IFCE remove nome de Castello Branco de auditório, que passa a homenagear Nilo Peçanha; entenda

Homenagem vem, segundo o Instituto, pelos impulsos do ex-presidente ao ensino técnico-profissional no Brasil

12:56 | Jul. 18, 2024

Por: Ludmyla Barros
Ex-presidentes do Brasil, Castello Branco e Nilo Peçanha (foto: Arquivo Público)

Regularmente, centenas de alunos ocupam as cadeiras do auditório do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Ceará - Campus Fortaleza para debater temas como educação, tecnologia, saúde e liberdade de expressão. No entanto, na entrada do auditório, recepcionando os alunos, havia uma ironia: uma placa com o nome do marechal Humberto de Alencar Castello Branco, primeiro presidente da ditadura militar brasileira, período de repressão e perseguição. O cenário, entretanto, agora é outro.

Antes denominado em homenagem ao ditador cearense, o auditório do IFCE Fortaleza passa a se chamar ‘Auditório Nilo Procópio Peçanha’, em referência ao primeiro presidente negro do Brasil. A colocação da nova placa deve ocorrer até o fim deste mês de julho.

Peçanha, apesar de ser fluminense, governou de 1909 a 1910, durante a dita “República do Café com Leite”, na qual os estados de Minas Gerais e São Paulo se revezavam no poder.

A homenagem vem pelos impulsos do ex-presidente ao ensino técnico-profissional no Brasil. Por meio do Decreto nº 7.566, de 1909, Peçanha criou 19 Escolas de Aprendizes Artífices no Brasil, instituições que deram origem aos Institutos Federais de hoje.

A renomeação do auditório foi aprovada pelo Conselho Superior do Instituto Federal do Ceará, no último dia 1º de julho, atendendo à recomendação do Relatório da Comissão Nacional da Verdade (CNV). 

No relatório final, de 2014, a CNV prevê a revogação de homenagens a autores de graves violações de direitos humanos. Dentre as ações, incluem-se denominações de logradouros, vias de transporte, edifícios e instituições públicas de qualquer natureza, sejam federais, estaduais ou municipais, “que se refiram a agentes públicos ou a particulares que notoriamente tenham tido comprometimento com a prática de graves violações.”

O Auditório Nilo Peçanha tem capacidade para mais de 300 pessoas e é equipado com projetores multimídia, sistema de som, painéis acústicos sobre as paredes laterais, sistema de refrigeração, saída de emergência, além de mecanismos de acessibilidade para pessoas com deficiência.

Quem foi Nilo Peçanha

Nilo Procópio Peçanha nasceu no ano de 1867, em Campo do Goytacazes, no Rio de Janeiro. Era filho de agricultores, envolvidos com a política local. Em 1895, casou-se com Ana Castro Belisário de Sousa, descendente de famílias aristocráticas e ricas da cidade.

Nilo entrou para a vida política em 1890, quando foi eleito para a Assembleia Nacional Constituinte. Em seguida, atuou como deputado federal pelo Rio de Janeiro, eleito em três ocasiões: 1894, 1897 e 1900. Em 1903 foi eleito ao cargo de senador e presidente de estado durante três anos.

Em 1906, atuava como vice do presidente Afonso Pena, mineiro, que foi alçado ao poder no âmbito da política do café com leite. Na época, São Paulo e Minas Gerais se revezavam na presidência, o primeiro pela grande produção de café, e o segundo pode ser produtor de leite e maior polo eleitoral do país.

Pena adoeceu e morreu de pneumonia em 14 de julho de 1909. Nilo, assim, tornou-se o sétimo presidente do Brasil, aos 41 anos de idade. O mandato durou 17 meses e foi marcado, além das escolas técnicas, pela criação do Ministério da Agricultura, Comércio e Indústria e o Serviço de Proteção ao Índio, órgão antecessor da Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai).

Com o fim do mandato, Peçanha ainda elegeu-se novamente senador, em 1912, e, em seguida, presidente do Estado do Rio de Janeiro (governador). Em 1917, ficou à frente do Ministério das Relações Exteriores em meio à Primeira Guerra Mundial. Voltou a ser senador em 1918 e concorreu a duas eleições presidenciais após isso. Faleceu em 1924, aos 56 anos, no Rio de Janeiro.

Homenagens a Castello Branco também foram retiradas de mausoléu no Abolição

Humberto de Alencar Castello Branco foi presidente no início da ditadura militar no Brasil, entre os anos de 1964 a 1967. Anos depois da sua morte (julho de 1967), o então governador cearense Plácido Castelo decidiu incluir uma estrutura no conjunto de edificações do Palácio da Abolição, como homenagem a Castello, que era natural de Fortaleza.

O Mausoléu foi construído para abrigar os restos mortais do ex-presidente Castello Branco e localiza-se no Palácio da Abolição. O atual governador do Ceará, Elmano de Freitas (PT), manifestou publicamente a intenção de retirada do monumento, que serve de abrigo aos restos mortais do ditador, do terreno do Abolição, o que abriu uma série de divergências e críticas acerca do tema. A intenção é transformar o espaço num memorial aos abolicionistas do Ceará.

Em março, no aniversário de 60 anos do golpe militar, foi lançado mais um filme original da plataforma de streaming do Grupo de Comunicação O POVO. O documentário lança luz ao ano de 1964, período marcado pela implantação da ditadura cívico-militar no Brasil e narra sobre como o cearense era tão ditador quanto os sucessores.

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