60 anos do golpe: 7 músicas para entender a ditadura no Brasil
Censura e a falta de liberdade assinalaram os anos da ditadura militar, mas vários artistas não cederam e criaram canções que se tornaram um marco; veja
Os anos da ditadura militar (1964-1985) foram marcados pela censura e pelo autoritarismo. No entanto, vários artistas brasileiros não abaixaram a cabeça e encontraram na música uma forma de contestar o regime e ainda vivenciar sua arte.
A música popular brasileira, também conhecida como MPB, foi um dos principais gêneros utilizados para a denúncia da opressão. Com letras marcantes, essas canções se tornaram essenciais para a história e para a cultura brasileira.
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Ditadura militar: músicas para entender o período
Muitos compositores e cantores foram perseguidos na época do regime militar.
Para que as produções pudessem chegar aos ouvidos do mundo, vários artistas começaram a produzir músicas cheias de metáforas, códigos e frases indiretas para denunciar o cenário vivido. Confira 7 dessas produções.
Cálice - Chico Buarque e Gilberto Gil (1973)
A música “Cálice” é conhecida até hoje como uma das principais canções do período. Ela faz uma metáfora ao momento de súplica de Jesus Cristo, sabendo que será morto, e pede para Deus que afaste dele o destino. “Pai, afasta de mim este cálice”.
Além disso, a obra aproveita a paronomásia da palavra “cálice”, que parece o verbo “cale-se”, e faz um apelo com o som das sílabas.
A música foi feita em 1973, mas por conta da censura, só foi lançada em 1978.
Pra não dizer que eu não falei das flores - Geraldo Vandré (1968)
Obra do cantor paraibano Geraldo Vandré, “Pra não dizer que eu não falei das flores” foi tema de muitas passeatas contra o regime militar.
A música foi apresentada no Festival Internacional da Canção de 1968 e ficou em segundo lugar. Sua repercussão chamou atenção da censura, e o artista precisou sair do país.
“Vem, vamos embora, que esperar não é saber/Quem sabe faz a hora, não espera acontecer” são um dos trechos da música, que é relembrada até hoje. As frases fazem apelo à união e à reação da população brasileira, para tentar mudar o cenário político da época.
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O Bêbado e o Equilibrista - de Aldir Blanc e João Bosco (1979)
A música foi escrita por Aldir Blanc e João Bosco em 1979 e ganhou os palcos na voz de Elis Regina. A obra é cheia de metáforas entrelaçadas em seus versos.
“Chora/ A nossa Pátria mãe gentil/ Choram Marias e Clarisses/ No solo do Brasil”, estas frases retratam a dor dos brasileiros por terem perdido a sua liberdade e também daqueles que tiverem parentes, amigos e conhecidos levados pela ditadura militar.
Alegria Alegria - Caetano Veloso (1967)
A música “Alegria Alegria” destaca o início da Tropicália e foi apresentada no Festival Record, em 1967. A canção ficou em quarto lugar, mas era a preferida do público e fez bastante sucesso.
A obra cita trechos como "caminhando contra o vento", que propõe resistência de aceitar aquilo que já se encaminhava. Ela também representa uma juventude que se sentia perdida, sem saber para onde ir.
Apesar de você - Chico Buarque (1970)
Chico Buarque foi um dos nomes que mais fez músicas na época denunciando o cenário político. Outra obra que se destaca foi a música “Apesar de você”, de 1970, que foi censurada e só foi liberada oito anos depois, em 1978.
A canção esboça a esperança de dias melhores e de que tudo vai mudar no futuro. O cantor ainda anunciava que o período sombrio estava chegando ao fim, desafiando o autoritarismo com resiliência.
Domingo no parque - Gilberto Gil e Os Mutantes (1967)
A música foi composta e cantada por Gilberto Gil em 1967. O artista apresentou a canção com o Os Mutantes no III Festival de Música Popular, e ficou em segundo lugar.
A obra conta uma narrativa que começa inocente, sobre a história de dois homens, mas a letra da canção vai ganhando contornos violentos.
"Olha o sangue na mão/ Ê, José!/ Juliana no chão/ Ê, José!/ Outro corpo caído" pode ser interpretado como uma representação das consequências da violência e do autoritarismo da época.
É proibido proibir - Caetano Veloso (1968)
A música foi composta por Caetano em 1968, que foi um dos anos mais sombrios da ditadura militar, com a criação do Ato Institucional Número 5 (AI-5), que censurava a cultura e a imprensa.
Em 1969, o cantor performou, junto com Os Mutantes, a canção no III Festival Internacional da Canção. O público vaiou os artistas e eles não tiveram condições de finalizar a apresentação.
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