Crise no Psol: em reação a Técio, parlamentares tentam atrair filiados para "resgatar" sigla
Nomeação de dirigentes do partido para cargos em gestões de outras siglas foi estopim para aprofundamento de divisão interna no Psol; correntes trocam acusaçõesEm meio a divergências internas, parlamentares eleitos pelo Psol no Ceará buscam reforçar a militância com novas filiações, para tentar retomar o comando do partido.
A legenda vive hoje situação inusitada: de um lado está a direção do partido. Do outro, os políticos com mandato. O único deputado estadual no Ceará, Renato Roseno, além dos dois vereadores da sigla em Fortaleza, Gabriel Aguiar e Adriana Gerônimo, não têm maioria dentro do Psol. Isso tem gerado desentendimentos, principalmente sobre manutenção de dirigentes partidários nos cargos mesmo após nomeações para gestões em governos municipais ou estadual.
É + que streaming. É arte, cultura e história.
"Essas maiorias artificiais que tomam o aparato partidário só existem porque fazem filiações em massa. Queremos que as pessoas que militam conosco se filiem para retomar a coerência programática", explicou Renato Roseno ao O POVO, confirmando que estão programando atos para que isso ocorra em maior número.
"Psol precisa ser resgatado"
Gabriel Aguiar, segundo vereador mais votado de Fortaleza, afirma que o momento é de resgate do partido, ideologicamente falando.
"Infelizmente, o Psol precisa ser resgatado. Mas eu, particularmente, estou bastante animado em construir o partido. Estamos nos organizando e em breve teremos novidades", adiantou o parlamentar.
Animação permanente
Para Adriana Gerônimo, também vereadora do Psol na Capital, o esforço de animar a militância é permanente.
"Nosso esforço para fortalecer o partido e animar a militância é permanente. Faremos em breve atividades de aproximação de novos militantes", admitiu.
Interesses comuns
Segundo Ailton Lopes, suplente de vereador e ex-presidente do partido, a iniciativa de buscar pessoas que "se identificam com nosso projeto e nossos ideal" para se filiarem conta com a participação dos parlamentares já citados, mas também com "vários e várias camaradas, nossa militância politica e social".
"Estamos nós, que fazemos e queremos o Psol como um partido vivo e democrático, socialista e com independência de classe em defesa do meio ambiente e do povo trabalhador e contra toda forma de exploração e opressão, nos organizando e convocando as pessoas que se identificam com nosso projeto e nossos ideias a se filiarem e lutarem para retomar o partido", afirmou ao O POVO.
Ele afirma haver grupos no partido que buscam filiações para usar a sigla para interesses próprios. "Retomar o partido de uma burocracia que filia pessoas para ganhar congressos, sem qualquer debate, afim exclusivamente de usar o partido para interesses próprios", conclui.
Dentro do leque de reclamações do grupo, também está inclusa a questão financeira, como por exemplo envolvendo valores recebidos via fundo partidário pelo ex-candidato do Psol a prefeito, Técio Nunes, e de algumas candidaturas a vereador, mas que, segundo ele, não se viu investimento real nas campanhas, que acabaram por ter votações muito baixas.
Entre cargos e independência
Além dos três parlamentares eleitos pelo partido, as correntes Subverta, Insurgência, Terra Comum, Resistências, Centelhas, Rebelião Ecossocialista e Movimento Esquerda Socialista prometem recorrer na Nacional do Psol para que os dirigentes do partido que adentraram em gestões de outras siglas sejam afastados dos cargos dentro da sigla.
Presidente municipal do partido, presidente da Federação Psol/Rede e membro do diretório nacional do Psol, Técio Nunes foi nomeado para a Coordenadoria Especial de Políticas sobre Drogas da gestão Evandro Leitão (PT), em Fortaleza. Além dele, Alexandre Uchoa, presidente do Diretório Estadual, foi nomeado assessor de Leitão no Gabinete do Prefeito.
Em reunião realizada no último sábado, 18, presidida por Uchoa, a Estadual pessolista liberou os dirigentes para assumirem as nomeações sem precisarem afastar-se das funções no partido.
Resposta ao "contra-ataque"
Em meio às críticas que tem recebido de colegas de partido, Técio Nunes, que foi o candidato do Psol a prefeito de Fortaleza, desabafou nas redes sociais. No X (antigo Twitter), convocou pessoas que querem "fazer política de esquerda de verdade" e estão preocupadas com a "repercussão política mundial que pode ter um novo governo Trump" para virem para o Psol.
No Instagram, Técio postou um print da postagem no X, seguido com um longo desabafo na legenda da publicação.
"Odeio perder tempo com debates infrutíferos, caluniosos, desrespeitosos e com fortes conotações raciais e elitistas. De qualquer forma fica o convite pra fortalecer o Psol pra você que se preocupa de verdade com o cenário que se apresenta e sabe que a esquerda não vive um momento fácil. (...) Já lido com isso há 20 anos no Psol e sei bem como superar esse esperneio de menino mimado pequeno burguês que perdeu o brincado de vacilão na hora do recreio! Sigamos com responsabilidade e fazendo o debate sério! Sem esquecer jamais de onde viemos e para onde queremos ir! Doa a quem doer!", afirmou.
Ele também fez questão de se diferenciar em relação ao grupo interno opositor: "Sempre fiz e faço tudo na minha vida com muita dedicação e responsabilidade. Para alguns, pessoas como eu, que vem de onde eu vim, chegar em algum lugar é resultado de conchavo e oportunismo. Eles quando chegam e ocupam esses lugares se colocam como merecedores e, às vezes, até como completos abnegados, livres de qualquer suspeita de pragmatismo ou interesses pessoais".
Crítica direcionada
Em conversa com O POVO, Alexandre Uchoa reafirma que sua entrada na gestão de Evandro, assim como a de Técio, estão inseridas "dentro da linha de análise e resolução do Psol Ceará, que destaca o tamanho do desafio que temos como esquerda e campo progressista, com o crescimento da extrema direita no Brasil e no mundo, a exemplo, as medidas que o Trump, nos Estados Unidos, vem anunciando e seu discurso de ódio aos direitos humanos".
Para ele, a esquerda tem obrigação de assumir responsabilidades. "A esquerda não pode se dar ao luxo de se abster de responsabilidades com os governos que se apresentem como resistência a esse movimento fascista", afirma.
Citando os colegas, ele lamentou as críticas que o comando partido tem recebido. "É lamentável que os nossos parlamentares Gabriel Aguiar, Adriana e Renato Roseno queiram perder tempo atacando a militância do partido e também toda a militância de esquerda que compõe o governo Evandro e Elmano e do Lula", concluiu.