Silvio Santos e a política: concessões na ditadura, candidato a presidente e aliado de Bolsonaro
Silvio chegou a se lançar candidato à Presidência da República e à Prefeitura de São Paulo. Manteve diálogo com todos os Governos desde a ditadura militar
10:58 | Ago. 19, 2024
O apresentador Silvio Santos, que morreu na madrugada do último sábado, 17, virou quase um sinônimo de televisão brasileira, deixando um legado imenso entre artistas, famosos e público em geral. Ao longo da trajetória, no entanto, o animador não se limitou apenas à comunicação e se aventurou em outros campos, dentre eles, o político.
Silvio chegou a se lançar candidato à Presidência da República na primeira eleição direta após a ditadura militar, em 1989. Também tentou postulação à Prefeitura de São Paulo. Nos dois casos, não chegou a concorrer de fato nas eleições.
O envolvimento de Silvio com política, no entanto, vai além de pleitos eleitorais. Ele manteve diálogo com o Governo Federal desde a época da ditadura militar até o Governo atual, de Lula. Chegou a promover propaganda política na programação do SBT e teve um genro no governo de Jair Bolsonaro (PL).
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Ditadura e concessões (1981)
A concessão que deu origem ao SBT foi conseguida em 1981, durante o governo do último presidente ditador do período, João Figueiredo. Antes disso, em 1975, já havia sido concedida ao apresentador as concessões da TVS (sigla para TV Studios Silvio Santos Ltda.). O canal foi ao ar no ano seguinte.
Em 1980, foram encerradas as atividades da TV Tupi, o que abriu espaço para novas concessões pelo Governo Federal. Na época, Silvio pediu concessão ao SBT por meio de representantes, já que já era dono de outra emissora. O apresentador justificou o pedido afirmando que, mesmo com o Programa Silvio Santos no ar, "o Grupo Silvio Santos tem, apenas, uma e meia estações.”
O SBT acabou recebendo a concessão da Rádio Difusora e canal 4 em São Paulo, da Rádio Marajoara e canal 2 em Belém, da Rádio Difusora Piratini e canal 5 em Porto Alegre e do novo canal 9 no Rio de Janeiro
Segundo o ministro das comunicações da época, Haroldo Mattos, os critérios adotados pelo governo “foram basicamente políticos, pois condições técnicas e financeiras dispunham também o Jornal do Brasil, a Visão e a Editora Abril, todos desclassificados pela concorrência”. Já o porta-voz, Carlo Átila, negou o uso de critérios políticos e classificou o questionamento de repórteres sobre o fato como uma "atitude antipopular e elitista".
Candidato à Presidência da República (1989)
Silvio Santos lançou candidatura à Presidência da República no primeiro pleito direto após a ditadura militar, em 1989. Concorreu pelo Partido da Mobilização Nacional (PMB), se colocando como candidato a duas semanas do primeiro turno.
A postulação, no entanto, foi barrada uma semana depois, em 9 de novembro de 1989. Foi alegado que o PMB não havia cumprido o limite mínimo de convenções em um determinado número de Estados, conforme a legislação. Assim, Silvio saiu da disputa e Fernando Collor (PRN) acabou eleito.
Campanha à Prefeitura de São Paulo (1988 e 1992)
Apesar de ser a mais notória, a candidatura a presidente não foi a única de Silvio Santos. Ele tentou concorrer à Prefeitura de São Paulo, em 1988, pelo PFL, mas acabou não escolhido pela legenda.
Em 1989, o PFL decidiu lançar Aureliano Chaves e Silvio se desfiliou da legenda. No segundo turno, a sigla apoiou Collor.
Em 1992, o presidente passava por um processo de impeachment. O PFL voltou atrás e chegou a discutir a candidatura de Silvio ao Governo de São Paulo. Ele tinha como companheiro de chapa Julio Casares, presidente do São Paulo Futebol Clube. A convenção que lançaria os dois, no entanto, terminou em briga, provocada internamente no PFL.
O partido chegou a realizar outro evento e lançou Arnaldo Faria de Sá como candidato, ou a de 24 de junho. A Justiça Eleitoral precisou decidir qual das convenções seria válida e optou pela de Sá. A candidatura de Silvio foi anulada.
Aliado de Governos brasileiros e sogro de ministro de Bolsonaro (1975 - 2023)
Por mais que nunca tenha tido cargo eletivo, Silvio Santos manteve diálogos com as gestões federais desde a ditadura militar. Manteve o quadro “Semana do Presidente”, onde divulgou ações dos governos João Figueiredo, José Sarney e até do quase opositor, Fernando Collor.
No Governo Itamar Franco, Silvio convidou o então ministro da Fazenda, Fernando Henrique Cardoso (FHC), para explicar o Plano Real no programa de domingo. Na gestão do presidente, que assumiu após Itamar, manteve uma relação amistosa e FHC chegou a visitar as obras do Centro de Televisão (CDT) da Anhanguera do SBT.
Relação de diálogos se manteve com Lula e Dilma, mas foi escalonada as administrações de Michel Temer e Jair Bolsonaro (PL). Ambos participaram do programa Silvio Santos e, em 2020, durante o governo do último, o genro de Silvio, Fábio Faria, assumiu o ministério das Comunicações.
Com a morte do apresentador, políticos se manifestaram em pesar. Dentre eles, o atual presidente Lula (PT) chamou Silvio de “uma das pessoas mais conhecidas e queridas do nosso país”. “Ao longo dos anos, nos encontramos em programas de TV, reuniões e conversas, sempre com respeito e carinho. A sua partida deixa um vazio na televisão dos brasileiros e marca o fim de uma era na comunicação do país”, escreveu Lula.
Já Bolsonaro escreveu: “Hoje nos deixa Sílvio Santos, um exemplo de alegria e empreendedorismo para todos nós. Homem simples, de trato fácil, com um carisma irresistível. Começou como vendedor ambulante nas ruas do Rio e se tornou um dos maiores empresários de Comunicação do Brasil.”