Condenado pelo assassinato de Chico Mendes assume presidência do PL em cidade que homenageia Médici

Além da nova função, Darci Alves Pereira, o "Pastor Daniel", apresenta-se nas redes sociais como "pré-candidato a vereador". Município de Medicilândia tem nome em homenagem a presidente da época da ditadura militar. Com a polêmica, o presidente nacional do partido, Valdemar Costa Neto, decidiu afastá-lo

O novo presidente do Partido Liberal de Medicilândia, no Pará, Darci Alves Pereira, é reu confesso e condenado pela morte de Chico Mendes. Conforme informações do jornal O Eco, ele se estabeleceu no município após cumprir parte da pena pelo assassinato do líder sindicalista, na década de 1990.

Realizada na Câmara de Vereadores, a cerimônia de posse ocorreu no dia 26 de janeiro de 2024. Além da nova função, Pereira se apresenta nas redes sociais como "pré-candidato a vereador". De acordo com o portal O Eco, o dirigente não quis se pronunciar. Com a polêmica, o presidente nacional do partido, Valdemar Costa Neto, decidiu afastá-lo.

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Atuando na Assembleia de Deus da última Hora, Darci se converteu à igreja evangélica há alguns e se apresenta como "Pastor Daniel". Diante disso, nem todos da cidade o conhecem por esse nome de batismo. Por lá, ele também mantém uma fazenda produtora de cacau e gado.

“Em Medicilândia não é todo mundo que sabe que ele é o Darci que matou o Chico Mendes, pra você ter uma ideia. Ele utiliza outro nome, a gente conhece ele por Daniel”, contou uma moradora, que não quis se identificar por receio de represálias.

Conforme a fonte, ele é considerado cidadão de bem. “Ele é uma pessoa que todo mundo conhece e respeita muito […] Ele é conhecido por ser um líder na comunidade, por doar dinheiro pra igreja, doar dinheiro para os mais necessitados, é um bom pai, é um bom esposo. É isso o que a comunidade fala”, explicou.

E segue: “Ele não carrega a alcunha do assassino do Chico Mendes. Do ponto de vista das pessoas daqui, ele é como se fosse um herói. Essa é a narrativa usada, ele é a pessoa que conseguiu matar o cara que estava travando o desenvolvimento.”

Assassinato

Aos 44 anos, Chico Mendes foi morto com um tiro no peito no dia 22 de dezembro de 199, no quintal de casa. Após dois anos, Darci se entregou a polícia frente a uma pressão nacional e internacional sobre o caso.

O agora dirigente chegou a confessar o crime em diferentes momemntos, uma diante do Tribunal do Júri de Xapuri, em 1990. Contudo, depois de seis anos, ele mudou a versão e negou o crime. No mesmo ano, ele e seu pai, Darly Alves da Silva, foram condenadors a 19 anos de prisão. Segundo a Justiça, Darci foi o executor e seu pai, mandante,

Eles ficaram na penitenciária Francisco de Oliveira Conde, em Rio Branco (AC), mas fugiram em 1993 e ficaram três anos foragidos. Em 1996, a Polícia Federal recapturou a dupla, que foram levados ao complexo penitenciário de segurança máxima da Papuda, em Brasília.

Passados mais três anos, Darly atestou problemas de saúde e passou a cumprir prisão domiciliar. Já Darcy migrou para o regime semiaberto, por apresentar bom comportamento.

Ao O Eco, a filha mais velha do líder sindical falou que a notícia machuca, mas não a surpreende.

“Eu já sabia há algum tempo, não muito, poucos meses, da pretensão política do Darci. De toda forma, eu não me surpreendo […] Ter uma pessoa na presidência de um partido como o PL, de extrema direita e que tanto mal causou ao País, cuja família sempre viveu através de ilícitos, para mim é a representação da maioria do Congresso que a gente tem hoje”, conta.

Segundo ele, Darci ter cumprido pena não o isenta do crime. “Não me surpreende, mas não deixo de ficar triste pela iminência de termos no Congresso ou em qualquer espaço político mais uma pessoa condenada por um assassinato tão cruel e covarde, declaradamente criminosa (…). Não é porque pagou a sentença que deixou de ser criminosa, isso não o torna inocente”.

Quem é Chico Mendes

Nascido em 1944 em Xapuri, no seringual Porto Rico, Chico Mendes foi um seringueiro, sindicalista e ativista político. Ele lutou pelos serigueiros da Bacia Amazônica, que dependiam da preservação da floresta e das seringuiras nativas.

A criação de reservas extrativistas veio dele, mas só ocorreu formalmente após sua morte. Mesmo trazendo reconhecimento internacional, seu ativismo lhe rendeu a ira de grandes fazendeiros.

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