Saiba quem são os três políticos cearenses que têm antepassados ligados à escravidão

Ciro Gomes, Cid Gomes e Augusta Brito descendem de pessoas que faziam uso de mão de obra escravizada

12:19 | Nov. 21, 2024

Por: Alice Barbosa
Cid Ferreira Gomes e Ciro Ferreira Gomes têm antepassado que fez uso de mão de obra escravizada, segundo investigação da Agência Pública. (foto: Divulgação/Twitter Ciro Gomes)

Ciro Ferreira Gomes (PDT), Cid Ferreira Gomes (PSB) e a senadora Augusta Brito (PT) têm antepassados diretos que escravizaram pessoas durante os períodos colonial e imperial do Brasil.

A investigação que mapeou os antepassados de mais de cem políticos brasileiros do Executivo e Legislativo para verificar se havia casos de uso de mão de obra escravizada é denominada Projeto Escravizadores e foi feita pela Agência Pública.

O resultado do mapeamento é que ao menos 33 autoridades, dos 116 investigados, teriam antepassados ligados à escravidão. Muitos dos políticos sequer conheciam seus antepassados ou mantêm relação próxima com a sua linhagem.

É o caso dos Ferreira Gomes. Em resposta às perguntas da Agência Pública, Cid afirmou: "Abomino a escravidão. A humanidade nunca deveria ter feito isso na história. Um humano ser proprietário de outro humano atenta contra qualquer princípio humano, ético e moral. Isso é a coisa mais horrível que existe. Não faço a menor ideia se é meu trisavô e nunca soube disso.”

Os irmãos Ciro e Cid Ferreira Gomes têm como trisavô Cesário Ferreira Gomes - sem data de nascimento conhecida e falecido por volta de 1876 - ligado à escravidão. Há registros do estabelecimento da família Ferreira Gomes em Sobral, no Ceará, onde o trisavô de Ciro e Cid teria tido ao menos uma pessoa escravizada.

A tradicional família Ferreira Gomes tem longa trajetória política entrelaçada à própria história do município de Sobral. Apenas quatro anos depois da morte de Cesário Ferreira Gomes, seu filho, Vicente Cesar Ferreira Gomes, se torna o primeiro prefeito da cidade, em 1890.

Augusta Brito similarmente se beneficia do capital político dos familiares. Ela é filha do ex-prefeito de Graça, no Ceará, e também foi prefeita do município entre 2005 e 2012.

Ela foi casada com Gadyel Gonçalves (PT), ex-prefeito de São Benedito, que se candidatou à prefeitura de Graça, nas eleições municipais deste ano, com o vice Augusto César Brito (PT) - irmão da senadora - mas foi derrotado por Iraldice Mão Cheirosa (PP).

Conforme a investigação, Augusta Brito outra política que tem antepassado que fez uso de mão de obra escravizada. Ela tem como oitavo avô o capitão Antônio Rodrigues Magalhães, que ao falecer, teria deixado nove pessoas escravizadas.

De acordo com registros, ele era proprietário da Fazenda Caiçara, em Sobral-CE, mas nasceu em 1702 em Natal, no Rio Grande do Norte, e faleceu por volta de 1757.

Em nota, a assessoria da senadora Augusta Brito esclareceu que desconhecia a existência de "vínculos, ainda que indiretos, de sua oitava geração de antepassados com algo tão abominável" como a escravidão.

"Como cidadã e representante do povo brasileiro, ela repudia veementemente qualquer prática que atente contra a dignidade humana, incluindo a escravidão, um capítulo profundamente doloroso de nossa história que deve ser lembrado apenas para jamais ser repetido.

Ao longo de sua trajetória, a senadora sempre pautou suas ações na defesa intransigente dos direitos humanos, da justiça social e da igualdade de oportunidades. Seu compromisso é com a construção de uma sociedade justa e solidária, na qual o respeito à diversidade e a valorização da dignidade humana devem ser princípios inegociáveis.

A senadora reafirma seu compromisso com políticas que promovam a reparação histórica das desigualdades e a superação de qualquer forma de exploração ou opressão. Sua atuação no Parlamento é reflexo dessa visão, com projetos e iniciativas voltados à garantia dos direitos das populações vulneráveis e ao fortalecimento da cidadania plena.

Por fim, a senadora reforça que abomina toda e qualquer prática que se oponha aos valores de liberdade, igualdade e respeito ao próximo, princípios que norteiam sua vida e seu trabalho", conclui.

O resultado do mapeamento

Dos oito presidentes do Brasil após o fim da ditadura de 1964, metade descende de pessoas que faziam uso de mão de obra escravizada:

José Sarney, Fernando Collor, Itamar Franco e Fernando Henrique Cardoso.

Dos 81 senadores, 16, um quinto, têm antepassados ligados à escravidão:

  1. Augusta Brito (PT-CE)
  2. Carlos Portinho (PL-RJ),
  3. Carlos Viana (Podemos-MG)
  4. Cid Ferreira Gomes (PSB-CE)
  5. Ciro Nogueira (PP-PI)
  6. Efraim Filho (União-PB)
  7. Fernando Dueire (MDB-PE)
  8. Jader Barbalho (MDB-PA)
  9. Jayme Campos (União-MT)
  10. Luis Carlos Heinze (PP-RS)
  11. Marcos do Val (Podemos-ES)
  12. Marcos Pontes (PL-SP)
  13. Rogério Marinho (PL-RN)
  14. Soraya Thronicke (Podemos-MS)
  15. Tereza Cristina (PP-MS)
  16. Veneziano Vital do Rêgo (MDB-PP)

Dos 27 governadores, quase metade, 13, também entrou no levantamento:

  1. Carlos Brandão Júnior (PSB-MA)
  2. Cláudio Castro (PL-RJ)
  3. Eduardo Riedel (PSDB-MS)
  4. Fátima Bezerra (PT-RN)
  5. Gladson Camelli (PP-AC)
  6. Helder Barbalho (MDB-PA)
  7. João Azevêdo (PSB-PB)
  8. Jorginho Mello (PL-SC)
  9. Rafael Fonteles (PT-PI)
  10. Raquel Lyra (PSDB-PE)
  11. Romeu Zema (Novo-MG)
  12. Ronaldo Caiado (União-GO)
  13. Tarcísio de Freitas (Republicanos-SP)