Entenda a relação política e de amizade entre Cid Gomes e Camilo Santana

Em meio a possível rompimento de Cid Gomes com o governo Elmano de Freitas (PT), o futuro do senador cearense é incerto

19:49 | Nov. 20, 2024

Por: Guilherme Gonsalves
CID E CAMILO cederam as cadeiras para outras autoridades e ficam sentados no chão no evento de filiação ao PSB, em fevereiro (foto: Fabio Lima / O POVO)

O senador Cid Gomes (PSB) cogita romper com o Governo do Estado do Ceará após sentir que não foi dada atenção devida ao seu peso político e também discordar da concentração de poder do PT.

A movimentação de Cid de deixar a base de apoio ao governador Elmano de Freitas (PT) tem mexido com o cenário político, causando muitas incertezas. Dentre elas, a relação entre o senador e o ministro da Educação e principal liderança política do Ceará, Camilo Santana (PT).

No momento, aparentemente incerta, a relação de Cid e Camilo vem de longa data, em meio a uma longa era de aliança entre o senador e o PT, que pode estar chegando ao fim.

Da disputa à aliança

O que foi uma grande parceria por anos começou com uma disputa em Barbalha, na região do Cariri, reduto eleitoral de Camilo Santana. Em 2000 ele, à época no PSB, concorreu a prefeito contra o grupo dos Ferreira Gomes que integrava o extinto PPS: ambos perderam para o candidato do PSDB.

Neste ínterim, Santana foi superintendente do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) Ceará e candidato novamente em 2004, desta vez com o apoio do grupo de Cid, mas Rommel Feijó foi eleito.

Em 2006, Cid Gomes foi eleito governador do Ceará e, durante o seu primeiro mandato, convidou Camilo para ser secretário do Desenvolvimento Agrário. Em 2010, Santana, já no PT, foi eleito o deputado estadual mais votado do Estado e Cid reeleito. Dois anos depois, o petista tornou-se secretário das Cidades na gestão, pasta que mais tem contato com as prefeituras do Interior.

De secretário a candidato à sucessão

Em 2012, o grupo dos Ferreira Gomes rompeu a aliança com a então prefeita de Fortaleza, Luizianne Lins, e com o PT de Fortaleza. Sendo assim, o bloco lançou o então o presidente da Assembleia Legislativa do Ceará (Alece), Roberto Cláudio, pelo PSB, e o PT escolheu Elmano de Freitas, secretário de Educação de Luizianne na época. O processo interno petista teve 13 pré-candidatos, dentre eles, Camilo, que apoiou Elmano enquanto Cid fez campanha para RC.

Roberto derrotou o PT na capital cearense. Dois anos depois, Cid deixava o Governo e escolheu como o seu candidato à sucessão justamente Camilo Santana, em meio a outros cotados pela base aliada.

Camilo foi eleito para o Palácio da Abolição vencendo Eunício Oliveira (MDB) e, na eleição seguinte, nova vitória com quase 80% dos votos ainda no primeiro turno. Pela mesma chapa, para o Senado Federal tinha Cid Gomes, que foi eleito, e Eunício, que acabou derrotado para Eduardo Girão.

Em meio a rompimento de 2022, Cid se mantém próximo a Camilo

As eleições de 2022 marcaram a história da política cearense. Com grandes impasses e atritos políticos, que repercutiram inclusive na relação familiar, causando o rompimento entre Cid e o seu irmão Ciro Gomes diante de uma racha do PDT. Para Governo do Estado, Cid queria Izolda Cela, então governadora com a renúncia de Camilo para ser candidato ao Senado. Ciro, por sua vez, queria Roberto Cláudio.

Na queda de braço, RC foi escolhido pelo PDT e o partido implodiu. Cid optou por ficar silente em relação à questão estadual no primeiro turno, e então se manifestaria no segundo turno. Não precisou, pois Elmano foi eleito ainda no primeiro turno. Cid fez campanha para Camilo senador e Ciro presidente.

Na convenção partidária do PT que confirmou Camilo e Elmano candidatos, Santana chamou o ex-governador de "irmão" e afirmou que ninguém irá jamais separá-los. "Dizer a ele (Cid) que ninguém nos separa da minha amizade e a minha gratidão a esse cearense que tanto fez pelo Estado", declarou.

"Irmãos" Cid e Camilo

Devido ao racha do PDT, Cid deixou a sigla e se filiou ao PSB, partido em que foi eleito governador e hoje é presidido pelo pai de Camilo, Eudoro Santana. No evento de filiação no início deste ano, os dois aliados fizeram declarações de amizade e fraternidade.

"Eu sou suspeito de falar. Pra mim é um irmão. Um irmão que eu aprendi a admirar, aprendi a querer bem. Uma pessoa que me deu oportunidade de servir ao seu governo como secretário, que me deu a oportunidade e o desafio que seria dar continuidade ao governo do maior governador da história desse Ceará que é Cid Ferreira Gomes", afirmou Camilo.

"Na política a gente tem que estar, primeiro é a relação pessoal que a gente constrói com as pessoas, de confiança, de lealdade. Muita gente tentou fazer futrica entre eu e o Cid. E eu dizia, tá pra nascer no Ceará alguém que vá me afastar de Cid Ferreira Gomes na política", completou o ministro.

Cid Gomes saudou Camilo retribuindo os elogios. "Meu caro, eu queria evitar expressão familiar, mas eu vou dizer, meu caro irmão Camilo Santana", declarou.

"A política é um lugar de servir e não importa coisas que são da natureza humana, que por exemplo é vaidade. Quem não tem vaidade também nem se mexe (...) Mas eu juro na cruz de Deus, por tudo que é mais sagrado, procurei o Camilo para ser o governador não era pra ser capacho meu, esse é o primeiro caminho de uma briga, quando eu procurei o Camilo para ser governador do Estado eu procurei para ser governador do Estado melhor do que eu. Esse sempre foi o meu desejo. E digo aqui sem nenhum problema de vaidade, o Camilo é hoje a maior liderança do Estado do Ceará", disse Cid.

A atual situação entre Cid e Camilo

Até a reunião entre Cid e Elmano na última sexta-feira, 15, os dois ex-governadores ainda estavam se falando. Após isso, não se sabe exatamente em que pé está a relação. Camilo afirmou ao colunista do O POVO, Henrique Araújo, que “divergências são normais” e que “já ocorreram outras vezes”, além de que “isso se resolve com mais diálogo”.

Santana, inclusive, chamou Cid de “um grande amigo, parceiro de projeto e de luta” e enfatizou que ele é o seu candidato ao Senado em 2026.

Cid se reuniu com Camilo na semana em que houve o rompimento com o Governo Estadual. O encontro, duradouro, foi antes do senador conversar com Elmano. Já na conversa com o governador, Cid demonstrou insatisfação com a escolha de Fernando Santana (PT), concunhado de Camilo, como candidato à presidência da Alece, sem passar por diálogos mais amplos.

Com poucos minutos de conversa, com a manutenção da postura de Elmano, Cid então resolveu romper e seguir uma agenda individual descompromissada com a gestão estadual. O movimento pode impactar na relação com Camilo, a preço de hoje, incerta. Após reunião do PSB na última terça-feira, 19, entretanto, o senador recuou, afirmando que nada está decidido.