PF: falsificação do cartão de vacinas de Bolsonaro teria elo com golpe

Bolsonaro e aliados são investigados por uma tentativa de golpe após a derrota nas eleições de 2022. Ex-presidente foi indiciado por falsificação de cartão de vacinas

16:03 | Mar. 19, 2024

Por: Júlia Duarte
Ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) (foto: Lula Marques/ Agência Brasil)

A Polícia Federal (PF) pediu o indiciamento do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e outras 16 pessoas por crimes ligados à falsificação do certificado de vacinação para Covid-19. Conforme o inquérito da corporação, a movimentação para fraudar os cartões de vacinação teria relação com a tentativa de golpe de Estado, a qual também apurada pela PF e tem Bolsonaro e aliados na mira. 

Os policias apontam que a inserção dos dados falsos em favor do ex-presidente, sua filha e outros nomes próximos pode ter sido utilizado para permitir que seus integrantes — após a tentativa de golpe — pudessem ter viabilidade de deixar o país e entrar em outro. Dois dias da posse presidente de Luiz Inácio Lula da Silva (PT), Bolsonaro deixou o Brasil e foi para os Estados Unidos

“Inserção de dados falsos de vacinação contra a Covid-19 nos sistemas do Ministério da Saúde para falsificação de cartões de vacina, pode ter sido utilizado pelo grupo para permitir que seus integrantes, após a tentativa inicial de Golpe de Estado, pudessem ter à disposição os documentos necessários para cumprir eventuais requisitos legais para entrada e permanência no exterior (cartão de vacina), aguardando a conclusão dos atos relacionados a nova tentativa de Golpe de Estado que eclodiu no dia 08 de janeiro de 2023”, diz o inquérito da PF. 

No início do ano, Bolsonaro, ex-assessores, generais e ex-comandantes das Forças Armadas foram alvo de operação da PF. Além de Bolsonaro, a operação investiga nomes como os de Augusto Heleno (GSI) e do general Braga Netto (Casa Civil e Defesa). O ex-assessor para Assuntos Internacionais da Presidência Filipe Martins e o ex-ajudante de ordens coronel Marcelo Câmara foram presos.

Denominada de “Tempus Veritatis”, a operação visa apurar a “organização criminosa que atuou na tentativa de golpe de Estado e abolição do Estado Democrático de Direito, para obter vantagem de natureza política com a manutenção do então presidente da República [Bolsonaro] no poder”.

Fraude dos cartões

Segundo a PF, o esquema começou em novembro de 2021. Naquele momento, Cid pediu ao sargento do Exército Luis Marcos dos Reis, seu colega na Ajudância de Ordens da Presidência, que o auxiliasse a conseguir um cartão de vacinação forjado para sua esposa Gabriela Santiago Cid.

A corporação afirma ainda que partiu de Bolsonaro a ordem para fraudar os cartões de vacinação e usa como comprovação depoimento do ex-ajudante de ordens, o tenente-coronel Mauro Cid. “QUE confirma recebeu a ordem do ex-Presidente da República, JAIR BOLSONARO, para fazer as inserções dos dados falsos no nome dele e da filha LAURA BOLSONARO; QUE esses certificados foram impressos e entregue em mãos ao presidente”, diz trecho do depoimento de Mauro Cid, anexado no inquérito da PF.

 

O advogado Fabio Wajngarten, que representa Bolsonaro, disse que a defesa não teve acesso ao relatório e chamou o indiciamento do ex-presidente de“absurdo”. O defensor escreveu que “enquanto [Bolsonaro] exercia o cargo de Presidente, ele estava completamente dispensado de apresentar qualquer tipo de certificado nas suas viagens”. “Trata-se de perseguição política e tentativa de esvaziar o enorme capital politico que só vem crescendo”, alega.