Girão é citado duas vezes no relatório da PF que indiciou Bolsonaro por plano de golpe
O senador não aparece entre os investigados nem foi indiciado no caso que tramita no STFO senador cearense Eduardo Girão (Novo) foi citado duas vezes no inquérito da Polícia Federal (PF) que indiciou o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e outras 36 pessoas por tentativa de golpe que visaria manter o ex-mandatário no poder mesmo com a derrota nas urnas. Girão não integra a lista nem era tido como investigado no caso.
A primeira menção aconteceu quando a PF investigava a ativa participação de aliados de Bolsonaro na mobilização de manifestantes apoiadores do ex-presidente que tomavam praças públicas e locais nas proximidades de quarteis do Exército.
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Publicação de “boas-vindas”
Uma das conversas registradas no documento acontece entre o major Rafael Martins de Oliveira (“Joe”) e o tenente-coronel Mauro Cid, então ajudante de ordens da presidência. Rafael Oliveira pede direcionamento de Mauro Cid para poder direcionar os manifestantes.
A PF também afirma que além de orientar diretamente os manifestantes, os investigados se utilizam de declarações de políticos aderentes ao espectro político de Bolsonaro “para instigar parcela da população a aderir às manifestações, sob o pretexto de exercerem o direito constitucional de “liberdade de expressão””, como aponta o documento da polícia.
Mauro Cid encaminha para ‘Joe’ um link de um vídeo em que o deputado estadual eleito por São Paulo, Tomé Abduch (Republicanos), convoca pessoas para comparecer a uma manifestação no dia 15 de novembro de 2022 exatamente na Praça dos Três Poderes.
O grupo de apoiadores, que era contra a posse do então presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT), usou o feriado da Proclamação da República, 15 de novembro, naquele 2022, na tentativa de mobilizar maior adesão aos atos golpistas. Durante a manhã, bolsonaristas intensificaram presença em cidades como São Paulo, Belo Horizonte e Rio de Janeiro.
Em seguida, ‘Joe’ encaminha para Mauro Cid o link de uma publicação de Girão dando boas-vindas aos manifestantes que iriam se dirigir ao parlamento brasileiro, seguida de uma foto do Congresso tomado por manifestantes.
“SEJA BEM VINDO! Visita às vezes necessária p exercício da cidadania em momentos cruciais. Minha esperança é ver cada vez + brasileiros acompanhando a política, reivindicando- respeitosa e pacificamente-junto ao Parlamento q cumpra o seu dever constitucional. Levanta Senado! Paz & Bem”, diz o texto de Girão datado de 11 de novembro de 2022.
Audiência no Senado que teve críticas às urnas
A segunda menção acontece quando a PF discorre sobre audiência organizada no Senado Comissão de Transparência, Governança, Fiscalização e Controle e Defesa do Consumidor. O evento aconteceu no dia no 30 de novembro de 2022, atendendo um requerimento de Girão. A audiência tinha como tema a “fiscalização das inserções de propagandas políticas eleitorais”, mas muitas das falas foram de questionamentos ao processo eleitoral e contra as urnas eletrônicas. A sessão está disponível no canal do Senado.
“Os investigados aproveitaram o evento para propagar informações falsas sobre as urnas eletrônicas e o processo eleitoral de 2022, como forma de acirrar as manifestações que estavam ocorrendo naquele momento”, ressalta a PF.
Entre os convidados para o evento estavam os investigados Carlos Rocha, do Instituto Voto Legal, e o consultor político Fernando Cerimedo. “Ambos aproveitaram o momento de visibilidade para disseminar os “estudos técnicos”, já descritos no presente relatório, que teriam identificados falhas e vulnerabilidades que colocaram em descrédito o pleito”, diz ainda o relatório elaborado pelos agentes federais.
No documento, a investigação aponta que aliados de Bolsonaro trabalharam para a difusão da audiência. “ O grupo investigado agiu de forma coordenada com os manifestantes para criar um falso ambiente de adesão e pressão popular ao ideário de utilização do art. 142 da CF, legitimando uma intervenção militar no país. Nesse sentido, o General MÁRIO FERNANDES destinou especial atenção para que o evento tivesse apoio e publicidade desejados”, escreve o texto.
O nome de Girão aparece em diálogo entre o secretário-executivo Mário Fernandes e o coronel Reginaldo Vieira de Abreu, seu chefe de gabinete na Secretaria-Executiva da Presidência da República . Ele é chamado pelo codinome VELAME:
“Força, VELAME! Vai ter uma audiência pública, porra, tá todo mundo comentando com o cara expondo sobre a esclarecendo ainda mais sobre o que os achados da fraude eleitoral, porra, e a pressão daquela galera, veio muita gente do QG pra essa audiência pública. Foi o Girão que fez votar e foi aprovada por unanimidade. E ali não tem censura, então o nego vai falar tudo. Eu tô cerrando pra lá junto com o Coronel SÁVIO e o JESUS. Força!”, escreve Mário Fernandes.
Rafael Oliveira, Mário Fernandes, Carlos Rocha, Fernando Cerimedo e Mauro Cid foram indiciados pelos crimes de abolição violenta do Estado Democrático de Direito, golpe de Estado e organização criminosa.
O que diz o senador
Consultado pelo O POVO, o senador ressalta que o texto dele citado no documento da PF diz "textualmente que os atos reivindicatórios do 8 de janeiro devem ser RESPEITOSOS e PACÍFICOS".
Quanto à audiência, ele aponta que "à luz da verdade e da ética, é imperativo destacar que a referida sessão foi legitimamente aprovada - e por unanimidade entre partidos de esquerda e direita - obedecendo o regimento da Casa".
"De forma republicana foram convidados a participar da discussão inúmeras entidades da sociedade civil, entre elas OAB, Polícia Federal, ministros do TSE, STF e TCU e outras autoridades do mundo jurídico, objetivando, portanto, um amplo debate sempre em conformidade com os ditames legais e regimentais do Senado da República", ressalta.
Ela afirma que as duas menções, nas 800 páginas do inquérito da Polícia Federal, "não ensejam qualquer ofensa à moralidade e ética".
"Repudio com veemência qualquer ilação ou ataque à minha reputação como político e/ou como cidadão. Minha trajetória de vida é e sempre será pautada em favor de valores e princípios éticos e pela pacificação do País. Medidas judiciais cabíveis serão prontamente adotadas caso tentem conectar meu nome a qualquer ilícito", diz.
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