centro das atenções e dos holofotes políticos no primeiro final de semana de convenções partidárias no Ceará. No último sábado, 20, lideranças políticas de partidos como PDT, PL, União Brasil, PSDB, que atualmente se colocam na oposição ao governo do Estado, liderado pelo PT, estiveram nas cidades de Juazeiro do Norte e Crato para expressar seus respectivos apoios a candidatos também do campo opositor.

O início do período de pré-campanha deu o tom do que pode se repetir em outras regiões e municípios cearenses, unindo adversários históricos no mesmo palanque. No Crato, Ciro Gomes (PDT) esteve com Roberto Pessoa (União Brasil), com quem acumulou episódios de desentendimentos ao longo de anos, no palanque de Dr. Aloísio (UB) que se coloca como alternativa à gestão do PT na mesma cidade. O palanque contou ainda com o PL, na figura do deputado estadual Carmelo Neto, que é ligado ao ex-presidente Bolsonaro (PL).

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Em Juazeiro do Norte, na convenção que oficializou o prefeito Glêdson Bezerra (Podemos) como candidato à reeleição, essas lideranças também estiveram presentes. Junto a elas estavam ainda o presidente nacional interino do PDT, deputado federal André Figueiredo, o ex-prefeito de Fortaleza Roberto Cláudio (PDT), o vice-prefeito de Fortaleza e presidente estadual do PSDB, Élcio Batista, dentre atores de outras siglas.

A movimentação destas lideranças têm um objetivo em comum: fazer frente ao grupo que atualmente governa o Ceará, liderado pelo PT do ministro Camilo Santana (Educação) e do governador Elmano de Freitas. Em seus discursos nas convenções em Juazeiro e Crato, os líderes de oposição reforçaram críticas ao grupo petista e de aliados que gerem o Ceará.

Além disso, a união de opositores de espectros políticos distintos confirma tendência que havia se consolidando em outros ambientes, como a Assembleia Legislativa (Alece), onde teve início neste ano um "bloco de oposição" com deputados estaduais do PDT, do PL e do União Brasil.

Emanuel Freitas, professor universitário e pesquisador vinculado ao Laboratório de Estudos sobre Política, Eleições e Mídias (Lepem-UFC), explica que a movimentação é motivada por um "inimigo comum" e comenta a simbologia da aproximação ocorrer em cidades-chave no Cariri, como Juazeiro do Norte.

"O prefeito de Juazeiro foi eleito na onda do bolsonarismo e não rompeu diretamente com esse espectro durante o mandato. Então o PL não teve muita dificuldade de permanecer. O fato é que todos estão em torno de um inimigo comum, que é o grupo que está no governo do Estado. Então o Ciro se sente à vontade pra fazer essas alianças até meio esdrúxulas e inusitadas. Fora isso, Juazeiro é um grande centro em que o PL não apostou como cabeça de chapa e permaneceu como um bastião de certa resistência ao governo do Estado", diz.

Além disso, o especialista destaca o interesse pragmático dessas lideranças e avalia que as novas configurações ainda decorrem do racha entre os grupos de Ciro e do seu irmão, o ex-governador Cid Gomes (PSB). "O Cariri tem permanecido governado por um espectro de centro-esquerda, Juazeiro talvez seja uma espécie de exceção. Isso ainda é um movimento da briga dos irmãos (Ferreira Gomes), que ainda não produziu todas as saídas que poderia ter produzido, por exemplo, do PDT. Daí surgem esses movimentos ditos estranhos", aponta.

O POVO tentou contato diretamente com dirigentes partidários do PDT, PL e União Brasil para ouvi-los sobre as movimentações e se elas podem se repetir em outras cidades. Parte deles seguia no Interior no domingo, 21. Carmelo Neto, presidente do PL Ceará, expressou a satisfação em apoiar as candidaturas de Aloísio e Glêdson. "Acreditamos que o Cariri, historicamente de lutas, vai liderar a renovação da política no Interior do Estado, afastando-se das gestões desastrosas da esquerda e do PT".

Capitão Wagner, presidente do União Brasil Ceará, não esteve nas agendas. Havia rumores de que ele compareceria, podendo dividir palanque com Ciro, o que seria inédito. Indagado sobre o motivo da ausência, respondeu via assessoria de imprensa, que seu foco inicial está em Fortaleza e nas cidades da Região Metropolitana. "O Cariri está sendo cuidado pelo Deputado Dr. Aloísio Brasil, que é da região".

A reportagem não conseguiu contato com o deputado André Figueiredo e outros pedetistas que estavam presentes. O professor Emanuel Freitas lembra que PDT e União Brasil são parte do governo em âmbito federal, mas reforça que os interesses locais têm relevância neste momento de definições.

"Uniao Brasil e PDT estão no governo do presidente Lula (PT). Aí vemos esses casos, como o do Ceará, quando entra no cálculo uma oposição histórica que vai impossibilitando esse alinhamento. São os interesses paroquiais e locais, que mais pesam", conclui.


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