Lula orienta evitar atos em memória aos 60 anos do golpe militar

A orientação é de não se realize atos, solenidades, discursos ou produção de material em memória dos 60 anos do golpe militar

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) determinou que ministros e membros do Governo não manifestem apoio em memória aos 60 anos do golpe militar. Com a orientação, o chefe do Executivo federal não quer criar novas arestas com os militares.

A determinação acontece em meio à investigação da Polícia Federal que tem como alvo o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e generais militares sobre suposta tentativa de golpe de Estado para evitar que Lula assumisse a Presidência da República.

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Conforme o jornal Folha de S.Paulo, o petista tratou do assunto com o ministro dos Direitos Humanos e Cidadania, Silvio Almeida, em conversa no Palácio do Planalto. A pasta tinha uma programação extensa dedicada à data, mas está sendo revista por conta da orientação do presidente.

A assessoria do Ministério negou o encontro entre Almeida e Lula. Já o Palácio do Planalto informou ao Correio Braziliense que não comentaria o assunto.

Além disso, a decisão do presidente em evitar alusões aos 60 anos do golpe atinge agendas que já estavam sendo montadas em vários setores do governo, como a Comissão de Anistia. A entidade programava uma pauta de julgamento de casos emblemáticos, num evento que seria nomeado de "Semana do Nunca Mais", algo que, com esse nome, deve ser engavetado.

Durante a gestão de Flávio Dino, em 2022, o Ministério da Justiça anunciou a criação de um Museu da Memória e da Verdade, com previsão de ser inaugurado neste 31 de março. Com recursos da pasta, o projeto não sairá do papel até segunda ordem.

 

Considerado uma "ordem expressa" de Lula dentro do governo, o posicionamento é compreendido como a "outra face" da história. Se os militares não irão divulgar nota com a chamada "ordem do dia" lembrando a data, por meio de declaração do ministro da Defesa, José Múcio, do lado dos civis o mesmo deve acontecer. Contudo, a orientação deve enfrentar críticas de familiares e vítimas da ditadura.

Em entrevista à RedeTV!, Lula afirmou não querer ficar "remoendo" esse passado e que é necessário "tocar o país para frente". Na conversa com o jornalista Kennedy Alencar, o mandatário disse ainda estar mais preocupada com a tentativa de golpe do 8 de janeiro de 2023.

"O que eu não posso é não saber tocar a história para frente, ficar remoendo sempre, remoendo sempre, ou seja, é uma parte da história do Brasil que a gente ainda não tem todas as informações, porque tem gente desaparecida ainda, porque tem gente que pode se apurar. Mas eu, sinceramente, eu não vou ficar remoendo e eu vou tentar tocar esse país para frente", contou.

Além disso, a decisão do presidente sinaliza um afastamento da possibilidade de recriar a Comissão de Mortos e Desaparecidos Políticos, extinta no governo Bolsonaro.

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