'Prisão é o fim, estou com 70 anos', diz Bolsonaro; Lula foi preso aos 72

'Prisão é o fim, estou com 70 anos', diz Bolsonaro; Lula foi preso aos 72

Ex-presidente associou possível prisão à sua morte em entrevista à Folha de S.Paulo. Também disse que tentativas de golpe foram descartadas "logo de cara"

Questionado se uma possível prisão resultaria no fim de sua carreira política, o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) afirmou, em entrevista à Folha de S.Paulo divulgada neste sábado, 29, que seria o “fim de sua vida”, por ter 70 anos.

O ex-mandatário se tornou réu no Supremo Tribunal Federal (STF) na última quarta-feira, 26, acusado de liderar trama golpista em 2022, ano em que Luiz Inácio Lula da Silva (PT) foi eleito presidente do Brasil.

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Lula, que foi preso em 7 de abril de 2018 pelos crimes de corrupção passiva e lavagem de dinheiro, tinha 72 anos quando foi encarcerado. O atual presidente permaneceu na prisão por 1 ano, 7 meses e 1 dia, somando 580 dias.

Uma possível prisão seria “completamente injusta”, afirmou Bolsonaro. “Cadê meu crime? Cadê a prova de um possível golpe? A não ser discutir dispositivos constitucionais que não saíram do âmbito de palavras”.

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Bolsonaro negou que se juntaria ao filho, Eduardo Bolsonaro, nos Estados Unidos, e pediria asilo político: “Eu acho que eu estou com uma cara boa aqui. Tenho 70 anos, me sinto bem. Eu quero o bem do meu país”.

Na quinta, 27, um dia após o fim do julgamento no STF, a Procuradoria-Geral da República (PGR) pediu arquivamento do inquérito que investigou Bolsonaro pela suposta falsificação de cartões de vacinação contra Covid-19.

Para o ex-presidente, “mais que uma sinalização”, o arquivamento é “uma luz vermelha” contra outros processos, como o das joias sauditas.

“Porque você não pode investigar o cartão de vacina, olhar do lado ali e 'ah, apareceu presentes, apareceu estado de sítio', não pode fazer isso aí. Até porque nunca vi um juiz começar um processo sem ser provocado. Uma vez provocado, ele analisa, se investiga. Por que eu sou diferente dos outros?”

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Alternativas à eleição de Lula foram descartadas "logo de cara"

Durante a entrevista — realizada na sede do Partido Liberal em São Paulo —, Bolsonaro admitiu ter conversado com auxiliares sobre estado de sítio, estado de defesa e intervenção federal. No entanto, as possibilidades foram descartadas “logo de cara”, disse o ex-presidente.

A Constituição prevê que essas três medidas sejam usadas para manter a ordem pública e a paz social, caso estejam ameaçadas por instabilidade institucional, comoção grave de repercussão nacional ou guerra.

“Eu não esperava o resultado [das eleições de 2022]”, afirmou Bolsonaro. “Eu conversei com as pessoas, dentro das quatro linhas, que vocês estão cansados de ouvir, o que a gente pode fazer? Daí foi olhado lá, [estado de] sítio, [estado de] defesa, [artigo] 142, intervenção…”

O ex-mandatário confessou ter se reunido com “comandantes militares, umas outras pessoas perdidas por ali”, mas “nada com muita profundidade, porque quando você perde a eleição, você fica um peixe fora d'água”.

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Bolsonaro pontuou que, para ordenar estado de defesa ou de sítio, “primeiro passo é convocar os conselhos da República e da Defesa. Isso não foi convocado, não houve nem cogitação de nada”.

Ele também afirmou não se lembrar de ter comentado, em 7 de setembro de 2021, que chamaria o Conselho da República: “Eu quero saber quando eu falei isso, não estou lembrado… Mas, se falei, não tem crime nenhum nisso aí”.

Bolsonaro teria discutido as alternativas com militares por ter “muita confiança” nas Forças Armadas. “Não tem problema nenhum conversar. Conversa primeiro com o ministro da Defesa. Depois, na segunda reunião que apareceu os caras”.

Segundo ele, uma tentativa de impedir a posse de Lula foi descartada “logo de cara”: “Para você dar um golpe, ao arrepio das leis, você tem que buscar como é que está a imprensa, quem vai ser nosso porta-voz, empresarial, núcleos religiosos, Parlamento, fora do Brasil. O ‘after day’, como é que fica?”

Questionado, ele afirmou que teria decidido não seguir adiante com as tentativas “na metade, no comecinho de dezembro” de 2022.

Bolsonaro diz não se arrepender de não ter reconhecido o resultado das eleições

“Não pedi apoio para ninguém”, respondeu Bolsonaro após ser perguntado se os planos foram descartados porque o então comandante do Exército, Freire Gomes, não demonstrou apoio. “Pergunta para o Freire Gomes se, em algum momento, eu falei golpe. Vai responder que não”.

“Se você quer dar golpe, troca o ministro da Defesa, troca o comandante de Força, bota um pessoal disposto a sair fora das quatro linhas. Mas isso não passou pela cabeça. Você não dá golpe à luz do dia. Você vai criando um fato, uma oportunidade, como o Lula diz, né? Então estão construindo narrativa”.

Bolsonaro disse não se arrepender de não ter reconhecido o resultado das eleições: “Não me arrependo. Eu tinha meus questionamentos. Todo candidato faz isso quando ele vislumbra qualquer possibilidade. E eu jamais passaria faixa para ele [Lula] também, mesmo que tivesse dúvidas de nada”.

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