Lula comenta tentativa de envenenamento contra si e Alckmin: "Não deu certo, estamos aqui"

Na manhã da última terça-feira, 19, a Polícia Federal (PF) deflagrou operação contra suspeitos de integrar organização criminosa que planejou matar presidente, vice e o ministro do STF Alexandre de Moraes

15:56 | Nov. 21, 2024

Por: Vítor Magalhães
Geraldo Alckmin e Lula (foto: Ricardo Stuckert/PR)

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) falou, pela primeira vez em um evento público, sobre o plano de assassinato contra ele mesmo e contra o vice-presidente Geraldo Alckmin (PSB), revelado por operação da Polícia Federal (PF) que prendeu, nesta semana, um grupo de militares suspeito de arquitetar o plano contra a chapa eleita em 2022. O grupo planejava ainda a morte do ministro do Supremo Tribunal Federal, Alexandre de Moraes.

"Eu sou um cara que tenho que agradecer agora, muito mais, porque estou vivo. A tentativa de envenenar eu e o Alckmin não deu certo, nós estamos aqui", disse o petista em tom bem-humorado, provocando risos de parte do público presente em evento no Palácio do Planalto para divulgar planos para concessão de rodovias.

Na manhã da última terça-feira, 19, a Polícia Federal (PF) deflagrou operação contra suspeitos de integrar organização criminosa que planejou matar Lula, Alckmin e Moraes.

A PF cumpriu cinco mandados de prisão preventiva, três de busca e apreensão e 15 medidas cautelares, que incluem a proibição de manter contato com os outros investigados e solicita a entrega de passaportes, além da suspensão de funções públicas.

Qual era o plano para matar Lula, Alckmin e Moraes?

A PF revelou um plano de um grupo de militares para matar a chapa recém-eleita de Lula e Geraldo Alckmin, além de Moraes, identificados em diálogos dos envolvidos com os codinomes Jeca, Joca e Professora, respectivamente.

Até mesmo uma possível data para os assassinatos foi definida: 15 de dezembro de 2022, três dias após a diplomação e antes da posse. O plano foi intitulado de “Punhal Verde e Amarelo".

Para execução do presidente Lula, o documento descreve, considerando sua vulnerabilidade de saúde e ida frequente a hospitais, a possibilidade de utilização de envenenamento ou uso de químicos para causar um colapso orgânico. Alckmin era outro alvo para evitar que assumisse por ocupar o posto de vice. No entendimento dos suspeitos, a "neutralização extinguiria a chapa vencedora”.

Para o ministro do STF foi cogitado o uso de artefatos mais pesados, como explosivos. "Foram consideradas diversas condições de execução do ministro Alexandre de Moraes, inclusive com o uso de artefato explosivo e por envenenamento em evento oficial público. Há uma citação aos riscos da ação, dizendo que os danos colaterais seriam muito altos, que a chance de ‘captura’ seria alta e que a chance de baixa (termo relacionado a morte no contexto militar) seria alto", destaca a investigação.

Como o plano foi descoberto?

Relatório da PF destacou que as investigações sobre o plano para matar as autoridades supracitadas são um aprofundamento de dados obtidos a partir da operação Tempus Veritatis, realizada em fevereiro.

“Com a análise do material apreendido durante a operação ‘TEMPUS VERITATIS’, a investigação identificou
informações relevantes acerca de ações operacionais ilícitas executadas por militares com formação em Forças Especiais (FE)", destaca o documento.

A operação Tempus Veritatis teve entre seus alvos militares e então autoridades suspeitos de participar de uma tentativa de golpe de Estado com intuito de impedir a posse da chapa eleita em 2022 e manter no poder o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).

Quem foi preso?

Na operação, foram decretadas as prisões preventivas de Mário Fernandes, general de Brigada (reserva) e ex-chefe substituto da Secretaria Geral da Presidência da República durante a gestão do ex-presidente, Jair Bolsonaro (PL), entre outubro de 2020 e janeiro de 2023.

Outros três militares foram presos: o tenente-coronel Hélio Ferreira Lima, o capitão Lucas Guerellus e o major Rafael Martins de Oliveira. Além do agente da Polícia Federal, Wladimir Matos de Oliveira.

Qual a relação com os chamados “Kids Pretos”?

Três militares dos “Kids Pretos” foram presos durante a operação da PF: Rafael Martins de Oliveira: militar com formação em Forças Especiais; Rodrigo Bezerra de Azevedo: militar com formação em Forças Especiais; e Hélio Ferreira Lima: militar com formação em Forças Especiais.

A denominação "kid preto" é um nome informal atribuído aos militares por usarem um gorro preto. Eles são especializados em operações especiais e integram as Forças Especiais (FE) do Exército.

Qual a relação com Braga Netto?

O planejamento para instaurar o golpe de Estado e executar o presidente Lula e o seu vice, Geraldo Alckmin, teria ocorrido na casa do general Braga Netto, ex-ministro da Defesa e ex-ministro-chefe da Casa Civil do governo Bolsonaro, além de candidato a vice na chapa de Bolsonaro em sua busca pela reeleição em 2022.

A reunião para discutir a morte do presidente foi delatada pelo general Mauro Cid, aliado de Bolsonaro, que passou a colaborar com a Justiça. Mauro disse que o encontro ocorreu em novembro de 2022. Materiais apreendidos com o general Mário Fernandes e depoimentos comprovaram a versão.

Em quais crimes serão possivelmente enquadrados?

Conforme aponta a Polícia Federal, as ações dos militares configuram os crimes de abolição violenta do Estado Democrático de Direito, Golpe de Estado e organização criminosa. A operação foi efetivada nos estados do Rio de Janeiro, Goiás, Amazonas e também no Distrito Federal.