Caso Marielle: seis anos depois, o que foi respondido e o que segue sem resposta
Ao todo, quatro pessoas foram presas nas investigações. Os últimos desdobramentos se deram em fevereiro
15:57 | Mar. 14, 2024
Há exatos seis anos a vereadora Marielle Franco e o motorista Anderson Gomes foram assassinados, em um caso de motivação política. Apesar da ampla repercussão, com campanhas por justiça a nível internacional, as investigações levantaram nomes, prenderam suspeitos e executores, porém seguem sem responder a principal pergunta: quem foi o mandante do crime?
Ao todo, quatro pessoas foram presas nas investigações. Os últimos desdobramentos se deram em fevereiro, quando Edilson Barbosa, conhecido como Orelha, foi preso no Rio de Janeiro. Ele é apontado como responsável pelo desmanche do veículo usado pelos assassinos da vereadora.
Além disso, no início deste ano, uma delação do ex-policial militar, Ronnie Lessa - um dos detidos - teria apontado o conselheiro do Tribunal de Contas do Estado (TCE), Domingos Brazão como um dos dois autores do crime. Em resposta, Brazão negou tudo e acusou Lessa de “estar querendo proteger alguém”. A delação agora precisa ser homologada pelo Superior Tribunal de Justiça (STJ).
Desde fevereiro de 2022, o caso entrou no âmbito nacional e está sendo investigado pela Polícia Federal. Em 9 de janeiro, o diretor-geral da PF (Polícia Federal), Andrei Rodrigues, prometeu uma resolução ainda no primeiro trimestre de 2024, ou seja, até este mês. A Polícia, no entanto, aponta empecilhos que tornam o caso “um desafio”, como a distância do ocorrido até a federalização (4 anos) e a necessidade de revista de processos realizados pela Polícia Civil do Rio, que apurava anteriormente.
Segundo o ministro do Supremo Tribunal Federal, na época titular do ministério da Justiça, Flávio Dino, não há previsão para a resolução do caso.
Confira, abaixo, a linha do tempo do caso Marielle até os dias atuais
Março de 2018: o crime
O crime ocorreu em 14 de março de 2018. Na ocasião, a parlamentar se dirigia para casa acompanhada da então assessora Fernanda Chaves, ex-assessora de Marielle Franco, no veículo conduzido por Anderson Gomes. Ela participava de um evento de jovens negras. Os três foram encurralados, no bairro Estácio, no centro do Rio, por um outro automóvel, de onde partiram os tiros. Marielle foi atingida por pelo menos quatro disparos na cabeça e Anderson por três nas costas. Fernanda foi a única sobrevivente do atentado.
Maio de 2018: primeiros suspeitos
O vereador Marcello Siciliano (PHS) e Orlando Oliveira de Araújo, acusado de chefiar uma milícia, são investigados pelo crime. Siciliano chegou a ser preso, mas foi descartado como suspeito.
Outubro de 2018: primeiras pistas
O Ministério Público do Rio de Janeiro (MPRJ) identificou o tipo físico do atirador que matou Marielle e Anderson e locais por onde o carro utilizado para o crime teria percorrido até a execução.
Novembro de 2018: investigação investigada
A PF começa a investigar uma organização de "agentes públicos e milicianos" que atuariam para obstruir a investigação. O pedido foi da procuradora-geral da República, Raquel Dodge.
Novembro de 2018: políticos envolvidos
O secretário de Segurança Pública do Rio, general Richard Nunes, afirma que a Polícia identificou envolvidos no crime, inclusive milicianos. O general disse crer na participação de políticos.
Março de 2019: suspeitos presos
A Polícia Civil e o Ministério Público prendem o PM reformado Ronnie Lessa, acusado de fuzilar Marielle e Anderson, e o ex-PM Élcio Queiroz, possível motorista do carro usado no crime.
Março de 2019: armas apreendidas
Policiais civis apreendem 117 fuzis modelo M-16 desmontados na casa de Alexandre Motta Souza, amigo de Ronnie Lessa. Foi a maior apreensão do gênero no Estado.
Setembro de 2019: fraude processual
Raquel Dodge apresenta denúncia de irregularidades na condução das investigações. Ela cita desvio das apurações com inserção de declarações falsas e fraude processual.
Outubro de 2019: operação Submersus
A Operação Submersus cumpre mandados de prisão contra Ronnie Lessa e mais quatro suspeitos. São acusados de obstrução de Justiça, porte de arma e associação criminosa.
Março de 2020: júri popular
Fica decidido que o policial militar reformado Ronnie Lessa e o ex-PM Élcio Queiróz serão levados a júri popular. A decisão é do juiz Gustavo Kalil, da 4ª Vara Criminal do Rio.
Maio de 2020: federalização negada
STJ nega, por unanimidade, a federalização do caso Marielle Franco. O pedido de federalização do caso fora feita pela então procuradora-geral da República, Raquel Dodge.
Junho de 2020: bombeiro preso
O cabo-bombeiro Maxwell Simões Correa é preso por atrapalhar as investigações. Um dia após as prisões de Lesa e Queiroz, Maxwell e outros ajudaram a ocultar armas de fogo de Lessa.
Julho de 2021: nova condenação
A Justiça condena Ronnie Lessa e outros suspeitos por destruição de provas. Segundo o MPRJ, Lessa e os outros quatro condenados jogaram armas no mar da Barra da Tijuca.
Agosto de 2022: Lessa condenado
Ronnie Lessa é condenado a cinco anos de prisão por tentativa de tráfico internacional de armas. Lessa começaria a cumprir a pena já em regime fechado, se sentença e a preventiva fossem mantidas.
Agosto de 2022: condenação mantida
A condenação de Ronnie Lessa a cinco anos de prisão por tráfico internacional de armas é mantida. Lessa começa a cumprir a pena já em regime fechado e a prisão preventiva desse caso foi mantida.
Janeiro de 2023: procurador reconduzido
O governador do Rio, Cláudio Castro (PL), decide reconduzir Luciano Mattos para novo mandato à frente do MP estadual. Castro escolhe o segundo da lista tríplice votada pela corporação.
Fevereiro de 2023: investigação federal
Após requisição do novo ministro da Justiça, Flávio Dino, a PF abre inquérito para apurar o assassinato de Marielle e Anderson. A nova apuração foi negociada com o MP do Rio.
Julho de 2023: delação de Élcio e prisão de Maxwell
O ex-PM Élcio de Queiroz confirma a própria participação no caso Marielle, após fechar um acordo de delação premiada com a PF. Também indica o envolvimento de Ronnie Lessa, do ex-bombeiro Maxwell Simões Corrêa e de um conhecido deles, Edilson Barbosa, conhecido como Orelha. Maxwell é preso no mesmo dia.
A delação incluiu ainda o suspeito de contratar o executor da vereadora Marielle Franco, o PM Edmilson da Silva de Oliveira, morto em 2021.
Agosto de 2023: Orelha denunciado
Orelha é denunciado pelo Ministério Público por impedir e embaraçar as investigações do caso
Dezembro de 2023: Suel é ouvido
Maxwell Simões Correa, o Suel, é ouvido pela PF e nega acusações de Élcio
Janeiro de 2024: delação de Lessa e Brazão
Ronnie Lessa faz acordo de delação premiada com a Polícia Federal. Delação aponta o conselheiro do Tribunal de Contas do Estado (TCE), Domingos Brazão como autor do crime
Fevereiro de 2024: Orelha é preso
Após 6 meses da denúncia do MP, Orelha é preso, no Rio de Janeiro. Ele teria sido responsável pelo desmanche do veículo usado pelos assassinos da vereadora
Março de 2024: Domingos, Chiquinho e Rivaldo são presos
Seis anos depois, três mandantes do assassinato são presos pela PF no RJ. Operação é fruto da delação premiada de Ronnie Lessa, que identificou quem ordenou o crime.
Atualizado às 9h01min de 24 de março de 2024
(Com Agência Estado)