Governo exonera diretor que negou TV ao PT e atendeu grupo de Juscelino Filho
O ministro chefe da Casa Civil, Rui Costa, exonerou o diretor de radiodifusão privada do Ministério das Comunicações, Antonio Malva Neto, que estava na função desde fevereiro de 2023. O advogado vinha sofrendo pressão do PT depois de ter negado pedido do partido por concessões de rádio e TV. A cúpula partidária chegou a atribuir a negativa ao "bolsonarismo" do agora ex-diretor.
Em nota, o ministério de Juscelino Filho alegou que a exoneração, publicada no Diário Oficial da União nesta sexta-feira, 22, faz parte de "movimentações naturais da administração pública" e não tem qualquer relação com a solicitação feita pelo partido do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
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Em substituição, o governo nomeou Nelson Alves Pinto Neto. Filiado ao União Brasil, partido do ministro Juscelino Filho, ele concorreu a uma vaga na Câmara do Distrito Federal nas eleições de 2022 e não foi eleito. Segundo o perfil no LinkedIn, Neto diz ter experiência de mais de 20 anos no ramo de cooperativa de crédito. Ele também descreve atuações nas áreas de comunicação, marketing e voluntariado.
Um dos trechos da autodescrição publicada na rede social de perfis profissionais tem a seguinte mensagem: "Busco oportunidade profissional, com objetivo de contribuir de forma estratégica com o crescimento de empresas que buscam por profissional com experiência, focado, disciplinado, com perfil estratégico, criativo e inovador, especializado e com enorme desejo de aprender e aplicar seus conhecimentos", escreveu.
A diretoria de radiodifusão privada é uma das principais no Ministério das Comunicações porque por ela passam as questões relacionadas à criação e expansão de emissoras de rádio e TV no País.
O advogado Malva Neto era sócio em um escritório de advocacia do também advogado Willer Tomaz, próximo do senador Flávio Bolsonaro (PL-SP). O ex-diretor já foi assessor do senador Weverton Rocha (PDT-MA), aliado do ministro Juscelino Filho.
Willer Tomaz é dono da TV Difusora, do Maranhão, e compadre do senador Weverton Rocha. Fundada na década de 1960, a emissora já foi comandada pela família do ex-senador Edison Lobão (MDB-MA). O filho do ex-parlamentar, o ex-senador Edinho Lobão, contou ao Estadão que arrendou a rede para Weverton, em 2016, e depois a vendeu a Willer Tomaz.
Como mostrou o Estadão, o Ministério das Comunicações concedeu 31 retransmissoras de televisão para a TV Difusora. Nenhuma outra emissora no País teve tantos pedidos do mesmo tipo atendidos no mesmo período.
Um dos pedidos de retransmissão de programação pelo grupo da Difusora foi despachado por Malva Neto 31 minutos depois de chegar ao gabinete dele.
O secretário nacional de Comunicação do PT, deputado Jilmar Tatto (SP), não respondeu a reportagem. Em protesto contra a decisão que barrou o pedido de uma TV para o partido, o parlamentar chegou a atribuir a decisão negativa ao "bolsonarismo" do diretor da área.
Procurado, Antonio Malva Neto disse que não tinha nada a declarar sobre a exoneração. O Ministério das Comunicações, em nota, afirmou que "a mudança na chefia do Departamento de Radiodifusão Privada faz parte das movimentações naturais da administração pública e que o pedido de outorga do PT não teve qualquer influência". A pasta de Juscelino acrescentou que "agradece Antônio Malva Neto pelos excelentes serviços prestados".
Sobre o novo diretor, o ministério informou que Nelson Neto "pela sua experiência na área, pois atuou na iniciativa privada como gestor de comunicação, tem formação em relações públicas e especialização em marketing pela Fundação Getúlio Vargas".