Cocó: quase metade de área de proteção ambiental que pode ser extinta possui vegetação
O local, visitado pelo O POVO, é definido como Zona de Interesse Ambiental (ZIA). O vereador Luciano Girão (PDT) apresentou um projeto para torná-lo Zona de Ocupação Preferencial 2 (ZOP 2)
20:45 | Jun. 07, 2024
O POVO visitou, na tarde desta sexta-feira, 7, o terreno de mais de 11 hectares, no Parque do Cocó, que pode ser excluído da Zona de Interesse Ambiental (ZIA), se transformando em Zona de Ocupação Preferencial 2 (ZOP 2). A ideia foi apresentada na Câmara Municipal de Fortaleza (CMFor) pelo vereador Luciano Girão (PDT), que integra a base do prefeito José Sarto (PDT). Na área, foi constatado que há presença de ampla vegetação, inclusive com árvores, em cerca de metade da poligonal.
Em alguns pontos, há construções antigas, como concessionárias e a UniFanor da sede Dunas. Já em grande parte, embora em espaços separados, existe vegetação. Alguns locais, cercados por muros, apresentam mata alta e árvores de médio porte.
Confira as imagens:
A área ainda fica próxima a um lago, que por sua vez é compreendido por uma extensa e abrangente vegetação. Há construções em volta de pontos verdes.
O local fica no bairro Manuel Dias Branco, próximo à avenida Santos Dumont. O terreno abrange o equivalente a dez quarteirões, sendo que cerca de metade dos 11,4 hectares - um hectare equivale a 10 mil metros quadrados - contém vegetação.
O projeto apresentado por Luciano Girão, que muda a destinação do terreno, foi encaminhado para a Comissão Especial do Plano Diretor.
De acordo com a proposta, a área “perdeu todas as características que justificavam” a sua inclusão em zona de interesse ambiental. O parlamentar sugere que ela se torne de ocupação preferencial. No texto, o vereador ressaltou que o território tem potencial de construção e ocupação.
No projeto, ele argumenta que, com o passar dos anos e a “aceleração da dinâmica urbana da região”, a área não se encaixa mais como de interesse ambiental.
Luciano Girão ainda destaca no texto que é necessário a padronização urbanística, já que o local sendo classificado como ZIA causaria um conflito com a real situação, impedindo um “uso mais eficaz do solo”.
Ao repórter da coluna Vertical do O POVO, Yuri Gomes, o vereador afirmou que o seu projeto tem como intenção “regularizar e deixar regularizado” áreas que já estariam tomadas por construções e loteamento.
Ele defendeu a interferência do poder público no local para “cobrar o que é de direito”. Além disso, Girão disse que caso exista realmente vegetação que classifique a área como zona ambiental, ele irá rever a sua proposta.
“O projeto não está aprovado. Começou a tramitar ontem, vai para as comissões, vai tramitar tudo, é passível de emenda. Eu não fecho questão com nada, minha intenção é só ajudar, não estou querendo atrapalhar nada. Você indo lá e falando ‘tá aqui a vegetação, estão aqui as árvores que vão ser derrubadas’, eu retiro na mesma hora”, disse.
O POVO conversou com Thieres Pinto, biólogo da Sertões Consultoria Ambiental e especialista em conservação de biodiversidade. Ele aponta que a área em questão possui vegetação capaz de amplificar a capacidade de retenção hídrica.
"Aquela área era, originalmente, um ambiente dunar de vegetação psamofila (de áreas arenosas). Uma vegetação herbáceo-arbustiva, quase como a da imagem, capaz de gerir o processo de movimentação dunar e de amplificar a já enorme capacidade de retenção hídrica. Zonas assim, quando modificadas e impermeabilizadas, poderão sofrer com inundações", explica.
Dessa forma, o especialista avalia que essas características naturalmente fazem com que a área permita um controle de enxurradas e alagamentos na região. "Ali teríamos uma região de baixa taxa de ocupação e impermeabilização dos solos, o que permitiria o controle natural das enxurradas e alagamentos na região. Até mesmo para proteger o entorno das lagoas dunares que existem ali perto, também importantes responsáveis pelo controle hídrico e pela manutenção natural do clima na região", complementa.