Elmano sobre o Litígio CE/PI: 'Tenho convicção de que o Supremo fará justiça'

As partes aguardam divulgação de estudo pelo Exército Brasileiro marcado para ser entregue até o final de junho

14:27 | Jun. 09, 2024

Por: Vítor Magalhães
LITÍGIO entre Ceará e Piauí tramita desde 2011 no Supremo Tribunal Federal (foto: AURÉLIO ALVES)

O governador cearense Elmano de Freitas (PT) comentou o litígio que se desenrola entre Ceará e Piauí e reforçou o argumento da identidade regional da população (cearensidade) e a convicção de que o Judiciário levará este argumento em conta numa eventual decisão. As declarações foram dadas no último sábado, 8, em coletiva antes da reunião do secretariado na Residência Oficial do governo, em Fortaleza.

Questionado sobre como o governo tem se comportado na questão, o governador respondeu: "Primeiro acompanhando de muito perto o processo que tramita no Supremo Tribunal Federal (STF). Segundo, dialogando com os ministros do Supremo, de que diferente do conflito que houve entre Piauí e Tocantins a área que o Piauí alega tem uma população bastante considerável vivendo na região e uma identidade absoluta daquele povo com a cearensidade", pontuou o gestor.

O petista reforçou a confiança na Justiça e não descartou eventual acordo entre os estados antes do tema chegar ao plenário do STF. "Confiamos plenamente no Judiciário, que vai considerar que o povo da região da serra da Ibiapaba é um povo que se sente cearense e se identifica com o Ceará. Tenho convicção de que o Supremo fará justiça e se, caso não chegarmos a um acordo com o Piauí antes, que o Supremo julgue que o povo daquela região é um povo cearense", concluiu.

A disputa entre os dois estados envolve uma área que abarca territórios de 13 municípios cearenses recheados de equipamentos públicos e uma população estimada de 25 mil habitantes. Desde 2011, tramita no STF o questionamento do estado vizinho de que a divisão deveria ser revista. A disputa está em fase de perícia pelo Exército, que deve entregar relatório sobre o tema no fim de junho.

Relatório do Exército

O Exército Brasileiro pediu ao Supremo o adiamento da entrega do relatório sobre a região que é alvo de processo de litígio entre os estados do Ceará e Piauí. Um novo prazo foi estabelecido para o dia 28 de junho, sendo anteriormente previsto para maio deste ano. A data anterior tinha sido informada pelo próprio Exército.

As procuradorias-gerais do Ceará e do Piauí esperam a apresentação do documento para analisarem o conteúdo e se posicionarem, dando prosseguimento ao caso.

Em ofício, anexado ao processo no último dia 17 de maio, o Serviço Geográfico do Exército Brasileiro informa que o relatório está em estágio de conclusão e que, até o dia 28 de junho, deve ser finalizado e entregue.

O Exército, por meio da Diretoria de Serviço Geográfico (DSG), previu periciar a região disputada para entender a qual estado os municípios em questão realmente pertencem.

Documentos históricos, leis de criação municipais, mapas, cartas da região, imagens georreferenciadas, modelos digitais de elevação e vetores de hidrografia são alguns dos materiais levados em conta no estudo do Exército.

Entenda o litígio

Ceará e Piauí travam uma disputa secular que passa por perícia do Exército e será resolvida no STF no julgamento da ação cível originária (ACO) 1.831. Tentativas de conciliação entre os dois estados fracassaram.

Ao todo, são mais de 300 anos de impasse. Em jogo estão partes de 13 municípios do Ceará. A população desses territórios que podem se tornar piauienses é estimada em 25 mil pessoas. O município mais atingido pode ser Poranga, que tem 66,3% da área atual reivindicada pelo Piauí. O risco é de perder dois terços do atual território poranguense.

Segundo pesquisa realizada pelo Estado do Ceará, há quatro distritos municipais e 136 localidades na área de distrito. De equipamentos públicos, são 48 escolas das redes municipais e estadual e 14 unidades de saúde estaduais e municipais. Existem ainda 589,3 km de estradas. E são 15 os locais de votação instalados pelo Tribunal Regional Eleitoral (TRE-CE).

Confira as matérias da série de reportagens do O POVO sobre a área de litígio entre Ceará e Piauí

  • Por que a disputa existe e o que está em jogo: entenda por que o Piauí considera ter direito a parte do Ceará. Como a disputa começou, há cerca de 300 anos. As histórias que o povo90 de cada estado conta. Os argumentos apresentados. Os municípios afetados. As mudanças que já ocorreram mostradas em mapas. As consequências de uma possível mudança
  • O que pensa a população da área em disputa: O POVO mostra como os moradores da área de litígio acompanham a disputa. O assunto está presente nas rodas de conversa e ninguém deixa de ter opinião. Muitos a favor de ficar do lado cearense, mas há também os que têm mais vínculo com o Piauí
  • A casa dividida: a curiosa história da casa construída bem na divisa e que fica parte no Ceará, parte no Piauí. Uma espécie de ícone da disputa entre estados
  • O mapa mudou: como era o Ceará antes de trocar Crateús por parte do litoral do Piauí. Essa permuta territorial no fim do século XIX, por decreto do então imperador dom Pedro II, é o motivo da disputa com Piauí que deve ser decidida agora
  • Patrimônios em disputa: área de litígio entre Ceará e Piauí inclui 3 unidades de conservação, 4 terras indígenas e 18 sítios arqueológicos
  • Equipamentos públicos: Ceará tem 136 localidades, com 48 escolas e 14 unidades de saúde em área de litígio com Piauí
  • Argumento no STF: Ceará apontará sentimento de "pertencimento" da população como um dos fatores na disputa jurídica contra o Piauí