Vídeo com Damares sobre exploração sexual na Ilha de Marajó usa imagens do Uzbequistão

Imagens da gravação foram registradas no Uzbequistão e não no Pará. Entidades também se pronunciaram negando as denúncias

É enganoso vídeo que intercala imagens de falas de denúncias da senadora Damares Alves (Republicanos) sobre exploração e abuso infantil na Ilha de Marajó, no Pará, com imagens de policiais retirando crianças de dentro de um carro.

A combinação das duas gravações leva a crer que o segundo vídeo se refere ao resgate das vítimas, ou seja, a “prova” dos crimes que supostamente ocorrem na ilha paraense. A disseminação ou produção do vídeo não se deu pela senadora, conforme ressaltado por sua assessoria, mas por meio da rede social Instagram, em um perfil que se diz dedicado "ao despertar". A imagem de Damares é apenas utilizada na filmagem.

É + que streaming. É arte, cultura e história.

+ filmes, séries e documentários

+ reportagens interativas

+ colunistas exclusivos

A segunda filmagem retrata o Uzbequistão. Não se trata de resgate de vítimas de exploração sexual ou tráfico humano. A motorista é dona de escola infantil onde a criançass estudam e foi flagrada por agentes de trânsito do país fazendo transporte de modo irregular. As imagens foram divulgadas em um site do governo do Uzbequistão, conforme investigou o Estadão.

 

Essa pauta de "combate à exploração sexual infantil no Marajó" é atrelada especialmente à ex-ministra de Jair Bolsonaro (PL). Em 2021, ela propôs o projeto “Abrace o Marajó”, que destinava verbas ao tópico e, apesar de constar como “executado”, nunca saiu do papel.

As denúncias voltaram ao debate após a cantora paraense Aymeê Rocha, ter apresentado, em um reality show de música gospel, uma canção autoral que denuncia a exploração sexual de crianças na Ilha.

Depois disso, o nome de Damares logo foi apresentado como o de uma grande defensora da comunidade, recebendo o apoio de artistas como o cantor Zezé DiCamargo e o produtor musical Felipe Duram.

O Governo Federal e a organização não governamental, Observatório do Marajó negaram as denúncias.

Ministério dos Direitos Humanos alega utilização de vídeos de forma "irresponsável" 

A disseminação de dezenas de vídeos da mesma natureza, por diversos perfis nas redes sociais, levou ao pronunciamento oficial do Governo Federal, nesta quinta-feira, 22. Em nota, o Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania enfatizou o “compromisso em não associar imagens de vulnerabilidade socioeconômica ou do próprio modo de vida das populações do Marajó, em especial crianças e adolescentes, ao contexto de exploração sexual”.

“A realidade de exploração sexual na região sabe-se preocupante e histórica, mas não autoriza sua utilização de forma irresponsável e descontextualizada. Isso apenas serve ao estigma das populações e ao agravamento de riscos sociais”, diz o texto.

E completa: “As vivências das populações tradicionais do Marajó não podem ser reduzidas à exploração sexual, já que é uma população diversa, potente em termos socioambientais e que necessita sobretudo de políticas públicas estruturantes e eficientes, com a inversão da lógica assistencialista e alienante de sua realidade e modos de vida”

A pasta ainda citou programas governamentais na região, dentre eles o “Cidadania Marajó”, de maio de 2023, voltado ao enfrentamento de situações de abuso e exploração sexual de crianças e adolescentes e á promoção de direitos humanos e a garantia de acesso a políticas públicas.

ONG Observatorio do Marajó nega denúncias e critica Damares Alves

A situação também levou ao pronunciamento da organização não governamental, Observatório do Marajó, publicado nas redes sociais e intitulado: “Não acredite em tudo o que vês na internet”.

O texto é incisivo, nega as denúncias e cita diretamente Damares Alves, alegando que enquanto ministra, ela “não destinou os recursos milionários que por diversas vezes prometeu para a região, para fortalecer comunidades escolares”.

“Ao invés disso, atentou contra a honra da população diversas vezes, espalhando mentiras, e abriu tais políticas públicas para grupos privados de São Paulo que defendem a privatização da educação pública”, diz a nota.

Segundo a ONG, a propaganda que associa o Marajó à exploração e o abuso sexual não é verdadeira. “A população marajoara não normaliza violências contra crianças e adolescentes. Insiste nessa narrativa quem quer propagá-la e desonrar o povo marajoara”.

“Muito precisa ser feito para garantir dignidade às crianças marajoaras e brasileiras em todos os estados. Em todos os níveis, e de sul a norte do país, precisamos de políticas públicas baseadas em evidências, boas práticas, saberes tradicionais, valores do bem viver - não mentiras, distorções, manipulações, pânico moral, racismo, nem de qualquer outra forma de violência”, expõe, a ONG.

A matéria foi atualizada em 26 de fevereiro, com o reforço da informação de que a senadora Damares Alves não produziu nem disseminou o vídeo citado e verificado como falso. A mudança ocorreu após solicitação da assessoria da senadora

Dúvidas, Críticas e Sugestões? Fale com a gente

Tags

damares alves ilha de marajo denuncia ministerio dos direitos humanos fake news

Os cookies nos ajudam a administrar este site. Ao usar nosso site, você concorda com nosso uso de cookies. Política de privacidade

Aceitar