Caucaia: Deuzinho tem assessores do gabinete exonerados e acusa Valim de perseguição

Vice-prefeito afirma que Valim só devolveria os cargos se houvesse apoio ao candidato do PT em Caucaia, Waldemir Catanho. Prefeitura alega que houve exoneração apenas em cargos vagos

O vice-prefeito de Caucaia, Deuzinho Filho (União Brasil), afirmou que o prefeto Vitor Valim (PSB) exonerou quase todos assessores do gabinete da Vice-Prefeitura, na Casa de Projetos Yara Guerra, deixando-o apenas com uma pessoa além dele próprio. O vice-prefeito alegou ainda que foi proposto o retorno dos cargos, em troca de apoio ao pré-candidato de Valim, Waldemir Catanho (PT). Prefeitura negou ambas as declarações.

Exonerações ocorrem poucos meses após o anexo na Casa de Projetos ter ficado sem recursos por ação de Valim, que foi obrigado pela Justiça a restituir o gabinete do vice. O anúncio da nova ação foi feito por Deuzinho, em vídeo, nesta segunda-feira, 15.

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Nele, o vice-prefeito acusa Valim de “perseguição” e também o “português (que manda nele)”, em uma possível referência a Marcos Correia, empresário apontado por opositores como tendo forte influência não só na gestão de Valim, como na do ex-prefeito Washington Góis.

“Esta ação é uma clara tentativa de obstruir nosso trabalho em prol do desenvolvimento e bem-estar da comunidade. Continuaremos lutando com coragem pelos interesses da população, mesmo diante desses obstáculos infundados impostos pelo prefeito de Caucaia", diz o vice-prefeito.

Ao O POVO, a Prefeitura de Caucaia informou, via nota, que foram retirados apenas cargos vagos em que já havia pedido de exoneração. É destacada ainda que a ação foi solicitada pelo próprio gabinete da Vice-Prefeitura.

"Foram retirados apenas cargos vagos em que já havia pedido de exoneração solicitado pelo próprio gabinete da vice-prefeitura. Portanto, todos os cargos citados encontravam-se vagos. Reafirmando o compromisso com a transparência e em respeito aos caucaienses, segue documento com a solicitação encaminhada pelo gabinete do vice-prefeito", informou o Governo municipal.

Em anexo, a Prefeitura enviou uma portaria com os dezessete nomes dos exonerados, assinada pela chefe de gabinete do vice-prefeito, Ana Beatriz Ângelo Moreira, e pelo secretário municipal de Gestão e Governo, Guthemberg Holanda. Esta foi publicada no Diário Oficial do dia 31 de janeiro de 2024 e não no do dia 1º de fevereiro, documento mostrado por Deuzinho no vídeo.

No Diário Oficial de 1º de fevereiro não são informados nomes, apenas como ficou uma readequação, esta sim assinada pelo prefeito Vitor Valim. No documento, o gabinete do vice-prefeito aparece como tendo apenas um cargo comissionado: de Direção Superior. A mudança das readequações é justificada como "em decorrência de ajustes no orçamento do Município de Caucaia".

Deuzinho: "Retorno dos cargos seria feito se eu apoiasse o Catanho" 

Deuzinho, no entanto, reforça a narrativa de perseguição, alegando que a exoneração dos cargos se trata de mais um capítulo da “novela” na gestão do município, em que, “quem perde é a população”. O vice ainda afirma: “ele [Valim] não vai me tirar do cargo que a população me deu. Eu fui votado. Ele afronta a Justiça, ele não obedece uma ordem judicial de ordem transversa”, disse ao O POVO, se referindo à decisão de março, da 3ª Vara Cível da Comarca de Caucaia.

As exonerações são separadas por mais de dois meses do anúncio feito por Deuzinho. Sobre a demora em contestar a ação da Prefeitura, o vice-prefeito alega que passou todo esse período tentando “abrir um canal de conversa administrativa” com Valim.

O que ocorreu, segundo ele, foi uma proposta de decisão política por parte do gestor: que Deuzinho apoiasse o candidato apoiado por Valim em Caucaia, o petista Waldemir Catanho, em troca dos cargos.

“Eu fui pra conversar, pra gente manter uma relação amistosa, pediram para eu aguardar, para não judicializar, não expor o problema. Eu não aceitei a proposta. Queriam que eu apoiasse o pré-candidato a prefeito deles, em troca do retorno dos cargos e eu não aceitei isso. Isso é ilegal e imoral. Usar a política para resolver uma questão interna da Prefeitura”, disse ele.

Contatada sobre as acusações, a assessoria do prefeito Vitor Valim encaminhou a seguinte resposta: "Não, isso não ocorreu. Todas as medidas e qualquer diálogo é administrativo."

Em consequência às exonerações, Deuzinho disse que vai recorrer da decisão, na Justiça. Hoje, ele é pré-candidato à Prefeitura de Caucaia, sendo um dos nomes de oposição ao indicado por Valim, Catanho. Valim não concorre, tendo decidido por sair da vida pública.

Falta de recursos na Vice-Prefeitura levou a gabinete em praças de Caucaia

Em janeiro, Deuzinho havia anunciado que estava encerrando as atividades da Vice-Prefeitura devido a uma redução extrema de gastos vinda de Valim. O orçamento havia sido remanejado quase em sua totalidade restando apenas subsídios para o salário de Deuzinho e de sua secretária. Na ocasião, ele ainda citou a medida como uma “retaliação” pelo rompimento dos dois em 2022.

Assim, viralizaram imagens dos “novos gabinetes” de Deuzinho: praças do município de Caucaia. “Podem tentar retirar-me tudo, mas a vontade de seguir adiante e trabalhar incisivamente em prol de Caucaia persiste”, afirmou o vice-prefeito.

Dois meses depois, a 3ª Vara Cível da Comarca de Caucaia determinou que o prefeito restituísse o orçamento do gabinete de Deuzinho Filho. Na decisão, o juiz da comarca defere o pedido alegado pela Prefeitura: de que o remanejamento houve "para pagamento de despesas com operação de crédito contratado com a Caixa Econômica Federal".

A prefeitura de Caucaia avaliou a decisão como interferência do Poder Judiciário no Poder Executivo. Na época, Deuzinho confirmou ao O POVO o retorno dos recursos e disse que retornaria para o gabinete, mas seguiria atendendo na rua em algumas ocasiões.

Como se deu o rompimento de Valim e Deuzinho

Os conflitos entre Deuzinho e Valim começaram em meados de 2022, por um afastamento político a princípio. O prefeito rompeu com a então sigla, Pros, e iniciou uma aproximação com o PT, do qual é forte aliado hoje, apesar de ser filiado ao PSB. Já o vice-prefeito era do Republicanos e passou para o União Brasil, do pré-candidato à Fortaleza, Capitão Wagner, ex-aliado de Valim.

Em 2023, os dois rivalizam por um projeto de lei que autorizava a venda de imóveis pertencentes ao Município, prevendo uma arrecadação de R$ 60 milhões com a alienação dessas propriedades.

Deuzinho era contrário à proposta de Valim, que, segundo ele, autorizava a venda de terrenos em que "não foi dada a efetiva destinação pública [...], desprovidos da finalidade pública e, consequentemente, sem cumprir a função social". A proposta, enviada à Câmara Municipal de Caucaia, foi aprovada por unanimidade.

Pouco depois, ganhou grandes proporções uma acusação de um funcionário da gestão do prefeito, Adriano Neguim, sobre Deuzinho supostamente usar o dinheiro do gabinete para despesas pessoais. Ele citou o termo “gogo boys”. Deuzinho rebateu, chamando a acusação de homofóbica.

Nesse período, o vice ainda alegou ter sido expulso do seu gabinete na sede da administração por Valim. Segundo ele, além de ficar sem local para despachar, também teve o orçamento previsto para a pasta cortado. Assim, passou a atuar em um anexo na Casa de Projetos Yara Guerra.

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