É falso que osso de patinho tenha começado a ser comercializado por conta de suposta crise no governo Lula
Conforme a Rede Assaí e a Associação Brasileira de Supermercados (Abras), este tipo de corte de carne é comercializado há cerca de 10 anos
14:43 | Set. 04, 2024
Falso: É falso que “osso de patinho” tenha começado a ser vendido recentemente nos supermercados brasileiros por causa de uma suposta crise provocada pela chegada de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) à presidência da República. Segundo a rede Assaí, citada em uma peça de desinformação, e a Associação Brasileira de Supermercados (Abras), este tipo de corte de carne é comercializado há cerca de uma década no país.
Conteúdo investigado: Em vídeo, homem mostra pacotes do corte de carne “osso de patinho” no freezer de um supermercado. “A novidade da Friboi pra (sic) substituir a picanha que não chegou”, diz a legenda do vídeo no Facebook. “Será que o povo tá (sic) passando necessidade, que tem que pagar R$ 8 o quilo do osso?”, questiona o autor.
Onde foi publicado: Facebook e TikTok.
Conclusão do Comprova: É falso que a venda do corte de carne “osso do patinho” seja uma novidade nas prateleiras dos supermercados brasileiros, como consequência de uma suposta crise econômica que teria sido provocada pela gestão de Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
Na peça de desinformação, o autor mostra pacotes de osso do patinho, da marca Friboi, no freezer de uma das unidades da rede de supermercados Assaí. É possível identificar a empresa responsável pelo produto e o estabelecimento comercial no momento em que o homem aproxima a câmera dos produtos. O autor diz que nunca havia visto este tipo de produto em um supermercado e questiona se a venda da mercadoria estaria ligada a dificuldades econômicas da população.
Em nota enviada ao Comprova, o Assaí respondeu que a mercadoria que aparece no vídeo é vendida em lojas da empresa desde aproximadamente 2014 para consumo local e uso em pratos típicos. A rede de supermercados destacou, ainda, que o produto é feito e entregue já embalado por um dos maiores produtores de carne do Brasil, e vendido a quilo.
De acordo com a empresa, uma de suas premissas é “personalizar as suas atividades para atender à cultura de cada estado ou cidade onde opera e, assim como o item osso de patinho, disponibilizar ao(à) cliente de cada unidade um mix de produtos e serviços adaptados aos hábitos locais, com diferentes marcas além das nacionais”.
Também em nota, o vice-presidente da Associação Brasileira de Supermercados (Abras), Marcio Milan, afirmou que o osso de patinho é comercializado no varejo há mais de 10 anos, e não há relação com renda ou poder aquisitivo. Segundo o vice-presidente, a mercadoria está nas prateleiras em regiões onde existe o hábito cultural de consumo como ingrediente de caldos, feijão e feijoada, por exemplo.
Na peça de desinformação, o autor do vídeo questiona se os pacotes de osso de patinho seriam “picanha disfarçada”. A fala faz referência à promessa feita por Lula, em 2022, durante a campanha para presidente, sobre promover a queda do preço deste tipo de corte de carne. No primeiro ano deste mandato do petista, houve queda de 10% no preço da carne.
A reportagem entrou em contato com a Friboi, responsável pelo osso de patinho mostrado no vídeo, e com os responsáveis pelas postagens falsas nas redes sociais, mas não houve retorno até a publicação desta verificação. O post no Facebook foi classificado pela rede como desinformativo, com a inclusão de link para checagem sobre o tema feita pela Lupa.
Falso, para o Comprova, é o conteúdo inventado ou que tenha sofrido edições para mudar o seu significado original e divulgado de modo deliberado para espalhar uma falsidade.
Alcance da publicação: O Comprova investiga os conteúdos suspeitos com maior alcance nas redes sociais. Até o dia 2 de setembro, no TikTok, a publicação tinha 4,6 mil visualizações. No Facebook, eram 187 mil reproduções.
Fontes que consultamos: Entramos em contato com o Assaí e a Abras. Buscamos posicionamento da Friboi, que não respondeu até o momento de publicação do material. Também pesquisamos reportagens sobre a promessa feita por Lula na campanha eleitoral. Por fim, procuramos os responsáveis pelas publicações nas redes sociais.
Por que o Comprova investigou essa publicação: O Comprova monitora conteúdos suspeitos publicados em redes sociais e aplicativos de mensagem sobre políticas públicas, saúde, mudanças climáticas e eleições e abre investigações para aquelas publicações que obtiveram maior alcance e engajamento. Você também pode sugerir verificações pelo WhatsApp +55 11 97045-4984.
Outras checagens sobre o tema: A Lupa, Reuters e Aos Fatos mostraram que o consumo de ossos bovinos é anterior à gestão de Lula. O Comprova também já mostrou que não há evidências de que MST tenha ameaçado “incendiar o agro” e que vídeo sobre suposto roubo em fazenda é de 2022, e não tem ligação com Lula. O projeto também explicou o contexto em torno da discussão sobre o reajuste do salário mínimo acima da inflação.
Investigado por: Correio do Estado, O Popular e Comprova
Verificado por: A Gazeta, CNN Brasil, Metrópoles, NSC Comunicação, O POVO, Estadão, Folha de S. Paulo e Nexo