Câmeras em apartamento seriam de antigo dono e não teriam Dayany como alvo, diz inquérito
A perícia não esclareceu se as imagens foram acessadas remotamente, mas afirma que dispositivos não foram instalados para espioná-la.A deputada demonstrou contrariedade com o resultado da investigação
16:42 | Abr. 18, 2024
O inquérito que investiga as câmeras encontradas no apartamento da deputada federal cearense Dayany Bittencourt (União Brasil-CE) conclui, nas considerações finais, que a instalação de quatro câmeras no apartamento utilizado por ela, de número 2053, bloco B do Golden Tulip, em Brasília, não teria objetivo de espioná-la. A parlamentar começou a morar no prédio em 21 de agosto de 2023. No dia 28, uma semana depois, assessores dela identificaram as câmeras escondidas.
"Diante dos depoimentos colhidos, não restam dúvidas de que a instalação encontrada na unidade 2053 foi feita anteriormente à sua locação pela comunicante/vítima da ocorrência, DAYANY, descartando portanto a suspeita de que ela fosse o alvo da ação", afirma a Polícia Civil do Distrito Federal em inquérito ao qual O POVO teve acesso. O caso foi revelado pela TV Record e confirmado por O POVO.
O antigo dono do imóvel, um dentista de 64 anos, afirma em depoimento que consta no inquérito que colocou as câmeras na residência porque desconfiava que a camareira estava roubando objetos. Ele morou no lugar entre 2011 e 2020. "No entanto, o declarante (o dono do imóvel) diz que nunca aprendeu a acessar o sistema corretamente de modo que as câmeras não cumpriram com sua finalidade", diz no depoimento contido no inquérito de 68 páginas.
Mulher que comprou o apartamento do dentista, também em depoimento à Polícia Civil, disse que não se lembra se o proprietário anterior informou-a sobre a existência do circuito interno de câmeras. A câmera 1 ficava no quarto, apontando para a cama; a câmera número 2 ficava no armário, dando vista para o banheiro; a câmara número 3 apontava para a sala e para a cozinha; a câmera quatro estava com a lente escurecida, sem que as investigações pudessem apontar para onde apontava.
A mulher afirmou também nunca ter tido acesso às imagens. "Atualmente a unidade está sendo alugada pela imobiliária ESTRELA. Por fim, a declarante não acredita que ROBERTO tenha acesso a eventuais imagens captadas pelo circuito instalado na unidade, pois, ele é uma pessoa idônea, e tal circuito nem deve estar funcionando mais", ela disse em depoimento.
"Cumpre ressaltar ainda que as imagens aparentam ter sido gravadas umas por cima das outras e são praticamente 'flashes', com duração rápida, de apenas segundos, de modo que para analisá-las melhor foi necessário pausar as imagens e avançar lentamente", informa laudo pericial da Polícia Civil do DF.
A hipótese de Dayany
No inquérito, Dayany afirma que pode ter tido domicílio violado, embora não saiba se a instalação é ou não antiga. Ela diz acreditar que pode ser alguma ação relacionada a sua atividade política ou do marido, o ex-deputado federal e pré-candidato a prefeito de Fortaleza, Capitão Wagner. Ela enfatiza que o marido atuou contra o crime organizado no Ceará.
Na noite de quarta-feira, 17, a parlamentar divulgou nota em que demonstrou contrariedade com o resultado da investigação. "O inquérito corria em segredo de justiça até a última semana, para que os responsáveis pudessem ser punidos com rigor, mas, infelizmente, não obtivemos essa resposta firme contra os criminosos", escreveu a deputada federal.
Questão a esclarecer
Embora o proprietário tenha negado acesso e captura das imagens, "tal afirmação só será possível após a conclusão da perícia do DVR apreendido, informando se há imagens ainda armazenadas no equipamento, de quando elas datam e se porventura foram acessadas remotamente."
A perícia não esclareceu se as imagens foram acessadas remotamente. Um arquivo de mídia mostra um modem da marca TP-link que, apesar de naquele momento aparentemente não estar ligado à rede elétrica, poderia teoricamente ter acesso remoto ao sistema de câmeras ocultas instalado.
"(...) deve-se indagar, na hipótese de que o suposto “modem” estivesse ligado e conectado a resposta aos quesitos enumerados acima. Por fim, solicita-se urgência, tendo em vista a sensibilidade do caso, devido às pessoas envolvidas."
O POVO entrou em contato com o presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL), que respondeu, por mensagem: "Nada chegou a mim sobre esse assunto. Nem a deputada me reportou." Ele, então, pede informações sobre o tema ao repórter: "Pode me mandar?" Após o envio, ele não mais se manifestou.
Em nota ao O POVO, a equipe de Dayany afirma, por sua vez, que as autoridades competentes da Câmara dos Deputados foram informadas. São elas, conforme o gabinete de Dayany: a Presidência da Casa, Secretaria da Mulher, Observatório da Mulher, Procuradoria da Mulher, Comissão de Defesa dos Direitos da Mulher e para a Procuradoria Parlamentar. "Como dito na nota, estamos tomando todas as medidas legais cabíveis para investigar e processar os responsáveis por este ato criminoso", complementa a nota.
O POVO não informa o nome do antigo proprietário por não haver denúncia recebida contra ele.