Atropelado no ar: o que se sabe e o que é mistério na morte de Castello Branco
Ex-presidente morreu em acidente aéreo no Ceará. Muitos até hoje acreditam que foi premeditado; outra parcela, que foi uma fatalidade. Veja o que se sabeHumberto de Alencar Castello Branco foi o único cearense a ter um mandato presidencial de quase quatro anos, e também foi o primeiro presidente da Ditadura Militar (1964 - 1985). Porém, em 1967, três anos após assumir o cargo, o cearense morreu em um acidente aéreo antes de pousar em Fortaleza.
Até hoje, o caso divide os brasileiros. De um lado, aqueles que acreditavam, e ainda acreditam, em conspiração seguida de assassinato. Do outro, os que creem em fatalidade.
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“Castello, o Ditador” é a mais nova produção audiovisual do O POVO+. Filme original da plataforma de streaming do Grupo de Comunicação O POVO, o documentário lança luz ao ano de 1964, período marcado pela implantação da ditadura cívico-militar no Brasil.
Confira a seguir o que se sabe e o que ainda é mistério sobre a morte do ditador Castello Branco.
Castello Branco: o acidente
Reportagem especial do O POVO sobre Castello Branco, publicada em 2017, reuniu diversos fatos sobre a morte do ex-presidente.
Em 18 de julho de 1967, o avião cedido pelo Governo do Ceará, um Piper Aztec, colidiu com um jato TF-33A, da Força Aérea Brasileira (FAB), antes de pousar em Fortaleza.
No avião em que estava Castello Branco, também estava a educadora Alba Frota; o major Manuel Nepomuceno; o irmão do marechal, Cândido Castelo Branco; o comandante Celso Tinoco Chagas e seu filho, o copiloto Emílio Celso Chagas, que foi o único sobrevivente.
O caça da FAB bateu “com precisão cirúrgica” com a ponta da asa esquerda no leme de direção e na quilha do Piper, arrancando parte da cauda da aeronave civil.
O veículo em que estava o ex-presidente caiu em giros de parafuso chato, o que durou aproximadamente 1 minuto e 30 segundos. Já o avião da FAB retornou ao aeroporto, onde pousou normalmente, sem os tip-tanques (tanques de combustível auxiliares que ficam nas pontas das asas da aeronave).
Apenas um dos equipamentos foi arrancado na colisão e o outro foi automaticamente ejetado, para evitar o desequilíbrio do TF-33A.
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O fato deu espaço para o início de diversas teorias, investigações e conclusões duvidosas, que atravessam quase 60 anos sem que ninguém seja responsabilizado pelo episódio.
Castello Branco: o que o marechal fazia no Ceará antes da sua morte?
Castelo Branco visitava a fazenda Não Me Deixes, na região de Quixadá. O então presidente havia ido se encontrar com a escritora Rachel de Queiroz, em 17 de julho de 1967.
No dia seguinte à visita, o militar se dirigiu ao aeroporto da cidade, onde embarcou com os demais passageiros e a tripulação para voar rumo à base aérea de Fortaleza.
Castello Branco: o que se sabe do acidente
Alguns fatos apoiam a teoria de que o caso foi premeditado. Um dos exemplos é que a tripulação do piper alertou à torre de controle quando estava a dez minutos da área de pouso. Desceriam na pista 13.
Minutos depois, a torre autorizou a passagem dos jatos da FAB sobre a pista 31, informando que não havia “tráfego conhecido ou à vista que interferisse com a passagem solicitada”.
Entretanto, também há fatos que corroboram ter sido uma fatalidade. Na ida a Quixadá, Castello usou um trole (pequeno carro que anda sobre a linha férrea), mas ficou com dores na coluna e alguém deu a ideia de solicitar o avião do Estado. A viagem aérea, portanto, não era planejada.
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A saída do voo de Quixadá atrasou cerca de 30 minutos. Eventual atendado poderia ser atrapalhado pela mudança de cronograma.
Em 1997, o copiloto confirmou que voava em condições visuais e que somente os jatos poderiam tê-los avistado. Ele queixou-se de a torre não ter os alertado da presença dos caças, mas declarou que nada havia a ser esclarecido.
O piloto da FAB que colidiu no Piper era o primeiro-tenente Alfredo Malan D’Angrogne, filho do general Alfredo Malan, grande amigo de Castelo. Alfredo também conhecia o piloto Celso Tinoco, que morreu na mesa de cirurgia.
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D’Angrogne foi entrevistado pelo O POVO. Disse que o acidente o “chocou muito” e refutou a possibilidade de choque intencional. “Existem maneiras menos complicadas de derrubar um avião que se chocar contra ele”.
Castello Branco: perguntas que ainda são um mistério
Muitos fatos sobre o acidente são um mistério ainda nos dias atuais. Existem perguntas que ainda não foram respondidas, mesmo após quase 60 anos de sua morte.
- Por que a torre de controle não comunicou à esquadrilha a existência dos jatos ou vice-versa e quem autorizou as manobras em 18 de julho de 1967?
- Por que os jatos não efetuaram o pouso direto, ao invés de iniciar nova manobra? Por coincidência, o tip-tanque atingido no caça estava vazio, evitando uma explosão.
Morte de Castello Branco: avião está em Fortaleza
O avião em que Castello viajava foi restaurado e pode ser visto em Fortaleza. A aeronave está no pátio externo do quartel do 23º Batalhão de Caçadores, no Bairro de Fátima, na esquina entre as avenidas 13 de Maio e dos Expedicionários.
Uma reprodução do jato TF-33 está exposta frente à Base Aérea de Fortaleza, na avenida Borges de Melo, 205, no bairro Aeroporto.
Morte de Castello Branco: o que aconteceu após a queda do avião
A equipe do O POVO foi a primeira a chegar ao local do acidente. O caminho, das proximidades da avenida Perimetral até o local da queda, era de cerca de 8 km mata a dentro, em terreno pantanoso. Oficiais e praças abriram caminho com facões.
Testemunhas contam que Castello foi retirado ainda com vida dos destroços, mas não resistiu. O laudo cadavérico aponta que ele teve três fraturas na perna direita e sofreu violenta pancada na região lombar, comprimindo seus pulmões.
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O corpo de Castello foi transportado num jipe onde também estavam: o governador Plácido Castelo; o comandante da 10ª Região, general Dilermando Monteiro, o vice-governador, Humberto Ellery, e o coronel Libório. Eles aguardavam no aeroporto e foram ao local após serem informados da queda por um oficial.
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