Freire Gomes diz à PF que manteve acampamento no QG do Exército a pedido de Bolsonaro
O depoimento do general acerca dos acampamentos é um dos pontos fortes da investigação que apresenta mais uma ligação entre o ex-presidente e a suposta tentativa de golpe de EstadoO general Marco Antonio Freire Gomes, ex-comandante do Exército, depôs à Polícia Federal (PF) e alegou não ter interferido na manutenção do acampamento golpista montado em frente ao Quartel-General de Brasília a mando do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).
Apoiadores do ex-mandatário começaram a montar estruturas em torno de QGs logo após o resultado das eleições presidenciais, realizadas em outubro de 2022. As equipes de bolsonaristas solicitaram atuação dos militares para manter o ex-presidente no poder, a despeito do resultado das urnas.
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Em 11 de novembro de 2022, Freire Gomes e os então comandantes da Marinha, Almir Garnier, e da Força Aérea Brasileira (FAB), Carlos de Almeida Baptista Junior, tinham assinado um comunicado intitulado “Às Instituições e ao Povo Brasileiro”.
A nota nomeava os acampamentos bolsonaristas de “manifestações populares”.
“São condenáveis tanto eventuais restrições a direitos, por parte de agentes públicos, quanto eventuais excessos cometidos em manifestações que possam restringir os direitos individuais e coletivos ou colocar em risco a segurança pública; bem como quaisquer ações, de indivíduos ou de entidades, públicas ou privadas, que alimentem a desarmonia na sociedade”, diz trecho da nota.
Quase dois meses depois, no dia 29 de novembro, às vésperas do fim do mandato do ex-presidente, o general Gustavo Henrique Dutra, que à época estava à frente do Comando Militar do Planalto, determinou que o acampamento no QG de Brasília fosse desmontado.
A justificativa era de que o desmonte evitaria o confronto entre apoiadores de Bolsonaro e eleitores de Lula (PT), que começavam a chegar à capital federal para acompanhar a posse do presidente eleito.
O pedido, no entanto, foi barrado por Freire Gomes. Na mesma data, ele ligou para o general e proibiu qualquer interferência no acampamento. Conforme disse à PF, a mando do ex-presidente Bolsonaro.
O depoimento do general acerca dos acampamentos é um dos pontos de colisão da investigação que apresenta mais uma ligação entre o ex-presidente e a suposta tentativa de golpe de Estado.
A declaração do ex-comandante do Exército é considerada crucial para as investigações.
De acordo com fontes ligadas à PF, os esclarecimentos do general, do ex-comandante da Aeronáutica Carlos Baptista Júnior e a delação do ex-ajudante de ordens de Bolsonaro, Mauro Cid, são complementares.
O depoimento de Freire Gomes
Na última sexta-feira, 1°, o general Freire Gomes trouxe revelações sobre a tentativa de golpe. De acordo com ele, Bolsonaro e Paulo Sérgio teriam apresentado dois documentos com o roteiro dos atos golpistas. A iniciativa de Bolsonaro foi confirmada às autoridades pelo brigadeiro Carlos de Almeida Batista Jr., de acordo com a jornalista Míriam Leitão, do jornal O Globo.
A declaração corresponde com a apreensão realizada pela PF no gabinete de Jair Bolsonaro dentro da sede do Partido Liberal (PL). Durante a deflagração, a polícia encontrou a minuta mencionada por Freire Gomes, o que reforça o depoimento prestado pelo militar.
De acordo com o relato do general, além de mostrar a minuta pessoalmente, Bolsonaro chamou o general Estevam Theophilo no Palácio da Alvorada para apresentar o “firme propósito de implementar o que estava escrito”. Theophilo é comandante do Coter, o Comando das Operações Terrestres.
Às autoridades, o número um do Coter disse que foi à reunião no Alvorada a mando de Freire Gomes. Contudo, o general negou a informação à PF e disse que a ordem não partiu dele.