Entenda como Pablo Marçal se transformou em fenômeno das eleições em São Paulo
Para especialistas ouvidos pelo O POVO, o fenômeno se explica pela experiência de Marçal na chamada "economia digital"O candidato à Prefeitura de São Paulo, Pablo Marçal (PRTB), ganhou destaque na campanha eleitoral para a maior cidade da América Latina. Seja por conta dos ataques direcionados a opositores ou de investigações que o cercam, o ex-coach tem sido citado diariamente neste período de campanha, além de ter conseguido crescer consideravelmente nas pesquisas de intenções de voto.
Para especialistas ouvidos no programa O POVO News 1ª Edição, o fenômeno se explica pela experiência de Marçal na chamada “economia digital”, lógica para angariar apoio nas redes sociais. A tática estaria sendo levada para o âmbito político, quando se transformaria, na verdade, em crimes eleitorais.
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Pablo Marçal domina a "economia digital'
Segundo o antropólogo Wagner Guilherme, Marçal construiu uma base de seguidores por conversar com uma parcela da população que busca melhores condições de vida. Estas pessoas veem no ex-coach um exemplo de sucesso e, nas redes sociais, um espaço para empreendimento.
A experiência de Marçal com as redes também é elencada pelo historiador João Cezar de Castro Rocha como ponto de partida para analisá-lo. “Pablo Marçal não é um fenômeno político. É, há muitos anos, um fenômeno do mercado digital brasileiro”, diz o professor.
De acordo com o especialista, com as estratégias digitais, o candidato a prefeito movimentou centenas de milhões de reais e vendeu cursos, mentorias, com aparições e a partir do capital criado, com negócios próprios que são construídos. Assim, tornou-se “um dos nomes mais brilhantes e mais inovadores” neste aspecto de mercado.
Este conjunto de conhecimentos da lógica de alcance e da linguagem das redes foi, então, levado ao meio político, com a candidatura de Marçal neste ano. “O que o Pablo escancara é que esses mundos não estão separados e ele está fazendo essa transposição do método que funciona nas redes, para o método que funciona na política; Ele tem crescido exponencialmente”, diz o antropólogo Wagner Guilherme, estudioso de marketing digital.
No último levantamento Atlas para a Prefeitura de São Paulo, Marçal apresentou um crescimento de 5.3 ponto percentual, em relação à pesquisa anterior anterior. Na mais recente pesquisa Datafolha, o candidato também disparou e está empatado tecnicamente com o Guilherme Boulos (Psol) e com o prefeito Ricardo Nunes (MDB).
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“Pablo Marçal na política é criminoso social”, afirma historiador
No entanto, enquanto nas redes a regularização é incerta, o que torna algumas atividades permitidas, estas mesmas práticas são crimes eleitorais em um contexto de campanha. “Tudo o que ele faz no mercado digital e obtém um sucesso inaudito, na esfera política, no código eleitoral, são crimes”, defende o historiador João Cezar de Castro.
O pesquisador cita a estratégia de “pagamento de seguidores para divulgação de conteúdo nas redes”. Enquanto em um contexto de marketing digital não há proibição quanto a isso, em um contexto eleitoral, a prática é enquadrada em abuso de poder econômico.
Esta foi, inclusive, a acusação levantada pelo Ministério Público, ao pedir a suspensão da candidatura e a abertura de uma investigação contra o ex-coach.
Assim, ao utilizar-se de meios digitais, sem mudanças, no contexto político, Marçal quebra o código eleitoral e tornaria o processo desbalanceado, cometendo crimes. Para o historiador João Cézar, o caminho deve ser torná-lo inelegível.
“O Pablo Marçal na área da política é um criminoso social”, afirmou o historiador. “A candidatura dele precisa ser impugnada, ele precisa se tornar inelegível, porque se nós permitirmos que a economia da atenção colonize a política, acabou de vez qualquer possibilidade de polis neste país.”