Alesp vai homenagear mulheres que atuaram contra ditadura militar
O evento será na sexta-feira, 5. A sessão busca lutar contra o "apagamento" das mulheres na história, segundo a deputada responsável pela iniciativaA Assembleia Legislativa de São Paulo (Alesp) vai homenagear três mulheres que atuaram contra a ditadura militar no Brasil.
Clarice Herzog e Ana Dias receberão o Colar de Honra ao Mérito Legislativo. Já Eunice Paiva, que faleceu em 2018 em decorrência do Mal de Alzheimer, será homenageada postumamente. A entrega da honraria acontecerá na sexta-feira, 5, às 19 horas, no plenário da casa.
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A iniciativa foi solicitada pela deputada estadual Beth Sahão (PT). "Esse evento é também uma luta contra o apagamento das mulheres na nossa história pelo machismo e contra o golpismo que infelizmente insiste em ressurgir no tempo presente", escreveu a parlamentar em uma postagem no Instagram.
Quem é Clarice Herzog?
Clarice era casada com o jornalista Vladimir Herzog, que, em 1975, foi preso, torturado e assassinado nas dependências do DOI-Codi (SP), para onde havia ido voluntariamente prestar depoimentos.
Desde o ocorrido, Clarice buscou esclarecer as circunstâncias e os responsáveis pela morte de Vladimir.
Em 2018, o Estado brasileiro foi condenado pela omissão em elucidar o crime e punir os torturadores de Vlado. Em 2013, graças à Clarice, o atestado de óbito de Vlado foi retificado.
Quem é Eunice Paiva?
Eunice Paiva era mulher de Rubens Paiva, ex-deputado cassado em 1964 e desaparecido após ser preso, torturado e assassinado pela ditadura militar do Rio de Janeiro no início de 1971.
Eunice, que lutou pela busca por informações do paradeiro do marido, teve a sua história contada no livro "Ainda Estou Aqui", lançado em 2015 e escrito por um dos filhos do casal, Marcelo Rubens.
Eunice morreu em dezembro de 2018, aos 86 anos. Ela lutava contra o Mal de Alzheimer.
Quem é Ana Dias?
Ana Maria do Carmo Silva foi uma das principais lideranças dos movimentos de moradores da Zona Sul na cidade de São Paulo, em 1960, como os Clubes de Mães, as Comunidades Eclesiais de Base e o Movimento contra a Carestia.
Seu marido, Santo Dias da Silva, foi morto pela Polícia Militar enquanto distribuía panfletos em favor de uma greve em frente à fábrica de lâmpadas Sylvania, em Santo Amaro, em 30 de outubro de 1979, durante a ditadura militar.
De acordo com o portal Memórias da Ditadura, foi a determinação de Ana que impediu que Santo Dias fosse enterrado como desconhecido e se tornasse mais um desaparecido político.
À revelia dos policiais, ela entrou no camburão que o levou para o Instituto Médico Legal, onde ouviu a intenção dos agentes de “se livrar” do cadáver do marido, já nu e sem identificação.
Trabalhadores e companheiros que também participavam do movimento de greve com o casal ajudaram a pressionar pela liberação do corpo, que só aconteceu no dia 4 de novembro.
A missa de corpo presente, celebrada por dom Paulo Evaristo Arns, iniciou-se na Igreja da Consolação, de onde os mais de 30 mil presentes partiram em cortejo até a Catedral da Sé.
Em 1982, Ana conseguiu a condenação do policial Herculano Leonel pelo crime a seis anos de prisão. Um ano e meio depois, a decisão foi revertida pelo Tribunal da Justiça Militar.