Tensão no Oriente Médio: quais as chances de Israel retaliar ataque do Irã?
Representantes de ambos os países estiveram reunidos com o Conselho de Segurança da ONU, em Nova York, neste domingo
16:00 | Abr. 15, 2024
Neste fim de semana, o Irã deu início a uma ofensiva sem precedentes contra Israel. Foram lançados mais de 350 drones e mísseis contra o território no último sábado, 13. No dia seguinte, representantes de ambas as partes estiveram reunidos com o Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU). O encontro, realizado em Nova York, nos Estados Unidos, foi marcado por troca de acusações entre os dois países.
O embaixador do Irã, Saeid Iravani, afirmou que os ataques foram uma iniciativa de autodefesa.
“A agressão feita no dia 1º de abril nas instalações diplomáticas desobedeceram à Carta da ONU e todas as determinações”, explicou Iravani.
“A operação do Irã exerceu o direito de autodefesa, como colocado no artigo 51 da Carta da ONU, e reconhecida internacionalmente pelo direito internacional. Essa ação já concluída foi necessária e proporcional. Ela foi precisa e teve alvo apenas militares e feita de forma cuidadosa para prevenir vítimas entre civis”, acrescentou o embaixador.
O emissário israelense, Gilad Erdan, rebateu e defendeu que Israel “tem todo o direito de retaliar o ataque do Irã”.
“O ataque de ontem cruza todas as linhas vermelhas, e Israel tem todo o direito de retaliar. Não somos um sapo numa panela fervendo, somos um país de leões”, disse Erdan.
Na classificação de Erdan, o Irã age como o regime nazista ao atacar Israel. “Ao invés de gritar ‘sieg heil’ [Viva a vitória, saudação nazista], eles gritam ‘morte a Israel’”.
“Há anos, o mundo vem assistindo à ascensão dos xiitas como foi a ascensão do nazismo. O Irã vem violando as resoluções do Conselho de Segurança e a Carta da ONU há anos. O mundo deve parar as ações criminosas do Irã”, acrescentou o diplomata israelense.
O secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, iniciou a reunião do Conselho de Segurança da ONU, que é “hora de diminuir a temperatura”.
“O Oriente Médio está agora numa situação de extremo perigo que pode levar para um conflito total. Agora é a hora de diminuir a temperatura. É a hora para a conversa”, seguiu. “É hora de recuar do abismo. É vital evitar qualquer ação que possa levar a grandes confrontos militares em múltiplas frentes no Oriente Médio”.
Guterres indicou que a ONU e os países membros têm uma “responsabilidade partilhada” de envolver “todas as partes envolvidas para evitar uma nova escalada”.
Ele também pediu um cessar-fogo no conflito entre Israel e Hamas. “Nem a região, nem o mundo podem permitir-se mais guerra”, comunicou.
Ataque de Irã a Israel
No início do mês, aviões de combate supostamente israelenses bombardearam a Embaixada do Irã na Síria. O ataque matou sete conselheiros militares iranianos e três comandantes seniores. Neste sábado (13), a ofensiva foi do Irã, que atacou o território israelense com mísseis e drones, que em grande parte foram interceptados pelas forças de defesa israelenses.
Com o inédito ataque deste fim de semana, Teerã expôs sua nova estratégia: responder diretamente a Israel a partir de seu território em caso de agressão a interesses iranianos no Irã ou no exterior.
A mudança de postura em relação a Israel, o grande inimigo regional, foi explicada por dirigentes políticos e militares que se pronunciaram após o ataque de sábado com drones e mísseis balísticos, o primeiro efetuado diretamente do Irã contra o território israelense.
Israel afirmou ter interceptado, com a ajuda dos Estados Unidos e de outros países, 99% dos mais de 350 projéteis lançados.
O presidente iraniano, Ebrahim Raisi, assegurou, por sua vez, que, com o ataque, Teerã deu uma "lição instrutiva ao inimigo sionista".
Raisi insistiu que o "castigo do agressor" aconteceu baseado no "direito legítimo de se defender", após a morte de sete militares em um bombardeio atribuído a Israel contra o consulado iraniano em Damasco em 1º de abril.
A dimensão da resposta iraniana, no entanto, surpreendeu a comunidade internacional. Teerã não atacava Israel desde 1979, ano em que se instaurou a República Islâmica no país.
Nos últimos 45 anos, Irã e Israel, inimigos jurados, se acostumaram a lançar operações clandestinas não reivindicadas ou a apostar em ações realizadas por organizações não estatais, como o Hezbollah libanês, apoiado pelo Irã.
"Hoje, a equação estratégica mudou. Atacar as forças e os ativos iranianos dará lugar a uma resposta direta", escreveu no domingo Mohammad Jamshidi, um assessor de Raisi, no X.
Hossein Salami, o comandante da Guarda Revolucionária, o exército ideológico do Irã, foi mais direto: "A nova equação é a seguinte: a partir de agora, em caso de ataque israelense contra interesses, personalidades ou cidadãos iranianos em qualquer lugar, haverá uma resposta".
O jornal estatal iraniano Javan celebrou na segunda-feira o "histórico" sucesso do ataque e destacou o fato de que representava a "nova estratégia do poder na região".
O ataque é "uma prova de que o Irã necessitava para saber como atuar em futuras batalhas", acrescentou.
O jornal reformista Ham Mihan destacou, por sua vez, que "a resposta direta" do Irã "rompeu o status quo e acabou com as regras do conflito que coloca as duas partes em lados opostos" há décadas.
"Não há mais uma guerra na sombra entre os dois lados", que "podem se atrever a atacar diretamente o outro", escreveu.
Não foi assim após os ataques anteriores atribuídos a Israel contra interesses iranianos na Síria ou em outros lugares nos últimos anos.
O Irã é um forte apoiador do Hamas na guerra contra Israel na Faixa de Gaza, iniciada em 7 de outubro após o ataque sangrento do movimento islamista palestino no sul de Israel.
Para fazer isso, tenta enfraquecer Israel através de ações de seus aliados, como os huthis do Iêmen ou o Hezbollah libanês, apontam os especialistas.
O Irã também apostou em uma reação limitada em 2020, quando um bombardeio dos EUA matou o general Qassem Soleimani, um dos principais chefes da Guarda Revolucionária, segundo especialistas.
Quatro dias depois, o Irã lançou mísseis contra duas bases americanas no Iraque, mas avisou Washington antes do ataque, de acordo com fontes americanas. Nenhum soldado foi morto no ataque.
Em sua mensagem no domingo, Mohammad Jamshidi disse: "A era da paciência estratégica diante dos vícios do regime sionista acabou".
O conceito de "paciência estratégica" foi defendido pelo ex-presidente moderado Hassan Rohani após a decisão dos EUA em 2018 de deixar o acordo nuclear sob o comando do presidente Donald Trump.
Alguns partidários da República Islâmica criticaram essa estratégia após o bombardeio que destruiu o consulado do Irã na capital síria, Damasco. Segundo eles, ela é passiva demais e incentiva Israel a realizar mais ataques contra seus interesses.
A "operação bem-sucedida" contra Israel "fortaleceu a dissuasão estratégica do Irã contra seus inimigos", disse o ministro das Relações Exteriores do Irã, Hossein Amir Abdollahian, na segunda-feira.
Com AFP
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