Entenda esquema de compra de votos que tem como investigado Júnior Mano, que reassumiu mandato
Investigação é a mesma que envolve prefeito eleito de Choró, Bebeto Queiroz. Deputado financiaria esquema com verbas de emenda parlamentarO deputado federal Júnior Mano (PSB) voltou à Câmara dos Deputados tendo contra si inquérito da Polícia Federal que o aponta como tendo 'papel central' em esquema de manipulação das eleições 2024, tanto por meio de compra de votos, quanto pelo direcionamento de recursos públicos desviados de empresas controladas pelo grupo criminoso.
Por ser parlamentar e, assim, ter prerrogativa de foro privilegiado, a competência para a condução das investigações é do Supremo Tribunal Federal (STF), onde o caso tramita — de forma sigilosa — pelo ministro Gilmar Mendes.
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O esquema é o mesmo envolvendo o prefeito eleito de Choró, Bebeto Queiroz (PSB), que foi impedido de tomar posse e se encontra foragido, com prisão preventiva decretada.
Bebeto foi preso em 23 de novembro em operação do Ministério Público Estadual (MPCE) que investiga supostos atos ilícitos em contratos de abastecimentos de veículos da Prefeitura de Choró. Ele foi solto dez dias depois, mas teve a prisão preventiva decretada novamente por ocasião da operação da PF contra os crimes que teriam sido cometidos durante as eleições municipais. Está foragido desde então.
Contra Bebeto, o Ministério Público Eleitoral (MPE) ingressou, no último dia 17 de dezembro, com Ação de Investigação Judicial Eleitoral (Aije). Nesta ação, também é alvo a irmã dele, Cleidiane de Queiroz Pereira, apontada como operadora financeira dos supostos esquemas do prefeito eleito.
Deputado citado em depoimento
O nome de Júnior Mano foi inicialmente citado pela então prefeita de Canindé, Rozário Ximenes (Republicanos), em depoimento espontâneo ao Ministério Público Eleitoral (MPE), prestado ainda em setembro de 2024, durante o período eleitoral.
Nele, Rozário afirma ter recebido 'insultos e ameaças' por parte de Bebeto, além de ligações para vereadores da cidade oferecendo grandes quantias em dinheiro e afirmando que iria colocá-la 'para correr'. Afirma ainda que Bebeto seria financiador da campanha de Professor Jardel (PSB), que posteriormente acabou eleito prefeito da cidade (vencendo Kledeon Paulino, apoiado por Rozário), em outubro de 2024.
Rozário afirma que esquema envolve pelo menos 51 prefeituras do Estado do Ceará, e que Bebeto atua juntamente com o deputado federal Júnior Mano, que concederia emendas parlamentares. "O deputado concede as emendas, manda para ele (Bebeto) e ele lava", afirmou a ex-prefeita. "A lavagem consiste em contatar o gestor, oferecendo como exemplo um milhão com retorno de quinze por cento para ele".
A agora ex-prefeita cita ainda cerca de 10 empresas que seriam utilizadas no esquema, por vezes em nome de 'laranjas'. Como ainda não há comprovação de que o valores foram, de fato, encaminhados, O POVO opta por não divulgar quais seriam essas cidades.
Segundo relatório da Polícia Militar do Ceará, as ameaças enviadas por áudio para Rozário Ximenes, partiram do celular de Francisca Naiane Cavalcante Oliveira, apontada como uma das principais traficantes de drogas da região de Targinos, distrito de Canindé, e que teria "participado ativamente da campanha do professor Jardel, inclusive como dirigente de um 'comitê' que funciona naquela localidade".
Investigação aponta aliados envolvidos
Além do depoimento de Rozário, a investigação contra Bebeto se deu também a partir de uma apreensão de quase R$ 600 mil com um policial militar que trabalharia para ele. O acusado não soube explicar a origem do dinheiro, mas apontou que um colega havia pedido para que ele transportasse o montante a uma empresa, a MK Serviços em Construção e Transporte Escolar Eireli, cujo proprietário é Mauricio Gomes Coelho. A PF, porém, encontrou indícios de que Maurício seria apenas um “testa de ferro” e que o empreendimento, na verdade, é de Bebeto.
Documentos da Receita Federal mostram que, até 2020, Maurício tinha vínculo empregatício com uma empresa de segurança privada, na qual ele era cadastrado como segurança e tinha como remuneração média R$ 2.418,77.
Apesar disso, a MK Serviços em Construção e Transporte Escolar Eireli possui R$ 8,5 milhões de capital social, tendo dezembro de 2019 como o início de suas atividades. A empresa realizou contratos com inúmeras prefeituras municipais, em um valor total de R$ 318.927.729,42.
Cleidiane Queiroz é apontada como tendo parte em sociedade em empresas. A M&M Queiroz Construções e Serviços Ltda teve 142 contratos registrados com 12 municípios — dentre eles Choró e Canindé — com montate contratado que ultrapassa os R$ 28 milhões.
Já a QP Comercio Transporte Construções e Serviços Ltda, também com sociedade de Cleidiane, teve 181 contratos com 15 municípios, em montante contratado que ultrapassou os R$ 76 milhões.
A empresa Locax Locações e Serviços Ltda também é citada como tendo atipicidade no volume de pagamentos realizados por entes públicos, tendo contratos com 49 municípios, com valores somados que chegam a quase R$ 308 milhões.
Conversas mostram negociações
Ao apreender, em cumprimento a ordens judiciais, os celulares de Bebeto e de pessoas ligadas a ele, a PF se deparou com conversas que indicam crimes praticados não só nas eleições em Choró, mas também em municípios próximos, como Canindé e Morada Nova.
No processo, há diversas conversas entre pessoas ligadas ao esquema, negociando valores e ofertando quantias em dinheiro em troca de apoio eleitoral.
Em uma delas, Bebeto conversa com o Edgar Amaral Castro de Andrade, então vice-prefeito de Morada Nova, que solicita quantia de R$ 20 mil para buscar reverter quadro eleitoral, no que a PF considera um possível caso de abuso de poder econômico.
Eleitores também teriam tido votos comprados. Um deles, em 1º de outubro, aparece em mensagens no Whatsapp dizendo estar “precisando de uma ajuda”, pois estaria com salários atrasados e devendo dois meses da mensalidade da escola do filho.
Outro cidadão pediu R$ 200 a Bebeto, dizendo que “você pode mandar em quem eu votar”. Em outra conversa, um candidato a vereador de Canindé pede uma “assistenciazinha” a Bebeto e este pede para que ele procure a sua irmã. “Ela vai ver o que pode fazer e lhe dá uma forcinha, viu!”. Já em outra troca de mensagens, um homem diz que consegue 25 votos no distrito de Targinos “pro seu prefeito”, ou seja, Professor Jardel.
Reação do deputado
O POVO entrou em contato com o deputado Junior Mano para abrir espaço para que ele comentasse as acusações. O parlamentar afirmou que o processo está em sigilo e fez acusações à reportagem. "Analisa o processo então pra tu falar de quem é a emenda e etc. Jornalismo comprado. Mídia comprada. Coloca isso na tua reportagem", afirmou. Anteriormente, em entrevista à Rádio Poty, ele declarou ser vítima de "pessoas que não têm voto e que, por isso, vão para a parte sorrateira, de perseguição".