45% dos juízes têm problema para dormir e menos de 40% acham situação financeira ótima ou boa

Levantamento, abrangeu 60% dos juízes ativos e 52,8% dos aposentados, todos da 1ª instância no Ceará. Conforme o resultado, 61% dos magistrados se sentem desmotivados e 41% têm empréstimo consignado

Condições de saúde mental, física e de trabalho dos juízes cearenses foram mapeadas, em pesquisa encomendada pela Associação Cearense de Magistrados (ACM). Via de regra, o levantamento aponta que os eles apresentaram um estado emocional instável, citando quadros de ansiedade, depressão e nervosismo, atribuídos a problemas de saúde física e estruturais nas comarcas.

A pesquisa, realizada pela empresa Data Guide, abrangeu 60% dos juízes ativos e 52,8% dos aposentados, todos da 1ª instância. Foram elencados quatro eixos, contemplados por meio de 35 perguntas, nos âmbitos de: saúde mental, saúde física, saúde financeira e estrutura do trabalho. Os magistrados responderam aos questionamentos de maneira anônima. 

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Magistrados consideram-se ansiosos ou depressivos

A maioria dos entrevistados diz estar em boas condições de saúde mental (54,35%), seguidos pelos que afirmaram “não estar muito boa” (26,82%). O restante considerou ótimo (12,94%) e ruim (5,88%).

No entanto, aproximadamente 78% dos magistrados relatam já ter apresentado pelo menos um episódio de ansiedade, nervosismo ou depressão. Nesses estão incluídos magistrados que consideram ter boas condições de saúde mental.

Neste recorte, 37,4% dos magistrados consideram a saúde mental como boa, se sentem nervosos ou ansiosos ou depressivos, enquanto 5,4% consideram-se em ótimo estado, mas também sinalizaram ter passado por algum desses quadros.

Levantamento: Julgamento da saúde mental + Sentimentos negativos – distribuição percentual

Quase metade dos entrevistados diz dormir mal

A pesquisa ainda englobou o âmbito da saúde física, indicando que quase metade dos magistrados (44,9%) afirma dormir mal. O levantamento relacionou o hábito à saúde mental.

Quando cruzados os dados de saúde mental e de qualidade do sono, foi observada a mesma contradição do segmento anterior: o maior índice dentre os que relatam dormir mal está entre os que consideram ter boa a saúde mental.

Comparação da qualidade da saúde mental com a qualidade do sono dos magistrados

Outros índices foram levantados na pesquisa. Dentre os juízes atuantes, quase metade (42,8%) mencionar ter problemas de saúde física, enquanto 46,1% não consegue manter uma atividade física regular. O número aumenta entre os aposentados: 65,7% relata problemas de saúde física e 44,2% não conseguem manter uma atividade física regular.

Em conversa com O POVO foram citadas pela associação outras preocupações dos magistrados relacionadas à segurança física, especialmente voltadas para o julgamento de processos do âmbito da segurança pública, como facções criminosas, por exemplo.

O levantamento ainda mostra que 61,6% se dizem desmotivados no desenvolvimento das tarefas de magistrados contra 38,3% que têm sentimento oposto.

Situação financeira

A pesquisa também abordou como os magistrados avaliam a própria financeira. Para 23,2% deles, a vida financeira é considerada ruim. Na avaliação de 37,4%, é aceitável — nem boa nem ruim. A situação é considerada boa por 35,2% e ótima por 4%.

Dos que responderam ao levantamento, 41,6% informaram já ter contratado empréstimo consignado. 

Estrutura de trabalho é considerada "regular"

Para 50,5% dos magistrados, a estrutura de trabalho nos fóruns é considerada “regular”. Para 17,6% as condições são péssima, enquanto 27,2% relatam trabalhar em boas condições estruturais. Apenas 4,4% dos magistrados afirmam que a estrutura oferecida está em ótima situação.

Quanto à quantidade de colaboradores na unidade, mais da metade (51,2%) considera insuficiente, enquanto 37,4% consideram regular, 8,9% “boa”; e 2,3% consideram “satisfatória ". 

Quanto a este tópico, a Associação defende uma diminuição da quantidade de funcionários cedidos pela Prefeitura e contratação de servidores cedidos e comissionados. “Se você não tem a estrutura completa, a roda não gira, não anda. Trabalhamos manhã, tarde e noite e com a sensação de estar enxugando gelo. A demanda é em progressão geométrica e a estrutura em progressão aritmética”, alegou o presidente da ACM, José Hercy Ponte de Alencar.

A pesquisa 

Segundo o presidente da ACM, a pesquisa surgiu da necessidade de diagnóstico da classe profissional. Foram selecionados “o máximo de ângulos possíveis”, por meio da seleção de perguntas específicas. O período total de elaboração durou quatro meses.

Hercy afirma que os resultados serão compartilhados com Associações de outros estados nordestinos, além dos desembargadores, magistrados da 2ª instância. Além disso, o presidente defende um fortalecimento do diálogo da Associação com o Tribunal de Justiça do Ceará (TJCE), por meio de reuniões regulares, para que as demandas levantadas sejam discutidas.

“Também encaminhamos aos conselheiros, do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), inclusive ao corregedor nacional. Para que possamos traçar estratégias, soluções conjuntas e corrigir essas patologias”, afirmou Hercy.

Colaborou Rogeslane Nunes/especial para o POVO

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