Hospital Universitário: Cabeto critica modelo e alerta para aumento de custos

O ex-secretário da Saúde do Ceará disse que o Hospital Universitário do Ceará (HUC) foi desenhado para ter "emergência de porta aberta em todas as especialidades" e questionou a mudança

13:16 | Jan. 16, 2025

Por: Vítor Magalhães
Doutor Cabeto, ex-secretário da Saúde do Ceará. (foto: DEÍSA GARCÊZ/Especial para O POVO)

O ex-secretário da Saúde do Ceará, Carlos Roberto Martins Rodrigues Sobrinho, o Dr. Cabeto (PSDB), comentou a iminência da entrega do Hospital Universitário do Ceará (HUC), prevista para fevereiro, e fez críticas ao desenho operacional inicial do equipamento, que deve começar apenas com atendimentos oncológicos e vasculares e necessitar de encaminhamentos de outras unidades. O ex-titular da Sesa foi entrevistado na Rádio O POVO CBN, nesta quinta-feira, 16.

Cabeto foi secretário da Saúde no governo Camilo Santana (PT) e participou do projeto que deu forma ao hospital construído dentro da Universidade Estadual do Ceará (Uece). Ele destacou que o projeto inicial previa abertura com atendimento emergencial - de portas abertas -, em todas as especialidades e que eventuais mudanças podem aumentar custos.

“A informação que temos é que iniciaria com duas especialidades: oncologia e a parte de cirurgia vascular, mas a gente sabe que isso está longe do modelo que nós, quando elaboramos a proposta, colocamos (...) O HUC foi desenhado, obrigatoriamente, para ter emergência de porta aberta em todas as especialidades, até porque é um hospital de ensino. Trauma, cirurgia geral, cardiologia, clínica médica, ginecologia, obstetrícia”, elencou.

Cabeto disse que foi informado por funcionários da saúde e médicos do Estado de que o funcionamento não ocorreria desta forma. “Já soube que não vai funcionar assim. A meu ver isso pode acrescentar custos ao sistema de saúde e diminuir a eficiência. Acho que há um equívoco na formatação do que tem sido apresentada”, destacou.

Neste ano, a secretária da Saúde, Tânia Coelho, explicou que por se tratar de um hospital de alta complexidade, os pacientes deverão ser referenciados à unidade. A emergência médica só deve funcionar para casos de obstetrícia, quando o setor materno-infantil do Hospital César Cals for transferido para o HUC.

O governador Elmano de Freitas (PT) informou que o hospital começa a operar em fevereiro e chegou a convidar o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) para o evento de abertura das operações.

Questionado sobre eventual aumento de custos operacionais com menos especialidades, Cabeto explanou: “Vai iniciar com essas especialidades, mas teoricamente vai ter todas. O problema é que quando você faz um hospital, existe um custo fixo que, tanto faz ter 100 ou 500 leitos. É o custo de infraestrutura, administração, diagnóstico. Então quando se tem menos leitos, o custo por leito aumenta", argumentou.

E completou: "Não tem sentido ter duplicidade. Esse hospital nasceu para substituir o Hospital César Cals e, a partir disso, fazer uma rede de alta complexidade com o Hospital Geral (HGF), o Hospital de Messejana e o Hospital da UFC, reduzindo as internações nas Unidades de Pronto Atendimento (UPAs)”.

Papel das UPAs

O ex-titular da Sesa reconheceu o papel das UPAs, mas reforçou críticas a internações nos equipamentos. “UPA não é para estar internado. Não resolve problema complexo, quando chega na UPA não consegue transferir, atrasa o atendimento de doenças que precisam de tempo, infarto, AVC, e aumenta a mortalidade. Há dados mostrando que a mortalidade chega perto de 100% quando se precisa de UTI e está numa UPA”.

E seguiu: “É preciso não distorcer essa lógica, porque pode prejudicar o sistema e encarecer (as operações), porque ter duas unidades com um custo fixo alto, e uma delas com poucos leitos, esse custo durante um tempo é muito maior”, pontuou.

O médico apontou como deve funcionar o HUC neste início. “Foi o que ouvi de funcionários e médicos, que não iria funcionar de porta aberta, que seria referenciado. Teria um perfil 'x', e o usuário continuaria indo para a UPA e depois seria transferido para essa unidade. A UPA preenche um papel importante no sistema de saúde, mas estão sendo utilizadas para o que não deve. Internação em UPA é um erro grosseiro”.