Membros do Psol pedem que Técio se afaste da direção da sigla após ida para governo Evandro
Carta aponta que filiados souberam da nomeação por meio da imprensa e que, até o momento, não houve reunião para discutir "sequer balanço das eleições"
10:44 | Jan. 16, 2025
Membros do Psol emitiram carta nesta quarta-feira, 15, afirmando que o partido "não estará na Prefeitura de Fortaleza e seguirá com sua independência". A situação ocorre em meio à indicação de Técio Nunes, presidente do diretório municipal, para assumir a Coordenadoria Especial de Políticas sobre Drogas.
Trecho do documento, que mobiliza assinatura de filiados, pede o afastamento imediato de Técio das instâncias partidárias. Além de integrante do Diretório Nacional do Psol, ele é presidente da Federação Psol/Rede no Ceará.
O colunista Carlos Mazza, do O POVO, havia antecipado que lideranças do Psol local destacavam que a indicação não significa "alinhamento" com a gestão e que bancadas da sigla são independentes. A carta, por sua vez, foi compartilhada por Ailton Lopes, suplente de vereador pelo Psol, e pela corrente partidária Insurgência Reconstrução Democrática. O deputado estadual Renato Roseno (Psol) também compartilhou.
No texto, há a justificativa de que resolução nacional do Psol determina o afastamento das funções em caso de nomeação de psolistas em governos compostos por partidos da direita neoliberal. A carta cita o MDB, PSDB, União Brasil, Podemos, Avante e Novo como exemplos. Apesar da chapa da Prefeitura ser formada por PT-PSD, o MDB é um dos partidos aliados e União Brasil e Podemos compõem a gestão.
"Destacamos que, por óbvio, isso vale tanto para as e os que venham a assumir lugar na nova Prefeitura quanto para aquelas e aqueles que estão em cargos de segundo e terceiro escalão no Governo do Estado e que, por quaisquer razões, ainda não se afastaram das instâncias de direção partidária", continua.
O documento alega que os signatários tomaram conhecimento da indicação de Técio apenas pela imprensa. "As negociações que levaram à nomeação foram feitas sem consideração nem respeito a qualquer instância partidária", observa, citando as executivas e diretórios estaduais e municipais.
Além disso, a carta expõe que as referidas instâncias estão "paralisadas e silenciadas, sem reunir, nem debater" e que "sequer o balanço coletivo das eleições municipais do ano passado foi realizado". No pleito de 2024, Técio foi candidato a prefeito de Fortaleza.
"A nomeação de Técio, portanto, não nos representa e não representa o que defendemos para o Psol, tampouco fortalece a relação da nova gestão com o nosso partido, pelo contrário", versa, pontuando também que tal cenário configura decisão pessoal do agora secretário de Evandro Leitão (PT).
Desproporcional
Sobre a questão, Técio Nunes afirmou ao O POVO que considera legítimas as críticas, mas as teria feito de outra forma. "Todo movimento interno é legitimo, sempre foi uma característica do Psol ser diverso, político e ter suas divergências. As pessoas têm direito de demonstrar suas opiniões. Agora, eu levaria num tom mais respeitoso, sempre busquei fazer assim quando tem divergência. Achei, de certa forma, um tom desmedido, desproporcional por conta da disputa interna", avaliou.
O ex-candidato a prefeito de Fortaleza informou que, sobre essa questão, o Psol irá se reunir no próximo sábado, 18, devendo definir uma posição sobre a questão. "A posição que o partido definir como correta, eu irei respeitar", garantiu.
Veja carta na íntegra:
Presidente do Psol e Ailton batem boca nas redes sociais
Após a postagem de Ailton, o primeiro comentário no Instagram foi de Alexandre Uchoa, presidente do Psol no Ceará. Em tom nada amigável, ele afirma que "ainda bem que o Psol não tem direção". Em seguida, fez série de críticas: "E a posição não será necessariamente a sua opinião, Ailton, ou do seu clubinho de aliados, que se acham a reserva moral da esquerda e saem tacando o dedo na cara de todos os partidos, organizações e pessoas que pensam diferente de você".
Uchoa continua, afirmando que, apesar de respeitar a opinião do colega de partido, respeita mais a posição da maioria do partido. Na sequência, parabeniza João Alfredo, Zuleide (Crato) e agora Tecio Nunes "que se dispõem e emprestam seus nomes a trabalhar na construção de dias melhores pro nosso povo ao invés de fazer lacração nas redes e tentar falar em nome do partido onde vocês juntos não representam nem 30% da direção do PSOL Ceará nem em Fortaleza".
Ex-presidente do partido, Ailton responde Alexandre. "Vocês não têm maioria em lugar nenhum. A maioria de vocês é de pessoas que vocês levam em época de congresso baseado em filiações artificiais, vocês instrumentalizam as pessoas. (...) Depois dos acertos de gabinete pra garantir um cargo pra mais um de seu grupo, e sob pressão, é que vai chamar depois de meses, uma reunião. Há instâncias que nem funcionam. Mas o partido não se resume a uma burocracia pelega e corroída. Há gente de luta que é sim uma reserva moral, com orgulho, em defesa da história do partido, de nossos valores e da classe trabalhadora. Que não usa o partido como instrumento de uma burocracia pra promover interesses de um pequeno grupo", rebateu.
Na sequência, Ailton deixou outro comentário, agora tratando dos nomes de João Alfredo e Zuleide. "Não coloque Zuleide e João Alfredo nos mesmos termos. Embora discorde da participação deles em governos, isso ocorreu mediante uma articulação de movimentos sociais. Discordo de comporem os governos, mas entendo e compreendo de onde veio a articulação deles, como expressão de uma luta social de base e não acordos de gabinete", concluiu.