Amadeu Arrais, ex-deputado cearense cassado pela ditadura, visita Alece e é homenageado
Próximo de completar 100 anos de idade, o cearense afirmou que ainda se sente como um deputado. Ele foi homenageado por parlamentares na sessão plenáriaA Assembleia Legislativa do Estado do Ceará (Alece) recebeu a visita nesta quarta-feira, 13, de Amadeu Arrais, o único deputado cearense ainda vivo cassado pela ditadura militar. Ele, que irá completar 100 anos de idade no início de dezembro, foi aplaudido de pé pelos presentes no Plenário 13 de Maio e recebeu homenagem dos parlamentares.
De Assis Diniz (PT), em fala na tribuna da Casa, afirmou ter uma carteira de presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de 1988 assinada pelo então delegado do trabalho, Amadeu Arrais. O petista destacou a defesa pelos direitos dos trabalhadores por Arrais e puxou o pedido de salva de palmas a ele.
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"Mas eu quero fazer outro testemunho, em vida. O senhor foi um grande defensor dos direitos dos trabalhadores. Quantas vezes na delegacia com a comissão de validação o senhor não bateu na mesa, deu um murro e disse 'eu estou desse lado', contrariando os interesses muitas vezes dos poderosos. Por isso o senhor merece dessa Casa que nós fiquemos de pé e possamos dar uma salva de palmas por todo o seu trabalho em vida e nesta Casa foi o único deputado cassado vido pelo golpe militar", declarou De Assis.
Cláudio Pinho (PDT), cujo o pai, Barros Pinho, foi secretário da gestão de Juraci Magalhães na Prefeitura de Fortaleza, juntamente de Amadeu, também discursou em homenagem afirmando ser ele um cearense que resiste e se lembra o que passou pela luta da liberdade e pela democracia.
"É difícil falar de democracia quando as pessoas são tolhidas, inclusive deputados, de vir a tribuna e falar o que o povo pensa. E hoje nós temos essa liberdade conquista com sofrimento de vidas que foram perdidas. Parabenizar o deputado Arrais pela sua luta, sua história e principalmente em favor daqueles que não podiam falar e ele estava na trincheira da democracia em busca de dias melhores para todos os cidadãos cearenses e fortalezenses", disse.
Marcos Sobreira (PDT) também se dirigiu ao ex-deputado lembrando da naturalidade de Arrais, vindo de Quixariú, no município de Campos Sales, distante 546 km de Fortaleza. "Dar as boas vindas e colocar esse Parlamento sempre à disposição de homens que honraram a história desta Casa e o senhor com certeza deixou esse legado", afirmou.
Amadeu disse ainda se sentir um deputado
Ainda bastante lúcido, apesar de estar próximo de chegar a idade centenária, Amadeu Arrais se disse honrado em estar de volta à Assembleia Legislativa do Ceará conhecendo o novo Plenário, após a reinauguração. Ele foi chefe da Delegacia Regional do Trabalho (DRT) em alguns períodos, antes de ser eleito deputado e após a reabertura democrática de 1985 a 1986 e posteriormente em 1987 a 1990.
"Me sinto muito bem sobretudo pelo aspecto novo dos líderes de toda a Assembleia que se verifica na fisionomia de cada um o interesse de trabalhar pela sua terra e isso que é o bom do Nordeste", afirmou ao O POVO.
Ele, à época filiado ao Partido Democrata Cristão (PDC), teve o seu mandato de deputado estadual cassado, sob a alegação de quebra de decoro parlamentar, em 10 de abril de 1964, período em que foi instaurado um regime militar no Brasil. Além de Amadeu, outros seis deputados foram cassados e presos no 23° Batalhão de Caçadores, onde passaram nove meses detidos.
Anos depois, a Alece votou o título de resgate do mandato dos parlamentares cassados e perseguidos pela ditadura. Anos depois, Arrais retorna à Casa legislativa e explica que foi alvo em meio à caça aos comunistas e àqueles que se opunham ao regime.
"Eu estive aqui na Assembleia quando votaram o título de resgate porque o motivo que alegaram para a nossa cassação foi falta de decoro, quando não existiu nada disso. O problema era o problema do comunismo que era muito combatido e me incluíram nessa relação, apesar de eu ser um homem católico, cumpridor dos deveres. Mas naquele tempo era como enchente, leva tudo que tá no meio", declarou.
Amadeu ainda destacou que o Plenário 13 de Maio está receptivo, em melhores condições do que a antiga sede, localizada no Centro da cidade. Ele disse ainda se sentir um deputado e, apesar de não poder exercer o mandato de parlamentar, pode falar como um.
"Hoje o plenário está receptivo, está muito bem organizado. No nosso tempo era aperreado, hoje tem identificado o Poder Legislativo e eu me congratulo com isso porque eu me sinto ainda como se eu fosse um deputado, porque a cassação foi absolutamente irregular. Não posso exercer o mandato, mas posso falar como se fosse um deputado", completou.