Caucaia: ex-vereador doa leite prestes a vencer a afetados por enchente
Moradora do Conjunto Metropolitano diz que algumas pessoas "levaram fardos [de leite] para casa". Citoin voltou ao bairro no sábado para doar cestas básicas
Candidato a vereador de Caucaia, na Região Metropolitana de Fortaleza, nas eleições de 2024, Citoin da Sucata (MDB) doou mil litros de leite, nessa sexta-feira, 7, para residentes do bairro Conjunto Metropolitano, afetado por inundações que desalojaram moradores, na última quarta, 5.
Algumas das pessoas que receberam o leite reclamam que os produtos estavam prestes a vencer, com data de validade para esse sábado, 8. Uma dessas pessoas é Vera Maria, de 63 anos, que perdeu a feira do mês, comprada poucos dias antes das inundações.
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“Fiquei em estado de choque, tanto que ainda tô tentando acreditar no que aconteceu. Recebemos doações, porque precisamos de muita coisa”, conta.
Segundo ela, Citoin da Sucata “foi uma das primeiras figuras da Caucaia que apareceu para ajudar”. Porém, não entende como “ele tem coragem de entregar um leite desse. Traz um peso desse, ainda em vão?”
“Como alguém é tão incompetente de doar um leite desse para a população carente?”, questiona a moradora. “E aqueles que nem olharam a data? Peço a Deus que não faça mal, que não deem para crianças”.
Vera pontua que a maioria dos recipientes de leite recebidos pelos vizinhos tem a mesma data de validade. “A maioria das pessoas que mora aqui pegou não só um, pegou fardo para levar para casa. Ainda mais na situação que a gente se encontra aqui. Tem até casa que caiu. É muito difícil”, contou.
A chavalense relembrou ter sido avisada por vizinhas, por volta de 18 horas da sexta, sobre a doação de leite. Por ser intolerante a lactose, ela iria pegar leite somente para a irmã dela, mas na hora descobriu que também estava sendo doada a versão zero lactose do produto.
“Eu até estranhei, porque a zero lactose é bem mais cara que o integral. Quando recebo meu pagamento, geralmente só compro um litro”, acrescenta.
Ao chegar em casa, Vera começou a preparar um mingau de aveia, que come antes de dormir. “Eu até preparei o papeiro para fazer o mingau. Quando fui olhar a data do leite… E o que é que a gente faz? Tem que derramar, porque não pode. Derramei o frasco que abri, os outros deixei aqui na geladeira”.
Citoin da Sucata foi vereador de Caucaia entre 2021 e 2024. Obteve 2.121 votos na eleição de 2024, mas não foi eleito. Em seu perfil no Instagram, ele publicou imagens da doação de leite. “Obrigado meu Deus por me fazer de instrumento para servir o próximo!”, escreveu na legenda.
Na manhã desse sábado, 8, ele retornou ao Conjunto Metropolitano para doar cestas básicas. Desta vez, acompanhado de Waldemir Catanho (PT), candidato a prefeito de Caucaia no último pleito e superintendente do Departamento Estadual de Trânsito do Ceará (Detran–CE).
A reportagem entrou em contato com Citoin por meio de telefone associado à sua sucata, localizada em Caucaia. O filho do ex-vereador informou que Citoin estaria viajando e retornaria nesta segunda-feira, 10. A matéria será atualizada quando houver resposta.
Nível da inundação no Conjunto Metropolitano foi “surpresa”
“Ainda estou querendo acreditar que aconteceu. Ainda não caiu a ficha”, diz Vera Maria sobre as inundações que atingiram o Conjunto Metropolitano. Ela morava em Fortaleza antes e se mudou para Caucaia há alguns anos para cuidar da mãe, que estava doente e faleceu há três anos.
“Ainda não voltei [para a Capital] porque não tive condições, nem tenho por enquanto”. Segundo ela, as enchentes no bairro, em decorrência das fortes chuvas, ficam mais intensas a cada ano que passa.
“Cada ano é mais promessa e nada, ficamos na mesma posição. De grande necessidade de alguém que olhe pelo bairro. Entra político, sai político, só promessas”, argumentou a moradora.
O nível da inundação deste ano “foi uma surpresa” para Vera, “porque fazia uns dois anos que não vinha água tão forte assim”. Ela mandou aumentar a altura da casa em 60 centímetros, no ano passado. “Ainda assim, a água entrou. Tem um quarto um pouco mais alto, foi onde ficamos alojados”.
“Quando a água veio, não deu para salvar quase nada. Perdi um guarda-roupa, uma cadeira que era da minha mãe, muita roupa… Só deu tempo de salvar geladeira, fogão e rack. As outras coisas, a gente pode até ficar, por algum tempo, mas praticamente sem utilidade”, lamentou.
“Eu tenho 1,69 metro e a água estava batendo na minha cintura”.
Apesar da situação, Vera reforça uma mensagem de esperança, para ela e seus vizinhos. “Vai tudo melhorar, se Deus quiser. Vai ficar bem. Pedir a Deus que chova, mas que a gente não entre nessa situação de novo”.
“É fato que estamos numa quadra invernosa, por isso que não chova como choveu. Graças a Deus, ninguém foi a óbito. Todo mundo se salvou”, aponta.
“A gente está aqui fazer as coisas direitinho. Já somos vencedores porque estamos contando a história”, concluiu.
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