Nunes e Boulos tentam conter 'lacração' de Marçal, que é alvo de processo do MP

07:26 | Ago. 20, 2024

Por: Agência Estado

As campanhas de dois dos principais candidatos à Prefeitura de São Paulo adotaram estratégias para tentar conter os métodos "lacradores" do postulante do PRTB, Pablo Marçal. Com forte penetração nas redes sociais, a campanha do empresário e influenciador tem sido marcada por uma conduta agressiva com os adversários, sobretudo durante os debates eleitorais. Nesta segunda-feira, 19, o prefeito Ricardo Nunes (MDB), o deputado federal Guilherme Boulos (PSOL) e o jornalista José Luiz Datena (PSDB) não participaram do encontro promovido pela revista Veja.

O estilo franco-atirador de Marçal está direcionado principalmente para Nunes e Boulos. O prefeito e o deputado deram declarações nos últimos dias nas quais já sugeriam a ausência no debate. No sábado, 17, Nunes criticou a postura adotada pelo candidato do PRTB e afirmou que os coordenadores das principais campanhas estavam conversando para uma atuação em conjunto que garanta uma "eleição limpa". O prefeito também cobrou mais empenho da Justiça Eleitoral no combate à desinformação: "É muita conversa e pouca ação pelo Tribunal Regional Eleitoral", disse.

Também no sábado, após uma representação do MDB, partido de Nunes, o Ministério Público pediu liminarmente que a Justiça suspenda o registro de candidatura de Marçal até julgamento de uma ação de investigação judicial eleitoral (AIJE) por suspeita de abuso de poder econômico durante a pré-campanha deste ano (mais informações nesta página).

Boulos - que protagonizou confrontos com Marçal no debate promovido pelo Estadão, Portal Terra e FAAP na semana passada - condicionou sua participação nos futuros debates às regras dos eventos. "Debate que tenha regra bem definida, que não tenha espaço para baixaria, eu vou participar, mas os que tenham regras complicadas, nós vamos ter que avaliar", disse ele na sexta-feira passada, 16.

Críticas

A ausência do candidato do PSOL, de Nunes e de Datena se tornou o principal assunto do encontro da Veja. A candidata do PSB, Tabata Amaral, Marçal e Marina Helena (Novo), os únicos presentes, criticaram de forma incisiva a não participação dos três adversários. Mas o debate também foi marcado pela ausência de propostas concretas para a cidade e pela recusa do candidato do PRTB a responder às perguntas que lhe eram direcionadas. Ao ser questionado, afirmava que a resposta seria dada em sua página no Instagram. A estratégia foi criticada por Tabata. "Marçal é tipo aquele aluno que só topa fazer prova com consulta. Ele só responde depois que o assessor vem falar no ouvido dele. Ou só topa responder na rede social porque, com certeza, tem uma equipe dando um Google. Queria deixar a reflexão: será que queremos um prefeito que vai governar dando Google, porque não conhece a cidade, não tem experiência ou preparo?"

Além de não responder a boa parte dos questionamentos colocados no debate, Marçal abriu mão de seu direito de perguntar à candidata do Novo. No lugar de abordar algum tema relevante para a Prefeitura, ele pediu que Marina Helena tratasse do que quisesse durante seu tempo de fala.

Equipe

Tabata aproveitou o número reduzido de debatedores para estabelecer um embate direto com o candidato do PRTB. Ela procurou associar Marçal ao ex-governador e ex-prefeito João Doria (sem partido), além de explorar a falta de apoio de Jair Bolsonaro (PL) à sua candidatura - o candidato do PRTB procura se posicionar como um nome ligado ao ex-presidente na disputa paulistana. "Quando a gente olha para o seu redor o que a gente vê é a equipe do Doria. Pesquisem quem é Wilsinho (Wilson Pedroso), que está com ele, pesquisem quem é Filipe Sabará. Até a calça está mais apertadinha. Você acha que o Bolsonaro lhe rejeita porque você é o Doria 2.0?", perguntou Tabata.

Os ex-secretários de Doria ocupam postos-chave na campanha de Marçal. Filipe Sabará está à frente do plano de governo do influenciador, enquanto Wilson Pedroso é responsável pela coordenação da campanha.

Ex-presidente

Bolsonaro chegou a elogiar Marçal na quinta-feira passada, contudo mudou de postura no sábado, após assistir a um vídeo em que o influenciador afirma que não procurou seu apoio. De acordo com a CNN Brasil, o ex-presidente chamou o candidato do PRTB de "mentiroso" e afirmou que Marçal conversou com ele por uma hora. O ex-presidente e seu partido, o PL, apoiam formalmente Nunes.

A campanha do prefeito discute como lidar com o candidato do PRTB. "Estamos bastante preocupados. Sempre tem alguma situação nas campanhas de fake news, mas, nessa, está muito fora do razoável. Está extrapolando demais", disse Nunes no sábado.

A ausência no debate de ontem foi uma decisão na qual prevaleceu a opinião da ala do marqueteiro Duda Lima em detrimento das recomendações de Bolsonaro. O governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) apoiou a decisão do prefeito. O ex-presidente, porém, segundo um aliado, argumentava que seria melhor correr o risco de ouvir mais ataques de Marçal do que deixar o púlpito vazio, como aconteceu. À reportagem, Nunes disse que foi convencido pela coordenação de sua campanha a não comparecer.

Púlpito vazio

A Veja informou que, como todos os candidatos convidados haviam oficializado a presença no evento, a decisão foi manter no cenário os púlpitos destinados a cada um dos postulantes.

No sábado, Nunes disse que sua campanha estava disposta a "criar um movimento" para "restabelecer um mínimo de respeito, um mínimo de condições para o eleitor tomar a sua decisão. O nível baixou muito."

Segundo a assessoria de Datena, sua ausência foi devido ao excesso de compromissos. O apresentador, porém, tem dito que não se sente confortável com seu desempenho e preferiu ficar de fora.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.