Unilab: Debate tem denúncia de tentativa de agressão de professor; reitor diz que africano é atacado
Esta é a segunda eleição para Reitoria da Unilab, que passou cerca de nove anos com administrações pró-tempore
Estudantes da Universidade da Integração Internacional da Lusofonia Afro-Brasileira (Unilab) denunciam suposta tentativa de agressão contra um aluno por parte de Segone Cossa, pró-reitor de Assistência Estudantil. Reitor e candidato à reeleição, Roque Albuquerque nega o caso e considera situação uma "execração" de um professor africano.
A confusão ocorreu na segunda-feira, 10, em debate acerca das eleições para a Reitoria da Unilab, realizado no Campus das Auroras, no município de Redenção, distante 55 quilômetros de Fortaleza.
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O grupo de alunos aponta que a situação se deu após o atual reitor ser questionado sobre ausência de professor africano na vice-reitoria. Conforme o relato, Cossa teria tentado agredir o estudante, e sido impedido por colegas do suposto alvo.
"O ato desta segunda demonstra o cunho agressivo e persecutório que a gestão de Roque Albuquerque vem praticando na Universidade, onde o medo de se manifestar se alastra e impõe barreiras no diálogo entre os setores da Unilab", consta em trecho da nota do grupo.
Nas redes sociais, o candidato à reeleição afirmou que o pró-reitor "não agrediu nem com palavras" os estudantes, apenas se levantou e pediu respeito. Roque ainda denominou o grupo de "militantes contratados de fora da Unilab".
"Foi muito complicado os ataques, mas, olha bem, o professor Segone, na sua vibração, professor africano, foi atacado fortemente por um desses militantes contratados, no qual chamava o professor Segone de 'Cadelinha do reitor'', relatou.
"Preparem-se que vocês vão ver como os professores africanos da nossa gestão e de outros institutos serão grandemente atacados por essa turma nas próximas horas, no desespero, porque a chapa 'Unilab Avança' é uma chapa que tem proposição, e nós lamentamos até que, no momento histórico, essas pessoas estão turvando a democracia e vão assassinar, e tentaram assassinar a reputação de uma vítima, um africano que acaba de sofrer violência e invertem, acusando-o de ser violento", continuou Roque.
O POVO contatou a administração da Unilab e o grupo de estudantes em busca de mais informações sobre o caso. A gestão, em nota enviada nesta quarta-feira, 12, afirmou que "há uma clara tentativa de manipulação dos fatos, com a circulação de vídeos editados que omitem as ofensas sofridas pelo professor e reforçam uma narrativa que o responsabiliza injustamente".
"De acordo com relatos colhidos no local, o professor Segone Cossa foi alvo de ofensas verbais constantes por parte de um ex-estudante, que o insultou publicamente durante o debate. Diante disso, ele se levantou e exigiu respeito, mas em nenhum momento houve agressão física de sua parte".
Além de repudiar o caso, a nota diz que "especialistas da Unilab apontam que esse episódio reflete um padrão clássico de racismo, no qual docentes africanos são desumanizados, tendo suas competências questionadas e suas reações amplificadas de forma negativa".
O grupo de estudantes, por sua vez, encaminhou nota do Movimento Negro Unificado do Ceará (MNU-CE), defendendo a "vítima de ameaças e tentativas de agressões físicas por parte de um professor da instituição".
"Segundo relatos colhidos por nossa membresia, como também de pessoas da comunidade acadêmica unilabiana, esse ataque não é um caso isolado. Faz parte de uma onda conservadora que busca silenciar vozes que lutam por igualdade e justiça racial dentro e fora da instituição em questão. Diante desses ataques, reafirmamos nossa solidariedade às pessoas vítimas desses atos", versa o comunicado do MNU-CE.
Como acontece a eleição para Reitoria da Unilab?
Esta é a segunda eleição para Reitoria da Unilab, que passou mais de nove anos tendo administrações pró-tempore, ou seja, diretores nos respectivos cargos escolhidos pelo presidente da República de forma temporária até a realização da eleição formal.
Em 2020, houve a aprovação do Estatuto da Unilab, por meio de uma portaria do Ministério da Educação (MEC). Com isso, foi possível realizar eleições na Universidade para o quadriênio 2021-2025. O processo envolve consulta informal à comunidade acadêmica.
Nessa etapa, estudantes, professores e servidores técnico-administrativos votam nas chapas concorrentes. A consulta não tem caráter decisório, mas orienta a formação da lista tríplice. O resultado é encaminhado ao Conselho Universitário (Consuni).
O Consuni, por sua vez, submete ao Ministério da Educação a formalização da lista tríplice para a nomeação oficial pelo presidente da República. O chefe do Executivo federal pode escolher qualquer nome da lista tríplice, mesmo que não tenha sido o mais votado na consulta acadêmica ou no Consuni.
Em 2025, a consulta informal à comunidade acadêmica ocorrerá das 8 horas desta quarta-feira, 12, até as 17 horas da quinta-feira, 13. A apuração será pública e realizada imediatamente após o encerramento da votação. As chapas poderão enviar fiscais para o momento.
Confira as chapas que concorrem à Reitoria para o quadriênio 2025-2029:
Chapa 1 — Unilab Ubuntu
- Luma Andrade e Lívia Paulia
- Se escolhida, a professora Luma Andrade será a primeira reitora transexual do mundo
Chapa 2 — Unilab Avança
- Roque Albuquerque e Eliane
- Atual reitor, Se reconduzido, terá oito anos no cargo
Chapa 3 — Unilab Reencantar
- Rosalina Tavares e Vera Rodrigues
- Se escolhida, a professora Rosalina Tavares será a primeira reitora africana de uma universidade no Brasil
Atualizada em 12/2/2025