Presidente do TJCE considera críticas ao Judiciário necessárias, mas vê hoje "extremismo e ódio"
Benevides disse que ataques e acusações contra o Judiciário sempre existiram, sendo eles "justos, injustos", mas que algumas "passam de todos os limites"
20:19 | Jun. 03, 2024
Em meio à onda de ataques ao poder Judiciário brasileiro, o presidente do Tribunal de Justiça do Estado do Ceará, Abelardo Benevides, afirmou que a corte sempre considerou críticas “necessárias”, mas que o atual cenário “polarizado” brasileiro está permeado de “radicalismo” e comentários “exagerados”.
“A crítica é necessária, se bem intencionada. Eu vejo nesse ambiente de polarização muito exagero, as pessoas não compreendem certas coisas, fazem cortes isolados. Críticas procedentes são bem-vindas, mas há muito exagero nesse ambiente. Estamos vivendo em um País com muito ódio, espero que a gente passe por isso”, afirmou o desembargador ao O POVO.
Benevides ainda disse que ataques e acusações contra o Judiciário sempre existiram, sendo eles “justos, injustos”. “Agora, algumas deles passam de todos os limites, a gente vê de um modo geral na sociedade esse radicalismo, esse extremismo, acho que não é saudável”, declarou.
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Ataques ao Judiciário e a Alexandre de Moraes
A narrativa contra o Judiciário permeia o discurso de alguns grupos políticos, especialmente o do ex-presidente Jair Bolsonaro e seus apoiadores. Os ataques escalonaram durante as eleições presidenciais de 2022, quando o então mandatário chegou a entrar com uma queixa-crime no Supremo Tribunal Federal e com uma representação na Procuradoria-Geral da República (PGR) pedindo que o ministro Alexandre de Moraes fosse investigado por abuso de autoridade. As iniciativas não vingaram.
Uma materialização desta insatisfação com o Judiciário ocorreu durante os atos antidemocráticos de 8 de janeiro de 2023. Na ocasião, o prédio do STF foi um dos principais alvos de depredamento e vandalismo.
Mais recentemente, críticas à legitimidade da corte ultrapassaram para o nível internacional, quando o bilionário Elon Musk, publicou na rede social X, da qual é dono, declarações acusando o STF de “censura”. Foi citada, em específico, a figura de Alexandre de Moraes. O ministro, em resposta, incluiu o empresário no inquérito sobre milícias digitais, após ele ameaçar descumprir decisões que determinaram a retirada de conteúdos do X.
Elon Musk ganhou apoio de políticos de direita como o filho de Bolsonaro, o deputaod federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP), o deputado federal Nikolas Ferreira (PL-MG) e o senador cearense Eduardo Girão (Novo).
Moraes ainda virou alvo de uma audiência na Comissão de Relações Exteriores da Câmara dos Representantes (equivalente à Câmara dos Deputados) dos Estados Unidos. Lá, o que devia ser um encontro “sobre o Brasil”, se transformou em uma discussão sobre suposta “censura”, com foco no ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes.