Esquema para matar Lula e Alckmin foi discutido na casa de Braga Netto, diz PF

O plano de execução foi debatido na residência do ex-ministro da Defesa do governo Bolsonaro e candidato a vice-presidente na chapa do PL. A trama foi confirmada por Mauro Cid, ex-braço direito do ex-presidente

11:05 | Nov. 19, 2024

Por: Alice Barbosa
General Braga Netto, ex-ministro da Defesa do governo Bolsonaro, é suspeito de ser um dos nomes mais envolvidos na tentativa de golpe de estado. (foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil)

O plano para matar o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e o vice Geraldo Alckmin (PSB) foi planejado na casa do general Braga Netto, depois que o petista derrotou Jair Bolsonaro (PL) na eleição presidencial de 2022.

Braga Netto foi ministro da Defesa e ministro-chefe da Casa Civil do governo Bolsonaro, e era candidato vice na chapa de Bolsonaro em busca da reeleição.

O general Mauro Cid, braço direito de Bolsonaro, que se tornou colaborador da Justiça, confirmou o encontro em que se discutia o plano de morte de Lula e Alckmin na residência do general Braga Netto no dia 12 de novembro de 2022.

Investigadores da Polícia Federal (PF) comprovaram o encontro por meio de depoimentos e materiais apreendidos com o general de brigada Mario Fernandes.

A PF prendeu o general Mario Fernandes nesta terça, 19, por participar da elaboração do esquema chamado “Punhal Verde e Amarelo”, para assassinar Lula e Alckmin no dia 15 de dezembro de 2022.

Além do general de brigada, foram presos outros quatro suspeitos de cooperar no planejamento de golpe de Estado. São três militares da Elite do Exército, chamados “kids pretos”: o tenente-coronel Helio Ferreira Lima, o major Rodrigo Bezerra Azevedo e o major Rafael Martins de Oliveira. E o policial federal Wladimir Matos Soares.

As meditas cautelares de apuração dos fatos imposta aos suspeitos "incluem a proibição de manter contato com os demais investigados, a proibição de se ausentar do país, com entrega de passaportes no prazo de 24 (vinte e quatro) horas, e a suspensão do exercício de funções públicas", informa a PF. 

Segundo a PF, “os fatos investigados nesta fase da investigação configuram, em tese, os crimes de abolição violenta do Estado Democrático de Direito, Golpe de Estado e organização criminosa”. O objetivo da tentativa de golpe de Estado era manter o então presidente Jair Bolsonaro no poder embora tivesse sido derrotado nas eleições. 

Segundo a Polícia Federal, Braga Netto é um dos mais envolvidos no caso. Ele provavelmente passará por indiciamento no inquérito da investigação. 

Operação Copa 2022 e Operação "Punhal Verde e Amarelo": o que são?

O planejamento também envolvia uma eventual prisão e até a execução de Moraes. Conforme os investigadores, a Operação 'Punhal Verde e Amarelo' (eliminação de Lula e Alckmin) estava diretamente relacionada à Operação Copa 2022 (monitoramento e assassinato do ministro).

O objetivo central do grupo era a "elaboração de um detalhado planejamento que seria voltado ao sequestro ou homicídio do ministro Alexandre de Moraes e, ainda, dos candidatos eleitos Luís Inácio Lula da Silva e Geraldo José Rodrigues Alckmin Filho".

Cronologicamente, as mensagens sobre a Operação Copa 2022 foram encontradas no celular do tenente-coronel Mauro Cid após os diálogos que indicam alterações feitas pelo ex-presidente Jair Bolsonaro na minuta do golpe - documento encontrado em um armário na residência do ex-ministro Anderson Torres (Justiça) - após reunião entre o ex-chefe do Executivo e o general Estevam Cals Tehófilo - este, segundo o inquérito da PF, teria sido o responsável pela mobilização dos 'kids pretos' para a consumação do golpe.

Segundo a PF, seis dias após Bolsonaro analisar a minuta golpista, Mauro Cid e Marcelo Câmara - coronel do Exército, ex-assessor de Bolsonaro - trocaram mensagens indicando que estavam acompanhando a operação organizada pelo general Mário Fernandes para concretizar a prisão de Moraes.

O que mostram as mensagens resgatadas pela investigação?

Os investigadores resgataram mensagens em que Mauro Cid e o major Rafael Martins trocam um documento protegido por senha, com o nome 'Copa 2022', "com uma estimativa de gastos para subsidiar, possivelmente, as ações clandestinas, que seriam executadas durante os meses de novembro e dezembro de 2022" - incluindo 'hotel', 'alimentação' e 'material'. O custo estimado bateu em R$ 100 mil.

Os militares usaram "técnicas típicas de agentes de forças especiais", diz a PF.

A ação contou com a participação de pelo menos seis golpistas. Para dificultar o rastreamento das atividades ilícitas, os investigados: "habilitaram linhas de telefonia móvel em nome de terceiros, sem qualquer relação com os fatos investigados; criaram um grupo denominado 'Copa 2022' em aplicativo de mensagens; receberam um codinome associado a países (Alemanha, Áustria, Brasil, Argentina, Japão e Gana) para não revelarem suas verdadeiras identidades".

Nos diálogos trocados no grupo, a PF constatou que um dos investigados, 'Gana', estaria próximo à casa de Moraes. O principal alvo ligado à operação clandestina seria Rafael Martins de Oliveira, com "sólida participação no caso". Ele se identificava como 'Japão'.

Moraes era 'Professora', segundo diálogos entre Cid e Câmara. "Por onde anda a Professora?", indagou Cid em 21 de dezembro. "Informação que foi para uma escola em SP. Ontem", respondeu Câmara.

Sobre o retorno de Moraes a Brasília, Câmara informou. "Somente para início do ano letivo. Apesar de ter a previsão do período de recuperação. Tem dúvida."

O monitoramento do ministro avançou até a véspera do Natal. (Com Agência Estado)

*Matéria ampliada às 14h20min

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