Eleição em Fortaleza, quebra de tabu e fim de hegemonia: os fatos da política cearense em 2024
O ano guardou retornos históricos, vitórias marcantes, quebra de tabu e foi recheado de emoções em todo o EstadoNos dias finais do ano, grande maioria dos políticos está de recesso. Em ano eleitoral, especialmente com mudança de gestão, é que a temporada política se mantém movimentada. Prefeito eleito de Fortaleza, Evandro Leitão (PT), ainda está no processo de anunciar seu secretariado. Outros gestores, assim como ele, se preparam para serem empossados no dia 1º de janeiro de 2025.
A transição encerra um ano marcado por de tudo um pouco: teve mudanças de partido, disputas internas, quebra de tabu, fim de hegemonia e até incêndio.
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O POVO separou os dez fatos da política cearense que marcaram e movimentaram o cenário político.
Cid chega ao PSB com seu bloco de prefeitos
O ano de 2024 começou com uma grande mudança no mundo da política. O senador Cid Gomes deixou o PDT e ingressou, ainda no dia 4 de fevereiro, nas fileiras do PSB. Além dele, 40 prefeitos do Ceará, mais de 100 vereadores em todo o Estado e 40 mulheres, entre elas, a ex-governadora Izolda Cela, se filiaram ao partido.
A mudança de legenda feita pelo ex-governador encerrou um capítulo da crise instalada no PDT em que, de outro lado, estava o irmão Ciro Gomes. Os embates acontecem desde a eleição de 2022, com a escolha de Roberto Cláudio como candidato do PDT ao Governo do Ceará.
Em uma escalada de brigas e desavenças, o racha atingiu outras áreas como as eleições municipais de 2024 e o apoio formal ao governador Elmano de Freitas (PT).
Enquanto estava no PDT, o senador desejava uma reaproximação com o PT, liderado pelo ministro Camilo Santana (PT) e também estender o apoio à candidatura em Fortaleza. Após um ano de desavenças e diversas reviravoltas com decisões judiciais, Cid e o grupo de cerca de 40 prefeitos anunciaram que iriam deixar o partido.
Evandro vence disputa interna no PT, é candidato e é eleito prefeito de Fortaleza
Mais um desdobramento de 2023 foi a disputa pela definição de quem seria o candidato petista à Prefeitura de Fortaleza. Evandro Leitão se filiou ao partido com força de um pré-candidato, mas o PT segue ritos internos. Outros três pré-candidatos se organizaram para disputar quem seria o nome que seria chancelado, não pelo PT, mas por um grande arco de aliados.
O presidente do PT em Fortaleza, o deputado estadual em exercício, Guilherme Sampaio, a deputada federal e ex-prefeita Luizianne Lins e a deputada estadual Larissa Gaspar concorreram junto a Evandro. Na votação das chapas, quase um veredito: aliados de Evandro tiveram maioria. No encontro municipal, o grupo de Luizianne retirou a candidatura da deputada nos últimos momentos. Apesar de se absterem, Evandro foi escolhido candidato.
E foi uma longa trajetória durante a eleição. O petista foi para o segundo turno atrás por larga diferença de seu adversário André Fernandes (PL). O liberal teve 40,2% dos votos válidos contra 34,3% de Evandro. Fernandes venceu em 89 bairros da Capital, enquanto Leitão levou a melhor em 21.
No segundo turno, a vitória foi o resultado mais apertado desde as eleições de 1988. Neste ano, Evandro foi escolhido por 716.133 eleitores, uma parcela de 50,38% do eleitorado. André Fernandes obteve 705.295 votos, um quantitativo de 49,62%. A diferença foi de 10.838 votos. Assim, o PT retorna à Prefeitura de Fortaleza após 12 anos.
José Sarto se torna o 1º prefeito de Fortaleza a não ser reeleito
A definição do segundo turno deixou a marca para José Sarto (PDT), o primeiro da história de Fortaleza a não ser reeleito para um segundo mandato. O candidato ficou em terceiro lugar e recebeu 11,73% dos votos válidos, indicando uma derrota para o partido após 12 anos no poder.
Diferentemente dos prefeitos anteriores, Sarto é o primeiro a não conseguir a reeleição. Em 2000, Juraci Magalhães foi reeleito; Luizianne Lins, em 2008, foi eleita para mais um mandato ainda no primeiro turno; e Roberto Cláudio também garantiu mais quatro anos de gestão, em 2016.
Ex-prefeito Roberto Cláudio se alia com a direita
A eleição também marcou a consolidação da aliança do PDT estadual na oposição. Na liderança, o ex-prefeito de Fortaleza Roberto Cláudio. Com o segundo turno entre André Fernandes e Evandro Leitão, RC e alguns de seus aliados escolheram integrar a campanha de Fernandes, com quem já trocou, no passado, farpas.
O ex-prefeito teve apoio do PT em momentos anteriores e era próximo de Camilo. O apoio ao liberal rendeu críticas a RC.
Naumi Amorim volta para Prefeitura de Caucaia
Outro resultado da eleição municipal foi o retorno de Naumi Amorim (PSD) para a Prefeitura de Caucaia. Ele não conseguiu a reeleição em 2020 e foi derrotado por Vitor Valim, hoje filiado ao PSB. Na época, Valim atuava na oposição.
Valim escolheu não tentar a reeleição e indicou Waldemir Catanho (PT) para disputar a sucessão. Por oito votos de diferença para Emilia Pessoa (PSDB), Catanho foi para o segundo turno com Naumi, que venceu com 60,4% dos votos.
Glêdson vence o tabu e é reeleito
Circula, como conto popular, que foi o próprio Padre Cícero, fundador da cidade, que projetou que Juazeiro do Norte não iria reeleger um prefeito. Até este ano, o tabu se mantinha. Glêdson Bezerra (Podemos) fez o que nenhum prefeito no município fez. Concorrendo pelo bloco da oposição estadual, ele disputou contra Fernando Santana (PT), que aglutinou diversas lideranças na mesma chapa.
Ferreira Gomes perdem em Sobral
O resultado do pleito marcou também o fim da hegemonia da família Ferreira Gomes em seu berço político, o município de Sobral, distante 233 quilômetros de Fortaleza.Com 100% das urnas apuradas, Oscar Rodrigues (União Brasil) foi eleito com 52,42% dos votos válidos. Izolda Cela (PSB), ex-goveradora e candidata do grupo, contabilizou 47,58%. Foram 28 anos de gestões dos grupo.
Incêndio na Assembleia
O ano foi marcado ainda pelo incêndio que destruiu o plenário da Assembleia Legislativa (Alece). A estrutura foi reeinaugurada em novembro tendo sido recuperada quatro meses após reforma necessária em virtude de incêndio que ocorreu no prédio, no último 20 de junho. A obra começou em 1° de julho deste ano e custou cerca de R$ 23,7 milhões.
A nova estrutura do teto traz imagens na área nas galerias que remetem ao Estado do Ceará, como ilustrações de Padre Cícero, jangadas, cactos, carnaúba, o chapéu de Lampião, além de Iracema, personagem de José de Alencar. A tonalidade do carpete e mesas dos deputados estaduais, feitas de mármore, é verde escuro.
Presidência da Alece estremece relação entre Elmano e Cid
Com a saída de Evandro para a Prefeitura de Fortaleza, uma vaga se abriu para quem iria comandar a Assembleia. O nome de Fernando Santana recebia todas as bençãos para ser o candidato da base. Até que o senador Cid Gomes manifestou incômodo com a concentração de poderes com o PT.
Aliados de Cid, como sua irmão Lia Gomes, comentaram que haveria um afastamento do senador da gestão de Elmano. O senador, depois, alegou que nada esta resolvido.
Diante do impasse, Fernando Santana, publicamente, renunciou de ser o indicado para a disputa. Com as bençãos de Cid e acordo com nomes petistas, o líder do governo Elmano, Romeu Aldigueri (PDT) foi o candidato e venceu em chapa única.
Onélia Santana, esposa de Camilo, indicada ao TCE
Dezembro também foi agitado, mesmo com a eleição já tendo passado. Uma vaga do Tribunal de Contas do Estado (TCE) estava aberta e precisava ser preenchida. A vaga era de uma indicação da Assembleia. Muitos foram cotados, mas parecia certo que a vaga seria de Onélia Santana (PT), então secretária de Proteção Social. Ela é também esposa do ministro da Educação, Camilo Santana.
A indicação gerou críticas da oposição sobre o currículo dela e a relação com Camilo. A sabatina foi tensa, feita sem a presença da imprensa. Mesmo assim, ela foi aprovada com ampla maioria. A secretária já foi empossada como conselheira.
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